Mangueira encanta com reverência à Bahia e enfatiza a força de mulheres negras

Por - 20/02/23 às 05:10

Evelyn Bastos na MangueiraWebert Belicio/AgNews

A escola de samba mais popular do país levou à Sapucaí a construção das visões da África na Bahia, por meio da musicalidade e das instituições carnavalescas negras, com destaque para o protagonismo feminino e questões como o racismo.

“Mostramos como as questões sociais que estão presentes desde o processo de escravidão e que são transformadas em carnaval, a partir dessas várias áfricas, são apresentadas com alegria a partir do carnaval”, explicou o carnavalesco Gui Estevão.

“A gente mostra exatamente essas áfricas que a Bahia recebe. A gente fala de uma África pouco abordada no carnaval, essas diferentes nações que vieram aqui pro nosso Brasil e ficaram ali em Salvador e fizeram todo esse carnaval, um grito de liberdade em forma de arte”, completou Annik Salmon, que também assina o enredo.

Ficha técnica:

Fundação: 28 de abril de 1928
Cores: verde e rosa
Presidentes de Honra: Hélio Turco
Presidente: Guanayra Firmino
Enredo: “As Áfricas Que A Bahia Canta”
Carnavalescos: Gui Estevão e Annik Salmon
Diretor de Carnaval: Amauri Wanzeler
Mestres de Bateria: Taranta Neto e Rodrigo Explosão
Rainha de Bateria: Evelyn Bastos
Intérpretes: Marquinho Art’Samba e Dowglas Diniz
Famosos: Margareth Menezes, Ailton Graça, Alcione, Rosemary, Djamila Ribeiro

O SAMBA

Os compositores Lequinho, Junior Fionda, Gabriel Machado, Guilherme Sá e Paulinho Bandolim conseguiram converter em letra e melodia o que os carnavalescos queriam sintetizar com o enredo. A obra foi considerada por críticos como uma das melhores do ano.

Confira a letra:

Oyá, oyá, oyá eô!
Ê, matamba, dona da minha nação
Filha do amanhecer, carregada no dendê
Sou eu a flecha da evolução
Sou eu, Mangueira, a flecha da evolução

Levo a cor, meu ilu é o tambor
Que tremeu Salvador, Bahia
Áfricas que recriei
Resistir é lei, arte é rebeldia

Coroada pelos cucumbis
Do quilombo às embaixadas
Com ganzás e xequerês, fundei o meu país
Pelo som dos atabaques canta meu país

Traz o padê de Exu
Pra mamãe Oxum tocar o ijexá
Rua dos afoxés
Voz dos candomblés, xirê de orixá

Deusa do ilê aiye, do gueto
Meu cabelo black, negão, coroa de preto
Não foi em vão a luta de Catendê
Sonho badauê, revolução didá
Candace de Olodum, sou debalê de Ogum
Filhos de Gandhi, paz de Oxalá

Quando a alegria invade o Pelô
É carnaval, na pele o swing da cor
O meu timbau é força e poder
Por cada mulher de arerê
Liberta o batuque do canjerê

Eparrey oya! Eparrey mainha!
Quando o verde encontra o rosa, toda preta é rainha

O samba foi morar onde o Rio é mais baiano
O samba foi morar onde o Rio é mais baiano
Reina a ginga de iaiá na ladeira
No ilê de Tia Fé, axé Mangueira!

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É jornalista formada pela Universidade Gama Filho e pós-graduada em Jornalismo Cultural e Assessoria de Imprensa pela Estácio de Sá. Ela é nosso braço firme no Rio de Janeiro e integra a equipe de OFuxico desde 2003. @flaviacirino