MP denuncia Duílio e agita bastidores do Corinthians
Por Flavia Cirino - 16/12/2025 - 06:52

O noticiário político do Corinthians voltou a ganhar contornos delicados e barulhentos. O Ministério Público de São Paulo apresentou denúncia contra Duílio Monteiro Alves, presidente do clube entre 2021 e 2023, sob acusação de apropriação indébita envolvendo o uso de cartões corporativos da instituição.
O caso, que já vinha incomodando conselheiros e torcedores atentos aos bastidores, agora entra em uma nova fase, com consequências jurídicas diretas para o ex-dirigente.
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Além de Duílio, o MP-SP incluiu no mesmo pedido Roberto Gavioli, ex-diretor financeiro do Corinthians, apontado por omissão no controle e fiscalização das despesas. A Promotoria sustenta que valores pagos com recursos do clube não tinham qualquer ligação com atividades institucionais, esportivas ou administrativas do Parque São Jorge.
De acordo com o promotor Cássio Roberto Conserino, Duílio teria utilizado aproximadamente R$ 41.822,62 em gastos considerados incompatíveis com a função exercida. Entre as despesas bancadas pelo Corinthians aparecem restaurantes, compras em free shops e até serviços de cabeleireiro. Diante desse cenário, o Ministério Público solicitou à Justiça que o ex-presidente indenize o clube em cerca de R$ 31 mil por danos materiais.
Gastos suspeitos e pedidos da Promotoria
O avanço da denúncia não se limita à esfera financeira. O MP-SP pediu uma série de medidas cautelares contra Duílio Monteiro Alves. Entre elas, a proibição de acesso às dependências do Corinthians, o impedimento de contato com testemunhas e dirigentes, a suspensão de qualquer função associativa e a restrição de saída do País sem autorização judicial.
Além disso, a Promotoria solicitou a quebra do sigilo bancário do ex-presidente, medida que amplia o alcance das investigações.
O episódio ganha ainda mais peso porque não se trata de um caso isolado. O próprio Ministério Público já ofereceu denúncia contra Andrés Sanchez, ex-presidente do clube, também por apropriação indébita e lavagem de dinheiro, no mesmo contexto envolvendo cartões corporativos. Roberto Gavioli, novamente, aparece citado por omissão no controle dessas operações.
A apuração teve início em agosto, após reportagem do GE revelar movimentações financeiras consideradas fora do padrão durante a gestão de Duílio. Um dos episódios mais emblemáticos citados na investigação ocorreu na última semana de outubro de 2023, quando o Corinthians desembolsou R$ 32,5 mil no Oliveira Minimercado.
a promotoria, o endereço informado não apresentava “qualquer comércio ou resquício de comércio”, o que levantou fortes suspeitas sobre a operação.
A lista de despesas chama atenção pelo nível de detalhamento e pela ausência de vínculo com a rotina do clube. Aparecem registros de compras de cerveja, picanha, sorvete, frutas, legumes, produtos de limpeza, pizzas, peixes, doces, isqueiros, flores, ração animal, bijuterias femininas e até um cachorro de pelúcia.
À época, Duílio se manifestou publicamente sobre o assunto e afirmou: “Supostas planilhas e faturas da minha gestão, divulgadas em perfis anônimos com objetivo político de assassinar reputações nas redes sociais, requeri ao clube acesso a tais documentos, a fim de que pudesse checar sua veracidade.”
Crise política amplia turbulência no Corinthians
A controvérsia envolvendo cartões corporativos já havia ganhado repercussão semanas antes, em junho, quando faturas vazaram nas redes sociais. Na ocasião, Andrés Sanchez reconheceu o uso indevido do cartão do clube durante uma viagem de Réveillon entre o fim de 2020 e o início de 2021.
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De acordo com ele, houve confusão com o cartão pessoal. O gasto somou R$ 9.416, e o ex-presidente afirmou ter ressarcido o Corinthians com um pagamento de R$ 15 mil.
Enquanto isso, a crise institucional se aprofundava. Em 19 de julho, o clube registrou boletim de ocorrência após constatar o desaparecimento de registros de controle de despesas. A ausência dos documentos surgiu depois que Romeu Tuma Jr., presidente do Conselho Deliberativo, determinou a preservação de toda a documentação financeira dos últimos sete anos.
Cadê os papéis?
Internamente, a diretoria passou a trabalhar com a hipótese de que os papéis tenham sido subtraídos durante os incidentes de 31 de maio. Na ocasião, Augusto Melo, então presidente afastado, apareceu no Parque São Jorge reivindicando o cargo.
Ele se baseava em uma decisão da 1ª Secretária do Conselho Deliberativo, Maria Angela de Sousa Ocampos. Ela cancelou a reunião responsável por dar andamento ao processo de impeachment.
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O episódio terminou em confusão generalizada. A sede do clube virou palco de tumulto, e o Batalhão de Choque da Polícia Militar precisou intervir. Mesmo assim, os argumentos apresentados por Augusto não encontraram respaldo estatutário, e Osmar Stabile permaneceu como presidente interino.
Paralelamente, Augusto Melo também passou a responder judicialmente. O Ministério Público o denunciou por lavagem de dinheiro, furto qualificado pelo abuso de confiança e organização criminosa, acusações ligadas ao inquérito policial do Caso Vai de Bet.
O dirigente nega todas as imputações e, por meio da defesa, apresentou pedido de rejeição sumária da denúncia, alegando “nulidades processuais, direcionamento indevido da investigação e incompetência material”.
O cenário, portanto, segue carregado. Entre denúncias, disputas políticas e investigações em curso, o Corinthians vê sua história recente novamente atravessada por conflitos fora das quatro linhas, em um enredo que mantém o torcedor atento, inquieto e cada vez mais exigente com os rumos administrativos do clube.
É jornalista formada pela Universidade Gama Filho e pós-graduada em Jornalismo Cultural e Assessoria de Imprensa pela Estácio de Sá. Ela é nosso braço firme no Rio de Janeiro e integra a equipe de OFuxico desde 2003. @flaviacirino
























