Elliot Page abre o coração em biografia. Confira trechos!

Por - 07/08/23 às 08:38

Biografia Elliot PageElliot Page revela em sua biografia que sua maor identificação era com o personagem E.T,, de Steven Spielberg - Foto: Reprodução/ Instagram @ellotpage e Divulggação

Conhecido por sua atuação em filmes como “Juno” e “A Origem”, Elliot Page acaba de lançar “Pageboy”, uma autobiografia sobre os conflitos e pressões do processo de transição. Em entrevista ao “Fantástico”, o ator destacou os preconceitos que viveu e enfatizou a realização que sente atualmente por estar em paz com o próprio corpo.

“Desde que eu era criança eu me sentia diferente. Minhas primeiras memórias são sobre essa confusão estranha entre como eu me percebia e como as pessoas me viam. Escrever essa biografia deixou tudo isso mais claro”, afirmou Page.

O ator contou que já na infância, pedia que seu cabelo estivesse sempre bem curto. Elliot destacou que sofreu muito quando fez testes para o filme “Menina Má.com”, a produção mandou crescer o cabelo.

Apesar de ter a presença em tapetes vermelhos cada vez mais frequente, Elliot não conseguia nem assistir suas personagens, como a arquiteta de sonhos em “A Origem”. Ele acordava com ataques de pânico e depressão.

“Eu de alguma forma sempre canalizei o meu desconforto nos personagens.”

Na entrevista, Page contou ainda que sua maior identificação era com o filme “E.T – O Extraterreste” (1982). de Steven Spielberg: “Eu me identificava com o Elliot do filme, com o coração e a sensibilidade dele porque eu me sentia muito sozinho. O filme também fala sobre amizade entre um humano e um alien e essa cumplicidade deles me tocou porque era um acolhimento desse que eu precisava”.

O livro narra, entre outros fatos vividos por ele, o bullying contra quem era forçado a entrar no banheiro masculino. Em um trecho, ela destaca: “Precisava evitar meu reflexo, não conseguia olhar fotos, porque o que via nunca era eu de verdade. Aquilo estava me adoecendo”.

A TRANSIÇÃO

Em dezembro de 2020, Elliot Page anunciou que é um homem trans. O saldo entre aprovações e cancelamentos foi de quase meio milhão de novos seguidores. Milhões de corações, mas, também, de transfobia.

“O ódio não me deixou chocado, só que houve momentos mais desconfortáveis. Eu ficava pensando se as pessoas acolhedoras, por exemplo, em festa, realmente me aceitavam dentro das cabeças delas”, disse.

CONFIRA TRECHOS DO LIVRO

A decisão de relatar as memórias
“Durante muitos anos pensei em escrever um livro, mas nunca pareceu o momento certo e, para ser sincero, não parecia algo possível. Eu mal conseguia ficar sentado quieto, muito menos permanecer assim por tempo suficiente para concluir uma tarefa dessas”.

“A energia de meu cérebro estava se esvaindo num pinga-pinga infindável enquanto tentava lidar com meu desconforto e controlá-lo. Mas agora é diferente. Enfim consigo ficar sozinho comigo mesmo, neste corpo, presente… digitando por horas, meu cachorro Mo relaxando ao sol, minhas costas mais retas, minha mente mais calma”.

Haters
“Esse nível de contentamento não seria possível sem os tratamentos médicos que recebi, e, à medida que aumentam os ataques contra os cuidados afirmadores de gênero, junto aos esforços de pessoas cisgêneras para nos silenciar, senti que era o momento ideal para colocar em palavras o que eu sentia”.

“Então aqui estou eu, grato e apavorado, escrevendo em especial para você que está lendo. Pessoas trans são alvo de violência física crescente e nossa humanidade é “debatida” na mídia. E, quando temos a oportunidade de contar nossa história, narrativas queer são com frequência editadas, ou pior, universalizadas: uma única pessoa se torna porta-voz da verdade. Há infinitas maneiras de ser uma pessoa queer e de ser trans, e minha história diz respeito apenas a uma delas”.

Ajuda a outras pessoas trans e queer
Como digo mais à frente neste livro, não somos nada além de um pontinho no universo, e espero que, ao contar minha história, eu consiga fazer com que ela contribua com o combate à desinformação sobre vidas trans e queer”.

“Sugiro que você procure outras dentre as extensas e variadas narrativas de autores, ativistas e pessoas LGBTQIA+, caso ainda não o tenha feito. O movimento para a libertação de pessoas trans afeta a todos nós. Todo mundo passa por euforia e opressão de gênero de maneiras diferentes. Como Leslie Feinberg escreve em Trans Liberation: Beyond Pink or Blue [Libertação trans: além do rosa ou do azul], “esse movimento lhe dará mais espaço para respirar — para ser você. Para descobrir verdadeiramente o que significa ser você”.

Nome morto
“Para escrever esta história, tentei ao máximo me recordar de cada momento de minha transição. Quando não consegui me lembrar dos detalhes, consultei outras pessoas que passaram pela mesma experiência para elucidar melhor as coisas. Alguns nomes foram mudados e informações específicas foram alteradas para proteger a identidade de certas pessoas”.

“Em alguns momentos, usei meu nome morto[*] e os antigos pronomes de tratamento para falar sobre mim, apenas em ocasiões anteriores à transição. Tomei essa decisão porque pareceu o mais adequado para mim, mas não é um convite ou uma autorização para que você também o faça. É importante ter em mente que, ainda que em minha vida identidade de gênero e sexualidade sempre tenham dialogado, são coisas distintas”.

“Me afirmar como lésbica e me afirmar como trans foram experiências completamente diferentes, e cresci muito depois de me libertar da expectativa alheia. Estas memórias formam uma narrativa não linear porque ser queer é intrinsecamente não linear, são jornadas que convergem e dialogam entre si. Dois passos para a frente, um passo para trás”.

Passei parte de minha vida em busca da verdade, ao mesmo tempo que estava morrendo de medo de desmoronar. Isso se revela em minha escrita de maneira intencional. De várias formas, este livro é a história de minha autodescoberta.

O ato de escrever, ler e compartilhar a multiplicidade de nossa experiência é um passo importante para lutar e resistir contra aqueles que querem nos silenciar. Não tenho nada profundo a dizer, nada que já não tenha sido dito antes. Mas os livros me ajudaram, até me salvaram, então talvez este aqui possa ajudar alguém a se sentir menos só, a se sentir visível, não importa quem esse alguém seja ou qual seja sua jornada. Obrigado por ler sobre a minha”.

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É jornalista formada pela Universidade Gama Filho e pós-graduada em Jornalismo Cultural e Assessoria de Imprensa pela Estácio de Sá. Ela é nosso braço firme no Rio de Janeiro e integra a equipe de OFuxico desde 2003. @flaviacirino