A violência toma conta da cidade dos artistas

Por - 20/03/06 às 19:01

Reprodução

O Rio de Janeiro continua lindo. Por isso mesmo, ainda é o local que a maioria das celebridades escolhe  para viver.

As paisagens da famosa Cidade Maravilhosa, no entanto, ganharam um colorido diferente nas últimas semanas. Por conta do roubo de 10 fuzis e uma pistola, de dentro de um quartel, na zona norte da cidade, o Exército invadiu as ruas, principalmente os morros, em busca dessas armas. Foram dias de ocupação e muitas trocas de tiros.

O saldo dessas operações foi a recuperação das armas, na semana passada, após as ocupações militares, que reduziram em cerca de 70% as vendas de drogas em todos os morros e diminuiram bem o número de assaltos.

Na noite de domingo, dia 19, o Fantástico exibiu um excelente documentário, no qual é mostrado onde tem origem toda a violência que maltrata a população carioca. Falcão: meninos do tráfico, do rapper MV Bill e do produtor Celso Athayde, traz à tona o debate sobre o que pode ser feito para mudar a vida de meninos envolvidos com o tráfico de drogas, que depois se transformam nos homens do tráfico.

O documentário trouxe revelações impactantes, sobre a entrada de "soldados" cada vez mais jovens no crime. Os menores falaram abertamente sobre consumo de drogas, corrupção policial e assassinato de delatores.

Imagens e depoimentos fortes, como os mostrados no documentário, só comprovam que o crime cresce em proporções preocupantes e que medidas fortes, como a ocupação do exército, são importantes. Mas, é fundamental uma ação social nos morros e favelas.

As ocupações do exército, embora necessárias, dividem a opinião pública. A reportagem de OFuxico ouviu alguns artistas sobre o assunto. Eles também falaram sobre a violência e a conseqüente insegurança no Rio. 

Miguel Falabella, que teve o seu condomínio invadido por assaltantes, há cerca de dois meses, diz que os cariocas vivem trancados em suas próprias casas.

“A gente vive preso, para que os ladrões circulem livremente. É assim que eu me sinto. As casas são cheias de grades e proteção. Acho que, hoje, é o cidadão de bem que fica preso. Em sua própria casa, é claro, mas vive preso”, afirma ele, em conversa com a reportagem de OFuxico

Morador de uma das áreas carentes cariocas, o ator Thiago Martins, que interpreta o Tadeu em Belíssima, acha que a medida tomada recentemente teve pontos positivos e negativos. O rapaz, que mora no Morro do Vidigal, comenta que, por estar gravando muito e pelo fato de os soldados não terem entrado na região onde mora, só teve conhecimento da operação pelos jornais.

"Eu estava gravando muito, e só sei de ouvir falar. Mas, acho que foi positiva porque, nos morros por onde passou, o exército inibiu o tráfico de drogas, reduzindo as vendas em até 70%. Ao mesmo tempo, amigos meus, que moram na Rocinha, contaram que, em dias de operação, as pessoas não podiam sair de suas casas, nem para ir trabalhar”, diz o ator.

Para Fernanda Young, a operação fez lembrar a época da ditadura, o que ela não gosta nem um pouco. “Os militares chegam a ser anti-estéticos. Dá uma sensação horrorosa de ditadura”, comenta a escritora e apresentadora. Para ela, no entanto, esse é um tipo de medida que, a curto prazo, terá que ser implantada. “Se o crime organizado continuar cada dia mais organizado, como está acontecendo, vamos precisar de ajuda e muita. Senão, quem vai combater toda essa barbárie?”, questiona.

Vivendo um cidadão que precisa da ajuda da polícia, em Prova de Amor, Heitor Martinez também engrossa o coro dos que acham que os policiais precisam estar melhor preparados. Para ele, o Rio, apesar de lindo, continua inseguro.

 “A gente vive uma sensação de insegurança tão grande, que qualquer aumento na segurança, venha ele de onde vier, melhora um pouquinho essa sensação”, afirma. Ainda segundo ele, o exército não precisa tomar as ruas, para diminuir as ações do crime organizado. “O que precisamos é preparar melhor os policiais e, principalmente, pagar melhor a eles. O dinheiro que a gente paga de impostos, deveria ser usado na reformulação da nossa segurança”, alfineta.

Outro que defende melhores salários para os policiais é Ney Latorraca. Ele revela que não acompanhou de perto a operação do exército, mas que também vive completamente inseguro.

 “A gente não tem segurança nas ruas, isso é nítido. Acho que o exército não deve tomar o lugar da polícia, nem tomar a frente nessa história. O que nós precisamos é de uma polícia melhor preparada, ganhando melhor e em condições de enfrentar todo o arsenal dos bandidos”, diz o ator.

Quando o assunto é segurança nas ruas, nem mesmo os humoristas acham a menor graça. “Infelizmente, não confiamos na nossa polícia. Mas, temos tanto medo de andar nas ruas, que não dá nem para saber o que pensar sobre o assunto. Acabou sendo uma medida necessária, para o intuito deles de recuperar as armas. Mas, confesso que não me senti segura não”, rebate Maria Clara Gueiros.

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