Morre Jards Macalé, o ‘anjo torto da MPB’

Por - 18/11/2025 - 07:03

Morre Jards MacaléJards Macalé fez grandes obras na MPB - Foto: Divulgação

Jards Macalé morreu aos 82 anos, no Rio de Janeiro. A informação saiu em nota publicada nas redes do artista e confirmada pelo hospital. Conforme o comunicado, ele acordou após uma cirurgia cantando “Meu Nome é Gal”, gesto que resume a energia que carregou até os últimos momentos.

De acordo com o boletim, o músico faleceu por choque séptico e insuficiência renal.

Macalé estava internado desde o início de novembro. Ele tratava uma pneumonia e passou por um procedimento cirúrgico na semana anterior. A saúde fragilizada exigiu atenção constante, embora amigos próximos mantivessem a esperança de recuperação. A confirmação da morte gerou comoção imediata.

Jards Macalé chegou a ficar internado em 2018. Relembre!

O velório acontece nesta terça-feira, 18 de novembro, a partir das 10h, no Palácio Gustavo Capanema, no Centro do Rio. Artistas, fãs e profissionais da área cultural se mobilizam para prestar homenagens. Marcelo Adnet lamentou a perda com “Ah, não. Vai fazer muita falta”. Maria Bethânia reagiu com “Meu Deus!”, em sinal de choque e afeto. Amigas antigas, referências, parceiros e admiradores passaram a relembrar a força criativa de Macalé.

A trajetória que moldou uma era

Nascido na Tijuca, em 1943, Jards Anet da Silva ganhou o apelido Macalé ainda menino, quando se mudou para Ipanema, na Zona Sul. A brincadeira, inspirada no pior jogador do Botafogo à época, virou marca definitiva.

A carreira começou nos anos 1960. Ele frequentava restaurantes e bares onde circulavam Vinicius de Moraes e Grande Otelo, amizades que ampliaram seu alcance.

O início artístico se deu entre rodas de samba, espaços boêmios e o cenário efervescente da zona sul carioca. Foi ali que se conectou com poetas e músicos como Torquato Neto e Waly Salomão, figuras essenciais no desenho de sua obra. Essas relações definiram o tom experimental que sempre marcou sua produção.

Jards Macalé viveu momentos cruciais ao lado de Caetano Veloso. Em 1971, assinou a direção musical do disco “Transa”, gravado em Londres durante o exílio do baiano. Além do violão preciso, ele ajudou Caetano a atravessar uma fase sombria. O resultado se transformou em um dos álbuns mais cultuados do período.

No mesmo ano, Gal Costa colocou músicas de Macalé no histórico show “Fa-Tal”. O repertório ganhou “Vapor Barato”, “Mal Secreto” e “Hotel das Estrelas”. Parcerias que se tornaram parte essencial da MPB. Em 1972, o artista lançou seu disco mais conhecido, homônimo, que ampliou sua projeção nacional com faixas como “Farinha do Desprezo” e “Movimento dos Barcos”, feitas com Capinam.

Fora dos padrões

Reconhecido como “anjo torto da MPB”, Jards Macalé recusava padrões, acima de tudo. Ele combinava rock, samba, blues e poesia, sem amarras comerciais. Em 2023, comentou essa fama e relatou a permanência em um “purgatório” musical, onde a classificação de “difícil” impediu gravações durante anos. Mesmo assim, insistiu. Sua obra sempre dialogou com públicos diversos.

Além da música, Jards trabalhou como diretor musical e criou trilhas para filmes importantes, como “Macunaíma”, de 1969. Esteve também entre os artistas que se apresentaram na posse presidencial de 2023. No mesmo ano, inclusive, lançou o disco “Coração Bifurcardo”, dedicado a Gal Costa. Desse modo, para a turnê, formou uma banda só com mulheres, batizada “As Macaléias”.

Receba as notícias de OFuxico no seu celular!

Nos palcos, manteve agenda ativa. Em suas últimas apresentações, por exemplo, ele cantou no SESC Pinheiros em outubro, ao lado de Joyce Moreno. Em seguida, passou também pelo Farol Santander, em Porto Alegre, e pelo festival Uma Doce Maravilha, no Rio. Tinha shows marcados para dezembro no Rio, o que assim reforça a vitalidade artística que sustentou por décadas.

Tags:

É jornalista formada pela Universidade Gama Filho e pós-graduada em Jornalismo Cultural e Assessoria de Imprensa pela Estácio de Sá. Ela é nosso braço firme no Rio de Janeiro e integra a equipe de OFuxico desde 2003. @flaviacirino