‘A Substância’ expõe os horrores do etarismo de forma quase literal

Por - 19/09/24 às 01:30

Cena de A SubstânciaFoto: Divulgação/Imagem Filmes

O filme “A Substância” chega envolto de uitas expectativas, pois traz no elenco as estrelas Demi Moore, Margaret Qualley e Dennis Quaid. Dirigido por Coralie Fargeat, o longa teve sua estreia mundial no Festival de Cannes, onde foi ovacionado por 11 minutos e saiu como o grande vencedor do prêmio de Melhor Roteiro, marcando também a primeira participação da atriz Demi Moore no festival.

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No Brasil, a distribuição fica por conta da MUBI e da Imagem Filmes, chegando aos cinemas em 19 de setembro. Porém, a convite da Imagem Filmes, OFuxico pode conferir o longa antes da estreia, e te conta o que esperar e se vale a pena assistir na telonas.

O filme narra a trajetória da atriz em declínio Elisabeth Sparkle, vivida por Demi Moore, que opta por experimentar uma peculiar substância: uma droga misteriosa que, à primeira vista, possui propriedades extraordinárias, conseguindo replicar células e gerar temporariamente uma versão rejuvenescida e aprimorada dela mesma.

A partir dessa decisão, surge a personagem Sue, interpretada por Margaret Qualley, trazendo consigo uma sequência de bizarros acontecimentos com consequências inimagináveis que se manifestam de forma grotesca, à medida que as personagens embarcam em uma espiral de insanidade e destruição.

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Crítica explícita ao etarismo

Cena de A Substância
“A Substância” critica perfeitamente o etarismo (Foto: Divulgação/Imagem Filmes)

Com a sinopese já denuncia, através de um tom satírico e subversivo, “A Substância” explora como o corpo feminino é objetificado e sexualizado pela sociedade patriarcal, e como as mulheres são frequentemente reduzidas a objetos de acordo com o que os homens vão enxergar de positivo. Todavia, isso vai além quando a questão da idade se torna o centro da história.

Assim, temos uma grande crítica ao etarismo no longa, que explora como quanto mais envelhecem, algo natural do ser humano, as mulheres são consideradas “menos úteis” para a sociedade, regida por homens no poder, e Elizabeth se rende a isso ao buscar uma solução para ficar “eternamente jovem”, pois ela não quer perder o status outrora conquistado, e vai assim, se render ao sistema.

Ao colocar essas experiências no centro da narrativa, o longa aborda algo intensamente revelador, explorando temas como a sexualidade, a violência de gênero e a pressão estética junto do etarismo, e apesar de acharmos rídiculo essa imposição social, entendemos porque a personagem toma essa decisão, sendo outro hábil ponto do projeto.

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Muitas vezes, por mais opressor que um sistema pode ser, é difícil lutar contra ele e reconhecer que ele faz mal, então nos vemos tomando decisões arriscadas e questionáveis, tal qual Elizabeth Sparkle e Sue no decorrer da história, que com repetem sempre, são a mesma pessoa, mesmo que cada uma aja de maneira diferente em busca do mesmo objetivo.

Direção deliciosa em um terror psicológico

Cena de A Substância
“A Substância” é um bom terror psicológico (Foto: Divulgação/Imagem Filmes)

Apesar de seu viés ativista e de crítica social, “A Substância” é muitas vezes descrito e lembrado como um terror psicológico, o que de fato o é. É quando as protagonistas estão sozinhas consigo mesmas e seus pensamentos que sentimos uma maior apreensão e uma atmofera aterrorizante é criada, e muito bem feita, por sinal, te deixando arrepiado por toda a espinha.

A direção também acerta bastante em nos deixar absorver o impacto de cada cena com o tempo necessário que cada uma precisa durar, além de saber escolher bem os takes e posições de câmera para no entregar a melhor experiência possível. Destaque ainda para a fotografia, que sabe mostrar cenas visualmente linda sem deixar de lado a história maior que vem sendo contada.

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Entretanto…

“A Substância”, porém, não é livre de defeitos. O maior deles se dá nas cena de Sue, que apesar de seu claro tom satírico, acaba sendo exagerado, e de tanto dar foco nessa sexulização da persona jovem da protagonista, como forma de criticar o olhar maculino sobre a mulher, acaba dando a sensação de estar sexualizando também, mesmo que seu objetivo seja diferente. Essa confusão acabou incomodando.

Outro ponto é que o filme parece estar estendido a mais do que deveria, e uma parcela de seus minutos finais poderia ser retirada. Isso porque ele aposta em um momento extremamente caricato e satírico, quando a personagem pedia um final mais melancólico e instrospectivo, fazendo jus ao terror psicológico que o filme é e o estudo de personagem que fez com a protagonista.

Em suma

O saldo de “A Substância” é extremamente positivo, pois apesar do detalhes mencionados, ele sabe expor sua crítica social, além de que você não o esquece facilmente, e fica horas, até dias digerindo o que assistiu e refletindo sobe seus acontecimentos, algo difícil de acontecer no cinema da atualidade.

Raphael Araujo Barboza é formado em Jornalismo na Faculdade Cásper Líbero. OFuxico foi o primeiro lugar em que começou a trabalhar. Diariamente faz um pouco de tudo, mas tem como assuntos favoritos Super-Heróis e demais assuntos da Cultura Pop (séries, filmes, músicas) e tudo que envolva a Comunidade LGBTQIA+.