As Baías sobre Live Pride: ‘Celebrar a coragem de ser quem você é’
Por Raphael Araujo - 23/06/21 às 17:50
Criada em 2014 e com primeiro álbum lançado em 2015, As Baías é uma banda brasileira formada pelas cantoras e compositoras Assucena Assucena, Raquel Virgínia e pelo cantor, compositor, e produtor Rafael Acerbi.
A banda, que começou com influências do Tropicalismo, mas que sempre carregou em sua história a liberdade de ideia em suas criações musicais, estreia uma nova era cheia de grandes novidades, incluindo uma live em celebração ao Mês do Orgulho LGBTQIA+, comunidade na qual Assucena e Raquel representam como mulheres trans e Rafael como um homem cis grande apoiador da causa.
A live tem data marcada para este domingo, 27 de junho, às 18h, com transmissão ao vivo do topo de um prédio no centro de São Paulo, e contara com as participações de MC Rebecca, Linn da Quebrada, Tassia Reis, All Ice e Gloria Groove, além da narrativa de João Luiz do BBB21 e outras surpresas.
Em coletiva de imprensa, na qual OFuxico, esteve presente, As Baías deram mais detalhes do evento, que já está sendo produzida e idealizada há muito tempo.
“Ainda estamos nos acostumando com lives, costumo dizer que é uma eterna passagem de som, pois é difícil a conexão com o público. Mas ela será uma homenagem a figuras que admiramos, como Cazuza e Cássia Eller, e à própria carreira d’As Baías, ainda mais em um mês importante como junho”, explicou Rafael.
“A ideia já surgiu para acontecer em março, no mês das mulheres, mas decidimos esperar e dar maturidade na ideia, e foi quando definimos para acontecer logo no Mês do Orgulho por toda a simbologia do evento”, declarou Assucena.
“O mote da nossa live será coragem, nome da música que lançamos com MC Rebecca e regravamos com a Tassia Reis, e vocês poderão ver domingo. Vamos celebrar a coragem de ser quem é, de viver em um desgoverno como estamos, com um belo arco-íris no céu”, completou ela.
“Viemos em uma bateria de lançamentos que essa live condensa. Vamos condensar os lançamentos que fizemos na pandemia e comemorar tudo isso”, garantiu Raquel
Relação com marcas no Mês do Orgulho e pandemia
Em dado momento, foi questionada a relação com as marcas de patrocínio e publicidade, que costuma aumentar muito em junho pelo Mês do Orgulho.
“Foi mais fácil conquistar o patrocínio pela agenda de marketing estar voltada a isso, igual árvore de Natal em dezembro. Mas eu queria agradecer a Doritos, pois sei que a Pepsico possui políticas internas de inclusão de pessoas trans, então não é da boca para fora. Também agradeço a AmazonPrime Vídeo, a Absolute, a Converse, todo nosso apoio, que permitiu um projeto destes possível”, celebrou Raquel.
All Ice, um dos convidados da live, afirmou que a luta deve ganhar mais espaço no decorrer do ano, pois a luta da comunidade não acontece apenas em um mês.
“Eu busco referências na música de homens trans pretos como eu e não encontro, chega a ser assustador. Eu acabo me tornando a própria referência no meio pela falta de espaço e oportunidades, e vivo isso todos os dias”, disse o rapper.
“E não só na música, mas em todos os espaços, temos uma luta diária para ganhar visibilidade, e mesmo que melhore em algum ponto, ela nunca para”, reforçou MC Rebecca, que também falou da relação com o público na pandemia.
“É ainda muito difícil, porque os fãs não param de ter contato, inclusive no restaurante alguns deles chegam pedindo foto, e você tem que saber conciliar o pedido com os protocolos de segurança, mas é todo um processo”, disse.
“É surreal a energia do público no show, saber como cada lugar reage a um momento da apresentação, mas não tem como acontecer no momento, e fazer uma live é mais uma oportunidade de conscientizar as pessoas a ficarem em casa, se cuidarem”, afirmou Assucena.
Público diverso
Uma característica marcante do grupo As Baías é a frequência de parcerias com artistas diversificados, o que permite com que o público da banda seja tão diverso quanto ela.
“Quando gravamos com a Luísa Sonza, chegaram pessoas de 14, 15 anos, e nunca tínhamos tido contato com esse público, afinal, somos uma banda de origem universitária. Quando gravamos com o Péricles, aparecemos em páginas de pagode, com o Xanddy, é muito surreal”, contou Raquel.
“Mas isso vai de acordo com o projeto d’As Baías, de expandir o público e ocupar diversos espaços, ser realmente uma visibilidade que atinge muitas pessoas, e todos os fã-clubes destes artistas apoiam As Baías quando conhecem”, continuou ela.
“Inclusive a escolha de artistas para serem convidados foram pensados nisso, pois diversos convidados da Prada LGBTQIA+ de São Paulo não são da Comunidade, e isso é necessário, mas e quem pertence e não ganha a mesma visibilidade? Por isso escolhemos cada um dos convidados com esse objetivo de mostrar a diversidade da música e dos artistas LGBTQIA+”, explicou.
“Muito brilho e muita cor! Quem está pensando os looks é a Bianca Jahara, que trabalha com diversas artistas da cena Pop, e enxergo muita coragem nesses looks, assim como definimos para ser a live”, afirmou Assucena.
“Preparei algo que combine com a live, bem street, e me arrependo de ter feito um look mais ‘pelada’, pois em São Paulo faz muito frio”, brincou Rebecca.
A diversidade também foi pauta nos gêneros musicais de cada um, com todos os presentes afirmando que curtem e fazem música, e não gostam de se restringirem a apenas um gênero musical, mas sim aparecer em tudo.
Posicionamentos na live e na vida
Conforme foi dito no decorrer deste texto, os artistas envolvidos na live não possuem medo de se posicionar politicamente, e que isso acontecerá naturalmente na transmissão.
“Meu existir já é um posicionamento político, então com certeza deve ter algum momento para isso. Eu acho uma questão importante falar deste assunto, e deve ter algum texto para isso. Caso não tenha de forma explicitamente, já deixo aqui o meu: sou fora Bolsonaro!”, revelou Tassia Reis.
“Esse encontro, essa live, é tudo um posicionamento político. Eu acho que o posicionamento é necessário, mas não deve ser obrigatório, e a cultura do cancelamento não enxerga como o autoritarismo pode ser negativo. Não quero que as pessoas se posicionem de qualquer jeito”, falou Assucena.
“Ninguém nasceu descontruído, é preciso alinhar isso no cotidiano, e não cobrar que aconteça de qualquer jeito. Tem que ser natural para fazer efeito e ser de fato uma resistência e uma luta”, completou ela.
Ainda, foi discutido a importância de misturas de gêneros e a importância da arte como cultura e representatividade, sendo um outro tipo de posicionamento.
“Precisamos construir memórias de heróis LGBTQIA+ no Brasil, e estamos muito aquém nisso, mas a arte é um posicionamento político. Quando a Rebecca vem com o funk, isso é político, pois mostramos muito do Brasil para o Pop mundial, e é algo que é nosso”, exemplificou Assucena.
“Quando a Tassia Reis, o All Ice mostram seu flow no rap, isso é político, e cantar com eles, com Gloria Groove, continua sendo uma forma de posicionamento de qualquer forma”, complementou ela.
Se você procura por política, arte e muita música, a Live Pride de As Baías será o lugar certo! Não perca neste domingo (27), às 18h, no Youtube.
Raphael Araujo Barboza é formado em Jornalismo na Faculdade Cásper Líbero. OFuxico foi o primeiro lugar em que começou a trabalhar. Diariamente faz um pouco de tudo, mas tem como assuntos favoritos Super-Heróis e demais assuntos da Cultura Pop (séries, filmes, músicas) e tudo que envolva a Comunidade LGBTQIA+.