91 salves para Fernanda Montenegro, a dama da dramaturgia brasileira
Por Redação - 16/10/20 às 08:00
Nesta sexta-feira (16), Fernanda Montenegro completa 91 anos de vida. A grande dama da dramaturgia brasileira, além de toda reverência que merece, será contemplada com uma homenagem especial, no canal por assinatura Curta!, que exibirá um episódio da série Grandes Cenas dedicado ao filme Central do Brasil (1997), de Walter Salles, um dos mais emblemáticos da carreira da atriz, cuja atuação rendeu uma indicação ao Oscar e ao Globo de Ouro de Melhor Atriz; além da conquista do Urso de Prata no Festival Internacional de Cinema de Berlim e do National Board of Review Award, ambos na categoria Melhor Atriz.
Filha de um mecânico da companhia de luz, português, e uma dona de casa italiana, Arlette Pinheiro Esteves da Silva nasceu e se criou no bairro do Campinho, no subúrbio carioca dos anos 30. Cresceu frequentando a escola pública e o sítio de seus avós em Jacarepaguá, na Zona Oeste. Terminou o curso primário aos 12 anos e passou a frequentar o curso de secretariado Berlitz, estudando francês, inglês, português, estenografia e datilografia. À noite, fazia o “curso de madureza.
Aos 15 anos de idade, ingressou na Rádio Ministério após participar de um concurso para radialistas.
“Fiz um teste, li um poeminha. Achava que não daria pra nada, fui para casa. Dois meses depois, recebi telegrama pra me apresentar. Levei um susto ”, recordou.
Foi nessa época que escolheu o nome artístico. Fernanda pela sonoridade que remetia aos personagens de Balzac ou Proust. E Montenegro, de um médico homeopata que era amigo da família.
“Eu redigia como Fernanda Montenegro. E era locutora como Arlette Pinheiro. E Fernanda Montenegro foi o que pegou. O velho Shakespeare já tinha razão, somos todos atores. Sei que sou também a dona Arlette. Essa é bem resguardada”, disse.
Fernanda permaneceu na rádio por dez anos. Lá foi locutora, rádio-atriz, redatora, adaptou contos e romances. Estreou no palco em 1950 na peça Alegres Canções nas Montanhas, atuando com Fernando Torres.
Casamento e maternidade
Em 1953, aos 23 anos de idade, se casou com Fernando Torres. Em agosto de 1962, a atriz deu à luz seu primeiro filho, Cláudio Torres, hoje diretor e produtor de cinema e publicidade.
Em 1965, nasceu Fernanda Torres. A caçula de Montenegro seguiu os passos da mãe e se tornou atriz, além de apresentadora e escritora.
Entrega total
Fernanda costuma dizer que em sua estreia, aos oito anos de idade, estava levitando, tamanha entrega. Da mesma forma que conduziu trabalhos memoráveis como Nossa Senhora em O Auto da Compadecida (2000) e a Picucha, em Doce de Mãe, em 2013.
Fernanda do pedaço
Como a Dulce, Fernanda Montenegro fez uma breve, porém marcante e polêmica participação em A Dona do Pedaço. A personagem, matriarca da família Ramirez, atirou contra o noivo da própria neta por conta de uma rixa familiar.
Beijo lésbico
Em 2015, na pele da advogada Teresa, na novela Babilônia, a artista enfrentou a homofobia. A personagem era casada com Estela (Nathalia Timberg) e as duas protagonizaram um beijo que foi alvo de boicote por parte do público.
Pandemia
Acompanhada pela filha, Fernanda Torres, Fernanda Montenegro subiu a serra e lá ficou por quatro meses. Não era um reality show, mas estava cercada por câmeras que resultaram num dos episódios da série Amor e Sorte. O local que num primeiro momento era um refúgio por conta da pandemia, se tornou um grande encontro em família. O marido de Fernanda Torres foi o diretor artístico e conduziu as gravações com os filhos.
“Esse especial cravou para sempre o momento de realização artística e de aceitação de novas possibilidades em meio a uma tragédia. Tivemos um momento especial. Isso foi consumado neste projeto, Nós nos envolvemos novamente. De uma forma muito amorosa e essencial, muito humana. Saímos mais completos diante da vida”, escreveu a veterana em seu perfil no Instagram.
Livro
Em outubro do ano passado a artista lançou sua biografia, Prólogo, Ato, Epílogo. Na obra, sua vida pessoal ganhou destaque, com Ênfase ao casamento de 55 anos com Fernando Torres, falecido em 2008, os dois filhos, Cláudio e Fernanda Torres, os três netos e todas as suas emoções.
Resistência
Em setembro do ano passado, uma ofensa dirigida a Fernanda Montenegro pelo dramaturgo Roberto Alvim, diretor do Centro de Artes Cênicas da Funarte, deu o que falar. Em uma publicação no Facebook, ele chamou a atriz de “sórdida”. Foi uma declaração feita após Fernanda posar para a capa da revista literária Quatro Cinco Um. Na edição de outubro da publicação, Fernanda foi retratada como uma bruxa prestes a ser queimada em uma fogueira com livros. Alvim assumiu, na postagem, que a guerra contra artistas no governo Bolsonaro é irrevogável e chegou a insinuar que a foto de Fernanda “mostra muito bem a canalhice abissal dessas pessoas, assim como mostra a separação entre eles e o povo brasileiro”. Sugeriu que é necessário promover uma renovação completa da classe teatral brasileira “que é radicalmente podre”.
Ao lançar seu livro, a atriz questão de reforçar sua resistência.
“Sistema nenhum vai nos calar. Este é um livro sobre uma mulher de teatro e, de repente, passou a ser um ato de resistência. Estamos unidos aqui, hoje, em torno da liberdade de expressão.”
E viva a dama da dramaturgia!
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