‘Sexo está cada dia mais retrógado’, afirma criador do ‘Projeto Luxúria’
Por Raphael Araujo - 06/09/22 às 07:30 - Última Atualização: 5 setembro 2022
Nesta terça-feira, 06 de setembro, é comemorado o Dia do Sexo, data criada por uma marca de camisinhas para lembrar da importância de que dar atenção para a vida sexual também é um ato de se causar um bem-estar. O dia em si, a sugestividade de vermos os números 6 e 9 juntos.
Porém, o sexo ainda é um assunto tratado como tabu dentro da sociedade, seja na vida real ou em obras de ficção, conforme concordou Heitor Werneck, idealizador e curador do “Projeto Luxúria”: “O sexo está ficando cada dia mais retrógrado e tratado com preconceitos. Mesmo as pessoas recebendo orientações ou ressignificações sexuais, ainda são normativas e não entendem o corpo como expressão política, e sim o veem como uma repressão social”.
“[As pessoas estão] Procurando locais de fala, falando de aceitação, mas não se colocando no local de amor-próprio e muitas vezes não conseguindo amar o próximo, vendo o próximo como um inimigo em potencial, principalmente ao corpo”, afirmou ele.
Heitor ainda citou como isso afeta as produções audiovisuais da atualidade: “As séries atuais estão muito mais inclusivas que a sociedade atual. Casamentos intersexuais e ou interraciais são mais tratados com naturalidade na TV e cinema que a vida real”, disse ele, que ressalta como o público enxerga isso.
“O sexo sempre e tratado com preconceito ou como força apelativa… E muitas vezes, aos olhos de quem é reprimido, ele se torna mais ofensivo só por ele ser mostrado. O sexo incomoda sempre… por exemplo todos veem atores e atrizes pornôs ou pessoas que criam conteúdo, mas poucos tem coragem de chamar eles para um jantar de Natal e na família….”
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COMO ABORDAR O SEXO NO AUDIOVISUAL
Heitor Werneck, que também atua no cinema, séries e TV como diretor, consultor e produtor de arte (com destaque para “Madrake” e “Psi”, da HBO, e “Bom dia Verônica”, da Netflix), contou como é possível os atores criarem químicas para seus personagens:
“Nas séries, a química nem sempre acontece e Às vezes se mostram ‘mecânicas’. Temos atores que se identificam tanto em um set ou palco que casam e se tornam ícones, como Tarcísio Meira e Glória Menezes, Brad Pitt e Angelina Jolie por exemplo…, mas não são todos que expressam estas técnicas e verdades sexuais”, pontuou o profissional.
Em relação à preparação dos artistas, ele contou: “Atores em cenários sexuais sempre tem que ter laboratórios e acompanhamentos ou vivências. Quando se fala de sadomasoquismo, há muitas conversas e cada vez mais [isso acontece], pois qualquer ato pode gerar um olhar preconceituoso ou abusivo neste mundo fechado, graças às redes sociais e ou limitado ao que essa classe teatral reflete muito bem, pois ela mesmo abriga profissionais que preconceituam arte em performance erótica e muitas vezes preconceituam artistas pornô”.
O profissional então citou “sexo como poder” e falou de “Game of Thrones”, série cujas ceas de sexo são bem comentadas: “Sexo sempre foi poder! Freud retrata sexo como instrumentos de poder. Uma pessoa penetrando na outra, órgãos entrando… O desafio entregado atualmente é poder continuar com as explosões de sexualidade que envolvem a todos sem serem moralistas”
“‘Game of Thrones’ não mostrava afeminados e nem pessoas trans, e elas sempre existiram… O máximo que existia era uma bissexualidade [não trabalhada]”, exemplificou, antes de falar de “A Casa do Dragão”, série derivada: “Acredito que o autor vai continuar sim, com estas relações de sexo e poder”.
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EXEMPLOS MARCANTES E DIFERENCIADOS
Por fim, Heitor Werneck comentou sobre alguns exemplos marcantes de séries que abordaram sexo na trama de uma visão diferenciada, como em “Sense 8”, que segundo o estilista, “mostra cenas de sexo coletivo com arte e erotismo e muitos caretas e conservadores entenderam o contexto do conectar ali”.
“O sexo sempre tem a ver com arte até quando é um tabu. Executamos zoofilia, e eu particularmente odeio, mas amo o rapto de Ganimedes […] acho que sexo mostrado com arte é uma forma de reeducar e despertar o erótico interno”, declarou ele.
Por fim, o profissional comentou sobre abordar sexo em temas mais delicados da história, como em abusos sexuais: “’Bom dia Verônica’ mostra um sociopata. E infelizmente, para alguns dos escritores, sexo e sociopatia caminham juntos”.
“Veja hit Chocock, que sempre coloca trans como assassinas. Escritores são moralistas e os intelectuais de cinema publicidade aqui no país são muitos moralistas e preconceituosos. Nos anos 80 tivemos mais aberturas sexuais, como em ‘Império dos Sentidos’ por exemplo, do que hoje em dia”, concluiu Heitor Werneck.
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Raphael Araujo Barboza é formado em Jornalismo na Faculdade Cásper Líbero. OFuxico foi o primeiro lugar em que começou a trabalhar. Diariamente faz um pouco de tudo, mas tem como assuntos favoritos Super-Heróis e demais assuntos da Cultura Pop (séries, filmes, músicas) e tudo que envolva a Comunidade LGBTQIA+.