Gloria Groove sobre entrar no pagode: ‘Nunca quis ficar na bolha’
Por Raphael Araujo - 26/09/24 às 01:33
Gloria Groove conquistou inúmeros corações no Brasil e no mundo com o primeiro projeto de pagode de sua carreira, “Serenata da GG”, que teve seu primeiro volume divulgado no final de maio. Agora, está chegando a hora de o público conhecer a Serenata completa: nesta quinta (26), uma semana após sua aclamada apresentação no Rock in Rio, a artista irá divulgar o segundo volume nas plataformas digitais.
Gloria Groove recebe sua primeira indicação ao Grammy Latino
Na “Serenata da GG, Vol.2 (Ao Vivo)”, que conta com 13 faixas, a cantora mais uma vez chega acompanhada de convidados especiais que abrilhantam o projeto: Mumuzinho, Menos É Mais, Thiaguinho, Sampa Crew e Ana Carolina cantam junto com Gloria em clima de romantismo e paixão. Duas músicas inéditas da coletânea fizeram sua estreia no Rock in Rio: “Apaga a Luz”, sucesso de 2018 da artista que ganhou sua versão no pagode, e “Encostar Na Tua”, de Ana Carolina, com a participação da cantora.
A coletânea também reúne músicas inéditas como “Amor Pilantra”, “Linguagem do Amor” e versões de outras músicas da GG no ritmo do pagode, como “Madrugada” e “Sinal”, além dos covers. Assim como o primeiro volume, o segundo também terá audiovisuais para cada canção, a serem divulgados semanalmente. O primeiro bloco de vídeos chega nesta sexta (27) às 12h no canal da multiartista no YouTube.
Com participações de Ferrugem, Alcione, Belo, Thiago Pantaleão e Gina Garcia, a primeira parte acumula mais de 200 milhões de plays em todas as plataformas de áudio e vídeo. No Spotify, a coletânea chegou à posição nº #15 entre os álbuns mais ouvidos semanalmente. Com o sucesso estrondoso, Gloria bateu seu próprio recorde e ultrapassou a marca de 8 milhões de ouvintes mensais no Spotify.
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Diferenca entre os volumes do “Serenata da GG”
Em coletiva de imprensa, na qual OFuxico esteve presente, a drag queen relembru suas inspirações para o disco: “Tanto o musical quanto o visual, para o que eu quis fazer na minhaSerenata, são os anos 90. Como a gente ouvia as músicas, como a gente consumia o pagode romântico, o R&B brasileiro, o baile charme, mas também como a gente consumia o amor, os programas de namoro, todas essas coisas alimentaram o universo de serenata na minha cabeça, tudo muito 90”.
“E no processo de composição não foi diferente. Procurei ir atrás das pessoas que mais entendiam de sentimento, foi assim que eu cheguei em Umberto, em Juninho, em Rodrigo Oliveira, em Lary, as pessoas que realmente entendem . Umberto é uma pessoa que compôs pro Belo muitas e muitas vezes, e o Belo tem um estilo de composição que eu admiro demais”, afirmou Gloria Groove.
“Então eu fui atrás, o álbum que a gente estudou pra poder começar o processo de composição, foi o ‘Desafio’ do Belo, que tem ‘Tua boca tem o mel’. Eu vou naquele jeito de amar e de se entregar. Então foi assim que eu montei com a ajuda do Rafael Castilhol, diretor musical desse álbum e deste show também, a gente quis buscar na nostalgia, o segredo, o molho especial da Serenata. Memória afetiva, né?”
Detalhes das parcerias
Ela em seguida diferenciou os dois volumes do projeto: “Eu acho que se o compromisso do vol. 1 era realmente contar a minha história e mostrar a minha vida [sentimental], mostrar as coisas que eu acho legais e fazer coisas como ‘A Loba’ com a própria Alcione, a vontade do vol. 2 é falar sobre referência, é mostrar mais referências, como por exemplo, estar fazendo um medley de Ana Carolina cantando com a própria Ana Carolina, poder homenageá-la em primeira mão, depois do que eu pude fazer no show dos famosos em 2021 homenageando-a”.
“Outro exemplo, a canção ‘Desliga Você’, que é o único R&B estilo ‘by the charm’, solto no meio de qualquer volume de Serenata, foi proposital porque eu percebi o quanto essa época do R&B estava impactando também a sonoridade do projeto, e eu lembro de começar a compor a música dizendo, ‘eu quero algo que seja estilo samba crew’, nem imaginando que eu poderia chamá-los para colaborar comigo ali, então quando esse sonho Concretizou e eles toparam estar na faixa, eu senti uma missão cumprida, sabe, senti uma sensação muito de estar homenageando, dando flores em vida e não deixando morrer um legado”, avaliou ela, em suma.
Do fã à parceria
“Então, acredito que o vol. 2 vem falando muito sobre referência. Thiaguinho cantando comigo, foi uma das pessoas que, como a gente mencionou aqui, uma das primeiras pessoas a me abrir essa porta, e eu quis registrar ele comigo aqui no vol. 2, porque é um cara que me influencia demais até hoje”, completou Gloria Groove.
A cantora posteriormente reforçou sua admiração por Ana Carolina: “Ana se torna uma referência em vários lugares da minha vida, né? É uma das únicas pessoas que eu me lembro de lá de trás, na minha pré-adolescência, vê-la falando sobre sexualidade e vivendo a sua sexualidade tão abertamente. Isso, por si só, já era um grito de liberdade no meu ouvido, mas o estilo dela, o jeito que ela canta, o que ela traz com aquela voz e as temáticas que ela escolhe tratar nas letras, aquilo mesmo que conecta comigo, sabe?”.
Inclusive, novos volumes podem ser lançados: “Tem um monte de nomes que eu ainda não consegui puxar pra minha serenata e que eu acho que tem tudo a ver. Para começar, vamos falar só das pessoas que estavam comigo naquele episódio 6 de ‘Música Boa’. Periclés, Iza, Lineker. Adoraria ter esse momento de conexão, adoraria cantar com os outros amigos do Pagode que me abriram portas, como a Ludmilla, como o Bruno Cardoso do Sorriso Maroto”.
“E as portas vão permanecer abertas, porque Serenata está fazendo um projeto de volumes. Eu amo que ele propõe na minha vida essas histórias de amor que não acabam nunca. Eu sempre vou poder voltar pra esse processo criativo e falar mais um pouquinho de amor. Então, vamos dizer que a aventura está só começando? Começando muito bem, mas está só começando”, garantiu a artista, em síntese.
Sinceridade consigo mesma
A drag queen, aliás, se sente mais conectada a consigo mesma: “Eu tô vivendo nos momentos mais legais [da carreira], de coração, de verdade. Eu acho que o show do Rock in Rio, por exemplo, fugindo um pouco da pauta, né, o fato de que o show do Rock in Rio, eu quis que ele fosse sobre o que é essencial e o talento que tá em cima do palco, e escolher os tons terrosos para ser o tema, para me sentir pé no chão, aquilo ali é a prova de que eu tô olhando mais pra mim, de que eu tô passando mais tempo com o Daniel de novo, sabe, cuidando mais desse cara que é a nascente desse oceano de coisas que se torna a Gloria Groove depois”.
“E eu acho que isso tem imprimido no trabalho, tanto em coisas como ‘Serenata’, que eu tô querendo abrir o coração, quanto em coisas como o show do Rock in Rio, onde eu quero mostrar essa ideia de consistência e de revisitar tudo, olhar com respeito e com carinho pra todas as fases pelas quais eu já passei, artísticas e de vida também. Então agora eu tô vivendo aos 29 anos. O meu, dizem que o retorno de Saturno, né, e sentindo que a vida tá me mostrando tudo que importa, sabe?”, garantiu.
“Parece que esse é o movimento do meu ano 2024: ‘olha, Daniel, isso importa, é importante você regar, semear e pensar, isso já não mais joga pra lá, não te pertence’. Eu tô amando o que esse ano tem feito na minha vida, e eu tô amando principalmente o jeito que isso se mostra artisticamente pra vocês, assim, porque pode ter certeza, o processo ele acontece de dentro pra fora”, refletiu ela em seguida.
Pouca vivência de Gloria Groove com o álbum
A cantora posteriormente detalhou seu show em são Paulo: “No Espaço Unimed, no dia 19 de outubro, o que vai acontecer de fato, acredite se quiser, é o começo oficial da Serenata na minha vida. Eu tô vivendo o sucesso de uma coisa com a qual eu nem fui ao palco ainda só pra falar disso. Por enquanto eu performei com a ‘Serenata’ num pedacinho do show que eu venho fazendo e de pensar que eu vou poder estrear a turnê de um projeto já sendo um sucesso, já tendo um lugar na cabeça das pessoas, isso é muito gostoso”.
“Todo ano eu tenho uma data muito legal pra fazer lá no Espaço Unimed, eu amo aquele lugar, eu já fui fã dentro daquele lugar, então estar em cima daquele palco representa muito na minha vida como pessoa de São Paulo como pessoa que já viveu experiências legais com os amigos, descendo na barra funda e entrando ali pra curtir uma noite, e esse ano não vai ser diferente. Só que vai ter um gosto muito especial, porque eu vou realizar o sonho de ver o que aconteceu com a minha ‘Serenata’, né?”, declarou ela.
Impactada com a canção
“Eu tô brincando com a equipe, que eu acho que eu joguei a bomba e saí correndo, porque eu gravei o DVD, lancei a música e tinha o processo da Tour na Europa pra realizar e pra ir lá fazer, né? Então, fiquei um mês e meio imerso no show ‘alô alô’, enquanto ‘Nosso Primeiro Beijo’ tava decolando. Então, vamos dizer que quando eu voltei da Europa eu tomei um susto com o que tinha acontecido com a música e de entender, nesse pouco tempo, que era uma das músicas mais populares que eu já tinha feito, o que me deixou feliz, afirmou, em síntese.
Prova, mais uma vez, que quando as coisas são feitas com verdade, com coração, com honestidade, isso conecta com o outro lado. Eu acredito que ‘Nosso Primeiro Beijo’ tem essa mágica, a mágica da conexão com todo mundo, independente de onde vem. E é isso que tá acontecendo”, completou Gloria Groove, em suma.
Força de “Nossos Primeiro Beijo”
Sobre o lead single do vol. 1, Gloria Groove apontou: “A música popularizou antes mesmo dela ser lançada, porque como eu gravei o volume 1 e o volume 2 na mesma noite e os fãs estavam todos acompanhando, gravando com seus celulares, viram a prévia de ‘Nosso Primeiro Beijo’, que explodiu nas redes sociais, levando as pessoas a darem uma atenção tremenda para aquela música. Não era o meu single escolhido, eu ia trabalhar ‘Loucuras de Amor’, porque eu dizia que era a música tema do projeto”.
“E uma vez que a gente viu ‘Nosso Primeiro Beijo’ tendo destaque, eu falei: ‘ela já está falando do primeiro beijo, primeiro contato, faz todo sentido ela ser realmente o primeiro beijo nessa era’, e a gente decidiu ouvir a voz do povo, que é muito mais alta. E para o vol. 2, procurei fazer a mesma coisa, compartilhando as prévias com todo mundo, descobrindo qual dessas músicas mais tocam o coração”, contou a artista, que no pocket show posteiormente, anunciou ser “Amor Pilantra”.
Conexão de Gloria Groove com os fãs e pagode
Ela em seguida apontou: “Acredito que ‘Nosso Primeiro Beijo’ é o tipo de música que ainda vai ajudar a carreira de muita gente lá na frente. Vai ser a primeira música de muita gente que começou a cantar. E isso que enche meu coração, ver a música fazendo parte da vida das pessoas. É claro que eu amo ver os compilados dos vídeos dos famosos cantando nosso primeiro beijo no show, mas pega mesmo abrir minhas menções de stories e vê a galera do bar, a galera que toca realmente o pagode, que vive do pagode e a música ali, todos os dias presente”.
“[…] Isso que mexe comigo, porque prova que ela hoje faz parte da vida das pessoas e todo artista vive para produzir algo assim, né? Que tenha esse nível de conexão e que seja atemporal. [… ]Eu acho que eu ainda estou me inteirando do impacto, do que realmente está acontecendo e eu digo mais, eu acho que essa conexão tão quase que instantânea, ela se justifica na minha história”, falou Gloria Groove.
“O pagode está na minha vida desde sempre, a música é a coisa mais importante na minha vida desde a barriga e como a mãe que foi backing vocal da banda Raça Negra, o pagode estava à minha volta na minha infância o tempo todo. Então acredito que tudo se justifica. Aí, eu encontrei no pagode um lugar que eu já podia chamar de casa mas que eu precisava desse aconchego agora. Para eu poder me apaixonar de novo agora”, disse a artista.
Gloria Groove furou a bolha com o pagode?
Por fim, algo abordado por Gloria Groove foi de ser uma drag queen no pagode: “Eu acredito que eu ainda continuo buscando esse ponto de que existe muita profundidade, existe muita complexidade em ser eu, em ser qualquer um de nós. Porque é tão fácil ser estigmatizada enquanto drag queen, de te falarem que você só pode fazer aquilo, ou que só isso faz sentido pra uma drag, ou que o caminho melhor pra uma drag é aquele”.
“E eu amo desafiar esses moldes em tudo, através do look, através do meu corpo, através da minha sonoridade. Então eu tô tendo com esse projeto mais uma vitória que é entender que pra uma drag queen cada novo passo vai fazendo a diferença pra todo mundo que vem atrás. Pra mim pode ser super natural, orgânico e fazer todo sentido o pagode na minha vida agora. Mas eu entendo que uma das primeiras coisas que se pensa quando me vê fazendo é mais uma drag, não é um pagode. E talvez a minha presença no estilo venha pra realmente indagar. Por que não?”, indagou ela.
“Aonde mora essa limitação de expressão? Aonde mora a permissividade e quem realmente domina ou manda num estilo? E eu acredito que todo mundo sai ganhando, porque a gente sabe que o pagode é um estilo dominado majoritariamente por homens. Vale lembrar que no meu caso continua sendo verdade isso, porque eu sou homem, apesar de ser uma drag queen, mas só de eu estar fazendo dentro da minha expressão artística, carregando a minha comunidade e mostrando a potência que a gente tem, porque eu acredito que eu não faço apenas um pagode, mas eu consigo fazer uma era de pagode e ser uma era de diva pop, com cores, com tema, com conceito.
Versatilidade gera conexão e identificação
A cantora então prosseguiu: “Eu acho que é isso que acaba criando essa conexão, porque eu trago pra minha realidade e do jeito que eu gostaria de consumir, como que eu, como fã, gostaria de receber esse presente”. Porém, ela entrou em outro ponto: seu trabalho furou bolhas por ser uma drag quen dentro do pagode?
“Eu uso muito isso das pessoas de que o meu trabalho fura bolhas. E recentemente eu me dei conta de que talvez isso implica de que o trabalho estava sendo feito pra que ficasse lá. E aí agora eu percebo que eu nunca quis ficar na bolha. Eu não tenho nem certeza do que é a bolha pra falar a verdade. Porque acho que o meu trabalho sempre foi tão pra além do que a bolha permitia”, afirmou ela, em suma.
“Por exemplo, a minha entrada na cena como drag queen da música foi com rap. Já não é uma coisa considerada muito da bolha drag. Então acho que eu nunca tive que fazer isso nada pra ficar na bolha ou pra ficar numa única leitura. E talvez isso surta esse efeito, as pessoas me verem como alguém que acaba, enfim, ultrapassando os limites que concebiam que eram impossíveis para uma drag queen”, avaliou.
Gloria Groove quer romper mais limites
“Mas eu acredito que eu acabo rompendo com esses limites invisíveis através de algo genuíno, que é o trabalho, que é o talento que eu venho cultivando e lapidando desde criança. Percebo que é muito real em mim a vontade de comunicar com muita gente e conseguir falar com todo mundo. Percebo que eu tenho um comportamento realmente de alguém que quer o mundo, de alguém que tá no mundo mesmo”, ressaltou a drag queen em seguida.
Ela ainda apontou: “Eu gosto muito de viajar, eu gosto de aprender jeitos novos de cantar, eu canto de tudo. Então é louco pra mim como a cada novo projeto, ao depender do que eu estou fazendo, eu acabo destravando um novo lugar. Como nesse projeto eu posso destravar esse espaço no pagode que, apesar de já ter me dado muito espaço, é a primeira vez que eu estou fazendo algo para o estilo especificamente”.
“E acredito que por ser uma drag queen sempre vai fazer uma diferença tremenda pra todo mundo, porque eu venho carregando comigo toda uma história da onde vem a possibilidade de uma drag queen ocupar esse espaço. E ter esse tipo de respeito, de admiração, poder ser vista como um artista digno desse respeito, desse sucesso, isso eu acho que acaba fazendo muita diferença. De diferença para todo mundo em si”, concluiu Gloria Groove, por fim.
Raphael Araujo Barboza é formado em Jornalismo na Faculdade Cásper Líbero. OFuxico foi o primeiro lugar em que começou a trabalhar. Diariamente faz um pouco de tudo, mas tem como assuntos favoritos Super-Heróis e demais assuntos da Cultura Pop (séries, filmes, músicas) e tudo que envolva a Comunidade LGBTQIA+.