Empresária no ramo da limpeza nos Estados Unidos, Mila Garro explica como o trabalho no país é diferente do Brasil
Por Redação - 03/07/21 às 04:00 - Última Atualização: 2 julho 2021
Nas últimas semanas, a influencer e ex-bbb Adriana Sant’Anna causou uma enorme polêmica ao reclamar em seu Instagram que não conseguia encontrar nos Estados Unidos, país em que mora atualmente, uma profissional que realizasse todo seu serviço doméstico, incluindo a limpeza da casa, o cuidado com filhos e a lavagem e passagem de roupas. Além disso, Adriana também se queixou do valor requisitado para a prática no país, alegando que no Brasil era muito mais barato encontra alguém para realizar as tarefas.
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No entanto, o ramo da limpeza doméstica – e também corporativa – no país norte-americano é bastante diferente do cenário brasileiro. Lá, as funções não se misturam, e tampouco o serviço é barato. Mila Garro, CEO da empresa “Fiv5 Star Cleaning“, que atua na área da limpeza de casas e empresas nos Estados Unidos com vários profissionais em sua equipe, explicou um pouco mais sobre o assunto durante entrevista com OFuxico.
“É completamente diferente do Brasil. Aqui as pessoas não trabalham normalmente com vínculo empregatício, é muito comum a contratação por subcontrato, então os combinados são feitos entre contratante e contratado. Não existe uma regra quanto aos contratos, podem ser por hora, pode ser fixo, enfim… são infinitas as possibilidades.“, relata a empresária.
“Quando um brasileiro contrata um serviço de limpeza nos EUA, normalmente em um primeiro contato com o país, há um choque cultural absurdo. São pessoas que não entenderam ainda a diferença cultural, a forma de trabalho, a remuneração, o não acúmulo de funções, como acontece no Brasil, e isso é reflexo do que estão acostumados. No Brasil é muito comum ver empregadas domésticas que cuidam das crianças, que fazem comida, que passam roupa, enfim, que exercem muitas funções dentro de uma, mas aqui as coisas não são assim. Então é uma boa pauta para uma discussão sobre como é visto e tratado uma profissional da limpeza no Brasil.“, completa Mila sobre as diferentes realidades.
No Brasil, a limpeza doméstica de casas é muitas vezes vista como um trabalho informal, não reconhecido e sem a concessão dos devidos direitos trabalhistas. Como uma herança colonialista da nação, mulheres (na maioria dos casos de baixa renda e em situações de vulnerabilidade), muitas vezes acabam trabalhando em lares de classe média alta em que desempenham diferentes funções, até mesmo criando um vínculo com a família, porém sem serem vistas como profissionais atuantes e não recebendo remunerações justas por suas jornadas. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), dados de 2019 apontam que 72,5% do trabalho informal do Brasil se concentra em serviços domésticos. Sobre isto, Mila destaca as diferenças com o ramo nos Estados Unidos:
“Não, isso de forma alguma acontece aqui. Aqui somos bem remunerados e valorizados pelo serviço essencial que prestamos, e a grande maioria reconhece isso”., afirma.
Ela, que nasceu em Paracatu, Minas Gerais, foi morar na famosa terra do Tio Sam em 2007, e após alguns anos trabalhando na área da limpeza, montou seu próprio negócio dentro do ramo.
“Meu início não foi fácil. O início no ramo da limpeza foi difícil como qualquer coisa que você faz pela primeira vez, e eu tive muita dificuldade de encontrar pessoas que compartilhassem conhecimento, poucas pessoas tinham a paciência e disponibilidade de ensinar, além da dificuldade com a língua ,demorei cerca de 3 anos para aprender a me virar sozinha com a diferença cultural . O meu primeiro trabalho foi com um casal, em que eles limpavam cerca de 8 a 10 casas por dia e eu ganhava 15 dólares por casa, em uma jornada de 6 am as 9pm. Até que em com uma conversa com uma amiga, ela me disse que as coisas não eram assim, e então eu saí. Em uma segunda oportunidade eu aprendi muitas coisas, entretanto financeiramente eu não me sentia realizada, e resolvi tentar outros caminhos, foi quando eu entrei para uma padaria. Mas todos os caminhos que eu seguia me levavam para o ramo da limpeza, e foi aí que eu tive a oportunidade com uma dona de schedule (que é a dona da cartela de clientes), em que ela me ensinou de fato a limpeza dos EUA e me mostrou que era uma profissão digna de uma remuneração justa. Fiquei com ela um tempo, depois trabalhei com uma outra pessoa que estava vendendo a sua cartela de clientes, e eu comprei, e comecei o meu negócio. E aí em 2 anos eu contava com meu primeiro schedule – que é este perfil de clientes já relacionados com sua empresa-, e em 5 anos já havia 10 funcionárias e em 10 anos eu tenho 36 funcionários e mais de 800 clientes em Charlotte NC , além de que agora estou em expansão para Miami.“
A CEO também compartilhou algumas das experiências que vivenciou e ouviu por meio de outros brasileiros durante os anos em que está nesta área profissional, ressaltando mais uma vez as diferenças do trabalho com a limpeza no Brasil e nos Estados Unidos.
“Normalmente quando encontramos brasileiros que trabalham nesse ramo, as histórias são diversas, mas a maioria deles são muito satisfeitos e gratos com as condições e oportunidade que o ramo da limpeza proporcionou. O assunto é sempre o mesmo, como é diferente o reconhecimento dos profissionais de limpeza nos EUA e no Brasil, como é possível garantir uma excelente qualidade de vida, a possibilidade de aquisição de coisas inimagináveis.“, alega Mila.
Já sobre a faixa de preços, Garro também explicou um pouco como o mercado do ramo se aplica nos EUA, abordando como a diferente arquitetura e modelos dos imóveis norte-americanos influencia em uma atuação prática distinta da brasileira:
“É realmente diferente a limpeza de casas americanas e casas brasileiras. As casas americanas normalmente são mais limpas, porque passam muito tempo fechadas por causa do ar-condicionado, então consequentemente sujam menos. A rotina de limpeza, ou seja a frequência, é completamente diferente, é muito raro encontrar pessoas que trabalham em uma só casa todos os dias, são limpezas semanais, a cada 15 dias, 1 vez no mês, coisa que não vimos muito no Brasil. Aqui nos EUA temos muitas opções de equipamentos e produtos, é realmente impressionante, e usamos muito disso na limpeza, é muito menos água e muito mais produtos, talvez esse seja o maior diferencial. Já sobre os preços posso dar um exemplo, uma casa com 2000 “square feet”, que seria 200 metros quadrados no Brasil, com 3 quartos, 2,5 banheiros, custa em média $130-$150 a limpeza, com 2 pessoas na equipe, entre 2-3 horas de trabalho.“
Atualmente, Mila também ministra um curso para outras pessoas que querem aprender a atuar e empreender no mundo da limpeza nos Estados Unidos.
Confira o Instagram da “Fiv5 Star Cleaning” clicando aqui.
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