IZA sobre cuspe no clipe de ‘Fé’: ‘Para mostrar como tratam a mulher preta’
Por Raphael Araujo - 03/06/22 às 12:00
Na quinta-feira, 2 de junho, IZA lançou seu mais novo single, “Fé”, descrito por ela como a música mais intensa que já lançou na carreira. Um videoclipe acompanhando a canção foi liberado nesta sexta-feira, 3 de junho, e o lançamento será uma das faixas do vindouro segundo álbum de estúdio da cantora, que já revelou as músicas “Gueto” e “Sem Filtro”.
Em coletiva de imprensa, na qual OFuxico esteve presente, a cantora deu mais detalhes acerca de “Fé”, inclusive de como funcionou o processo criativo do clipe da canção, dirigido pelo renomado Felipe Sassi, que já tinha cenas extremamente bem definidas na sua cabeça que levaram tempo para ganharem vida.
“O maior desafio foi dar vida às ideias. É muito incrível trabalhar com o Felipe pois ele consegue me entender sem me julgar, e dar vazão à essas ideais, além de nossas referências serem parecidas. O desafio dele foi pegar minhas ideias e torná-las seguras, como a escada humana”.
“Algumas cenas estavam bem definidas na minha cabeça, como escada e a saia de pessoas, pois queria mostrar como as pessoas podem ser um peso em nossas vidas, pois vamos carregando a opinião dos outros, a visão alheia na nossa vida, e isso vai nos atrasando em vários sentidos”, contou ela.
“Tendo essas cenas definidas, foi mais fácil de ir desenvolvendo o resto. Era para ser essa a mensagem, era algo subjetivo que precisávamos transmitir. […] Tudo melhorou quando definimos a direção criativa do clipe. Felipe me perguntou o que queria, se era externa, interna e tudo mais”, revelou.
“Foi então quando tentei me explicar, pois eu tinha ideia soltas, como algo sem lados na primeira cena, a escada de gente, a saia de pessoas, e foi um desafio unir tudo isso. Mas trabalho com pessoas que me escutam e não julgam, me ajudam a expressar o que sinto. Foi um dos trabalhos que mais gostei de fazer”.
CENAS MARCANTES
Após explicar como o clipe de “Fé” nasceu, IZA foi dando detalhes das direções artísticas que foram sendo tomadas ao longo da produção, como a decisão de adotar uma estética mais minimalista para deixar a produção atemporal.
“Amo vermelho, azul e marrom. Queria usar cores primárias por ser algo abstrato, além de ser minimalista para que fosse algo atemporal, sem poder definir dia, horário, essas coisas. Inclusive uso menos looks nesse clipe por isso”, revelou.
Em dado momento, ela foi questionada sobre a cena em que um dos dançarinos cospe nela em meio ao refrão, que foi escolhida estar ali propositalmente para causar um impacto ainda maior no público.
“Pensei: ‘Como mostrar que a mulher preta é a menos respeitada do Brasil?’. Queria ser desrespeitada nesse sentido, e quis demonstrar isso”.
“Foi engraçado porque, depois de gravar essa cena do cuspe e dos xingamentos, as pessoas vinham se desculpar. Mas pedi para ser bem real, só que no fundo, nem senti nada disso, foi um dos clipes mais divertidos que já fiz”, revelou.
Ainda, a cantora falou de como era grata pelo investimento de seus pais em sua educação, o que acabou gerando outros desafios relacionados à sua negritude.
“Quando comecei a cantar, as pessoas falaram que eu me comunicava bem, estava desenvolta. Eu estudei muito, e esse foi um grande privilégio da minha vida, e esse foi um corre dos meus pais, de buscar os melhores lugares para eu estudar”, disse.
“Mas isso infelizmente não respalda no ensino público, então eu era a única pessoa negra nas escolas, e isso na adolescência isso não é algo legal de viver, apesar de conhecer amigos incríveis. Estudei sempre nas melhores escolas da minha região, na PUC, e esse investimento dos meus pais me permitiu escolher o que eu queria fazer”, explicou.
IMPACTO DO ROCK IN RIO EM SUA VIDA
Por fim, IZA contou de como a fé a levou para lugares inimagináveis dos seus sonhos, citando como um grande exemplo o Rock in Rio, um dos maiores festivais de música do Brasil e do mundo.
“Se você não acredita em nada, sua vida é mais complicada que o normal, e o normal já é muito difícil. A fé sempre me acompanhou na vida. Um exemplo é o Palco Sunset do Rock in Rio, em que eu não sabia o que ia falar lá”, lembrou.
“Mas chegando no evento, minha amiga mandou a lembrança de quatro anos atrás, da gente curtindo. Sempre fui fã do festival desde 2011, ia todo ano, então passou um filme na minha cabeça, e foi isso que falei”.
A cantora ainda falou de suas expectativas de abrir o Palco Mundo no dia 04 de setembro de 2022: “Apavorada. Não superei o Sunset e me colocaram no Mundo. Estou muito ansiosa, vai ser um dos melhores dias da minha vida, pois é uma grande realização. Nunca sonhei que eu poderia fazer isso”.
“É muito incrível por eu ser fã do festival, por ser uma conquista incrível na carreira e por eu acreditar ser a primeira cantora negra brasileira a cantar no Palco Mundo”, concluiu IZA.
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Raphael Araujo Barboza é formado em Jornalismo na Faculdade Cásper Líbero. OFuxico foi o primeiro lugar em que começou a trabalhar. Diariamente faz um pouco de tudo, mas tem como assuntos favoritos Super-Heróis e demais assuntos da Cultura Pop (séries, filmes, músicas) e tudo que envolva a Comunidade LGBTQIA+.