Adaptação de Saramandaia traz de volta realismo fantástico de Dias Gomes
Por Redação - 21/06/13 às 20:07
Brincar com a literalidade de situações metafóricas é o grande trunfo de Saramandaia. Com estreia marcada para o dia 24, na Globo, o remake mostra expressões populares que ganham forma. Entre elas, o homem que, de tanta raiva, bota formigas pelo nariz; a mulher que pega fogo de paixão; o senhor que criou raízes por ficar sempre no mesmo lugar; e o rapaz que, literalmente, coloca o coração pela boca quando se exalta, entre outras. Situações que não ultrapassam o campo linguístico.
Mas que, no folhetim – adaptado por Ricardo Linhares para a faixa das 23h , se materializam dentro do realismo fantástico, criado por Dias Gomes, autor da versão original de 1976. Para acompanhar o tom cômico da trama, os diálogos dos personagens são recheados de palavras peculiares. Como por exemplo, em vez de "ter uma conversa", na história eles falam "ter um conversório".
"Isso dá um sabor diferente à novela, que tem uma ousadia formal, técnica e de contedo", avalia Linhares.
A trama central gira em torno de um plebiscito para mudar o nome da cidade de Bole-Bole para Saramandaia. De um lado, os tradicionalistas, liderados por Zico Rosado, de José Mayer, querem manter do jeito que está – principalmente ele, já que a cidade foi batizada de Bole-Bole por conta da cachaça homônima produzida por sua família. Do lado oposto, estão os jovens progressistas, que querem mudar o nome da cidade e trazer novos ares depois dos anos da velha-guarda no poder. Além disso, o folhetim retrata a briga entre duas famílias: Vilar e Rosado
"Minha personagem tem uma identificação ideológica com a família dela. É veterinária e, por trabalhar no campo, vê que os Rosado são corruptos", explica Leandra Leal, que encarna a revolucionária Zélia.
O elenco, aliás, conta com nomes consagrados da teledramaturgia, como Fernanda Montenegro, Lilia Cabral, Tarcísio Meira, Aracy Balabanian, Débora Bloch, Vera Holtz, Marcos Palmeira, Matheus Nachtergaele e Renata Sorrah.
"Tarcísio Meira e Fernanda Montenegro são grandes representantes da nossa cultura. Os dois abraçaram seus respectivos personagens muito bem", ressalta Denise Saraceni, diretora de núcleo.
O que facilita e muito levar ao ar uma adaptação de Saramandaia neste momento é a tecnologia. Muito mais avançada que na época em que foi escrita por Dias Gomes, agora os efeitos visuais ajudam a dar vida a essas figuras de linguagem de forma eficiente. Personagens icônicos como Dona Redonda, o lobisomem Aristíbulo e João Gibão – interpretados por Vera Holtz, Gabriel Braga Nunes e Sérgio Guizé – ganharam atenção especial. Os atores tiveram seus corpos escaneados para moldá-los em fibra de vidro. O que foi feito em Los Angeles, nos Estados Unidos, onde a técnica body scanning é bastante evoluída. Além disso, as equipes receberam a consultoria do maquiador inglês Mark Coulier. A tecnologia também está presente no cenário, que será ampliado virtualmente em alguns casos. O cemitério onde o lobisomem Aristóbulo frequenta nas madrugadas, por exemplo, foi construído, no Projac – complexo de estúdios da Globo – com oito tumbas. Mas, no ar, dá a ideia de ter cerca de 3 km de extensão, com direito a uma floresta seca.
"Isso também é muito desafiador para o ator, que agora precisa interagir com esse mundo virtual", analisa o diretor-geral Fabrício Mamberti.
Em quase 5 mil m², a cidade cenográfica foi idealizada por May Martins, que pretendia criar um lugar que não existisse, mas que, ao mesmo tempo, fosse possível. Por isso, buscou referências de várias cidades brasileiras. Já os cenários internos somam, aproximadamente, 4 mil m². Neles, estão as fazendas da história, que pertencem às duas famílias que vivem em pé de guerra.
"Na fazenda Vilar, era importante ficar visível que aquelas paredes têm vivência, estão ali há séculos e carregam a história da família", especifica a cenógrafa.
Para gravar algumas sequências do folhetim, parte da equipe viajou para os Lençóis Maranhenses. Durante uma semana, na pequena cidade de Barreirinhas, foram captadas as cenas de João Gibão, interpretado por Sérgio Guizé.
"O Fabrício dirigiu as cenas e pontuou muito bem a relação pura e doce de Gibão com Marcina", conta Denise, referindo-se à personagem de Chandelly Braz.
A equipe também foi para Bananal, em São Paulo, onde usou duas fazendas como locação.
"Ficamos dez dias em ambientes históricos, onde nossa cultura e vida política e social foram formadas. Até hoje, há resquícios de todo aquele poder, daquela riqueza e, tristemente, da opressão da escravidão", filosofa a diretora.
Elenco marca presença na exposição de lançamento de Saramandaia
Vera Holtz fica redonda para fazer a novela Sarmandaia
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