Adeus brega! Falcão muda tudo e revive MPB com Fagner

Por - 05/12/2025 - 12:28

Fagner e Falcão gravam sucesso da MPBFagner e Falcão gravam sucesso da MPB

“Sempre gostei muito”. A frase, dita por Falcão logo no início da conversa exclusiva com OFuxico, já sinaliza o tom da reinvenção que guia sua nova fase. O cantor, que se tornou símbolo do brega irreverente e das letras escrachadas, agora mergulha de cabeça na MPB. Assim resgata influências antigas e recuperando um desejo adormecido desde a adolescência.

Falcão já gravou música inédita dos Mamonas Assassinas

E a mudança não fica só no som: ela alcança visual, repertório e até a forma como se coloca no mercado. Além disso, Falcão agora conta com parcerias de peso, como Fagner, que não apenas canta com ele como também produz o álbum.

Falcão já teve a própria marca de cerveja

O papo começa com uma lembrança da repórter: desde 2017, 2018, Falcão repetia em entrevistas que, apesar do rótulo, sempre teve quedinha pelo rock. Ele confirma rindo e puxa uma memória curiosa.

“Pois é, sempre gostei muito e inclusive nos anos 90, não sei qual foi o CD meu, se isso foi 96, eu fiz um CD chamado ‘A um passo da MPB’. Olha só os sinais da vida.”

O título, que na época pareceu apenas uma brincadeira, hoje soa como uma senha. Enquanto as músicas de humor ganharam mais holofote, Falcão seguiu construindo repertórios permeados por rock e MPB. Ele conta que planejava gravar um álbum no estilo de sempre, até conversar com o renomado produtor Rick Bonadio.

“Ele disse: Rapaz, é o seguinte, cara, tá tão ruim a música, tá num marasmo tão grande, se você lançar uma coisa ruim, entre aspas, não vai ter nenhum destaque. O destaque vai ser se você lançar uma coisa boa.”

O conselho logo o sacudiu: “Aí eu me toquei que era mesmo, isso é a verdade.”

A parceria que sempre deu certo

A partir daí, tudo ganhou outro rumo. O encontro com Fagner, amigo desde os anos 90, selou o caminho da mudança. O artista lembra que o conterrâneo já tinha produzido três álbuns seus na gravadora BMG.

“Ele que é o responsável só por eu ter ido para a BMG”, conta. “Aquele segundo disco, ‘O dinheiro não é tudo mais é 100%’, foi ele. E depois produziu mais dois.”

Mudança também no look

Falcão contou que eles já mirava na MPB que, na época, não ganhou tanto destaque quanto o brega. Agora, porém, o cenário mudou. E mudou também a imagem do cantor, que deixa para trás o visual colorido e extravagante que marcou décadas.

Mas ele avisa: isso não acontece de uma hora para outra. “Eu tô tirando devagar, né? Não pode ser de uma vez não, porque o pessoal vai estranhar.” Aos poucos, algumas peças saem, outras entram, e o armário começa a ganhar novos tons.

De repente vou aparecer um novo Falcão aí, quem sabe uma coisa assim mais Fábio Júnior, Caetano Veloso”.

A mudança não veio apenas por decisão estética. Ele reconhece influência da mulher e produtora, Lílian, e admite que já sentia vontade de “desembregar, descafonizar”, como define.

A orientação de Rick Bonadio completou esse impulso. “A gente chegou à conclusão que agora, para o nosso disco, ele tem que ter um riso também mais nesse sentido aí, tirar o cafonagem um pouco de lado.”

A força dos influenciadores

Enquanto isso, o mundo do entretenimento passa por outra transformação: a força dos influenciadores. Falcão observa o fenômeno com humor, lembrando que entrou cedo nas redes.

Fãs já homenagearam Falcão com tatuagem

“Eu até me intitulei de ‘fuleragem influencer’. Sempre gostei da internet e essa adaptação aconteceu de forma natural. Ainda que o mercado fonográfico esteja boiando, sem saber para onde vai”.

Com a expansão das plataformas de streaming, Falcão sente um respiro melhor para compositores e intérpretes, embora reconheça que compor hoje exige outra abordagem.

Músicas como homem é homem, menina é menina, viado é viado não tem mais condição …”

Em seguida, Falcão destacou que já viveu situações delicadas ao cantar o hit mais famoso. “Em uma apresentação em Campinas, um casal de mulheres saiu do show durante o refrão. Eu entendi o desconforto, mas segui em frente. Faz parte.”

Releitura de sucesso de 1979

A conversa avançou para “Beleza”, música que o uniu novamente a Fagner. O clássico de 1979 sempre o encantou: “Eu sempre fui muito fã do Fagner.” Escolher a faixa pareceu natural, e ele recordou a reação do amigo depois de ouvir a nova versão.

“O Fagner adorou e disse: ‘Agora eu vou ter que botar a voz aí para poder dobrar uma voz para ficar mais legal’”.

Falcão contou que o resultado chegou a confundir os dois: há momentos, inclusive, em que nem ele mesmo sabe quem está cantando. “Ficou bom. Ficou legal, ficou muito interessante”, disse, modesto.

Falcão e Fagner
Fagner já produziu discos de Falcão – Foto: Divulgação

Recomeço e reencontro

O artista trata essa fase como um recomeço, mas também como um reencontro com o adolescente que sonhava com a MPB. “No fundo eu sempre tive uma vontade de fazer uma coisa…”, conta. E reforça: mesmo nas músicas de humor, ele sempre puxou algo mais “intelectualizado”.

Falcão escreveu livro sobre seu perfil no Twitter

Quando lembra de suas influências, o caminho volta ao Ceará. Ele cita Zé Ramalho, Alceu, Geraldo Azevedo, Lenine, Raul Seixas e até Roberto Carlos, ídolo da infância. Depois, fala da chegada a Fortaleza aos 11 anos e da descoberta dos baianos da Tropicália, que moldaram seu repertório.

O novo álbum, aliás, homenageia parte desse universo: inclui Elba Ramalho, Chico César, Sérgio Britto (Titãs) e até Capimã, de quem gravou uma faixa inédita.

O lançamento de “Beleza” acontece neste sábado, 06 de Dezembro, no “Caldeirão. O álbum completo, contudo, chega somente no início do ano. Até lá, ele observa a reação do público à nova fase, sabendo que parte da plateia ainda espera o antigo Falcão.

“O pessoal vai pedir”, admite. “Não vou abandonar completamente o passado. Vou equilibrar. Tem que ter um girassolzão no paletó e o ‘I’m not dog no’”, brinca.

Quem inspira Falcão?

No fim, a conversa mudou para os gostos pessoais. Ele evitou rótulos e citou Luiz Gonzaga: “A música, sendo boa, escute.” O artista enfatizou que busca novidades, motivo pelo qual vasculha o Brasil profundo e valoriza artistas que não chegam à grande mídia.

“Eu tinha um quadro no meu canal no YouTube, ‘Na Rede com Falcão’, onde compartilhava descobertas. Tinha desde talentos promissores até ‘a música que ninguém pediu'”.

Receba as notícias de OFuxico no seu celular!

Sempre irreverente, Falcão teve uma ideia: “Eu acho que vou fazer o próximo álbum… só as músicas que ninguém pediu”, disse, aos risos.

E assim Falcão segue, reinventado, divertido, afiado e, como sempre, inesperado. Uma virada que reúne passado, humor, maturidade e, sobretudo, paixão pela música — agora com o coração totalmente voltado para a MPB.

Tags:

É jornalista formada pela Universidade Gama Filho e pós-graduada em Jornalismo Cultural e Assessoria de Imprensa pela Estácio de Sá. Ela é nosso braço firme no Rio de Janeiro e integra a equipe de OFuxico desde 2003. @flaviacirino