Liniker chora ao tomar posse na Academia Brasileira de Cultura: ‘Primeira travesti e não quero ser a única’
Por Flavia Cirino - 15/11/23 às 09:20
Mais um pioneirismo, mais uma conquista, mais uma luta que leva à reflexão. Na noite de terça-feira,14 de novembro, Liniker se tornou imortal e passou ocupar a cadeira número 51 na Academia Brasileira de Cultura (ABC). É a primeira travesti na Academia.
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Em uma comovente cerimônia realizada na Fundação Cesgranrio, no Rio Comprido, Zona Norte do Rio de Janeiro, a cantora e compositora natural de Araraquara, no interior de São Paulo, não conteve as lágrimas.
Aplaudida de pé, Liniker – que na abertura do evento cantou o Hino Nacional com Daniela Mercury, à capela – ressaltou a criação e dedicou o momento à sua mãe, que estava presente.
“Sinto que estou tendo a formatura que eu pude escolher. Venho de uma cidade chamada Araraquara. Criada por Angela Maria de Barros, uma mulher que me ensinou a sonhar. Antes de eu nascer ela me queria. Ela sabia o que ela teria. Venho de uma família de artistas pretos, de musicistas. O samba me deu espaço, me deu berço e fico feliz de ter tido as melhores aulas no quintal da minha casa”, disse a acadêmica.
Cadeira pertenceu a Elza Soares
A cadeira 51 pertencia à saudosa Elza Soares, que morreu em 2022, aos 91 anos. Liniker é a primeira travesti a ocupar um lugar na Academia Brasileira de Cultura, um marco e uma reparação histórica. A artista ressaltou que pretende não ser a única.
“Assumir esse lugar, a cadeira 51, que foi de Elza Soares, nossa eterna voz, no Brasil em que vivemos, com os recortes que perpassam meu corpo, é surreal e gigantesco. Nunca achei que seria possível ser considerada assim, por não imaginar mesmo, por ser distante. E espero que não pare por aqui, que venham outras travestis, trans, pessoas como eu”, enfatizou.
“Aqui vemos a história sendo escrita junto a um mar de novas possibilidades que se abrem para tantas pessoas no Brasil. Nós estamos aqui e nós existimos“.
Vale destacar que Liniker também foi a primeira artista trans a vencer um Grammy Latino, na categoria “Melhor Álbum de Música Popular Brasileira” com o projeto Indigo Borboleta Anil.
É jornalista formada pela Universidade Gama Filho e pós-graduada em Jornalismo Cultural e Assessoria de Imprensa pela Estácio de Sá. Ela é nosso braço firme no Rio de Janeiro e integra a equipe de OFuxico desde 2003. @flaviacirino