Aguinaldo Silva: “O telespectador brasileiro não precisa mais ser guiado”

Há exatos 10 anos, quando Susana Vieira assumiu o papel da retirante Maria do Carmo, em Senhora do Destino, marcava ali um divisor de águas. Não apenas na carreira da atriz, mas principalmente na do autor da trama, Aguinaldo silva, que – até aquele momento – era consagrado em folhetins de época.

Agora, aos 70 anos de idade, Aguinaldo diz que se reinventa, assim como há 10 anos atrás. Em Império, trama que sucederá Em Família, na faixa das 21h, na Globo, a partir do dia 21 de julho, o autor traz à baila histórias com as quais o telespectador se identifica. Para ele, este é o segredo de sucesso, e  a tônica desta reinvenção. Confira a entrevista concedida à reportagem de O Fuxico, nesta terça-feira (1), no Projac, na Zona Oeste do Rio.

 O Fuxico: Império parece à primeira vista uma trama densa, consistente, mas com pitadas de humor. Qual a fórmula para que seja mais um de seus sucessos?

Aguinaldo Silva: Nas minhas novelas as situações são reais, mas não é uma coisa densa. O telespectador não quer ver, às 21h, um filme de Bergman. Sempre dou relevância às tramas, às histórias. Meus personagens são reconhecíveis, você os encontra nas ruas. O telespectador brasileiro não precisa mais ser guiado através da história. Ele percebe sozinho e o que não sabe, deduz. O segredo é escrever pra frente. Você não pode fazer uma cena na qual uma pessoa planeja matar a outra e no capítulo seguinte elas estão tomando drinks, conversando amigavelmente.

 OF: Assusta assumir o horário com a audiência não tão satisfatória da antecessora?

AS: Eu me preocupo com a minha novela… Audiência preocupa em qualquer circunstância. Toda novela é como um salto no escuro, você nunca sabe se vão gostar. É sempre como se fosse a minha primeira novela.

OF: As críticas, principalmente nas redes sociais, influenciam?

AS: Quando estou escrevendo, não leio colunas nem redes sociais, até porque eu não teria tempo de criar se me importasse com isso. Algumas pessoas se dão ao luxo de serem cruéis com o profissional, torcem contra. Um pouco disso está no blogueiro personagem feito Paulo Betty. Em certa ocasião a secretária dele diz: “trabalho há 6 anos aqui e nunca li nenhum elogio a ninguém, só críticas”. Tem umas 20 revistas em circulação por aí, que se a Rede globo acabasse, elas fechariam. Então, por que agem assim?

OF: Afinal, o que houve com a troca de personagens, entre Viviane Araújo que foi anunciada pelo senhor como a rainha de bateria Juju, logo que saiu do reality A Fazenda, na Record, há 2 anos – e Cris Vianna, que acabou assumindo o papel, deixando uma manicure para a Viviane?

AS: A personagem acabou muito parecida com ela. O ideal era fazer algo diferente. A Naná não é menor do que ninguém. Tem o mesmo peso da personagem da Cris. E ainda tem uma cumplicidade enorme e divertidíssima com a Xana Summer, o travesti vivido pelo Aílton Graça.

 OF: Após anos de parceria com Wolf Maia, agora você trabalha com Rogério Gomes. O que muda?

AS: É instigante trabalhar com a rotina. Essa novela é outro recomeço. Quando fiz 70 anos, recentemente, pensei que estava na hora de ter 18 anos outra vez. Resolvi então fazer tudo diferente e com uma equipe nova.

 OF: Por quem o telespectador vai torcer, nesta novela?

AS: Pela Leandra Leal, ela é a mocinha da trama! Essa foi a pergunta que me fizeram quando entreguei a sinopse da novela. Ela é a heroína, é esperado que o público se identifique. Logo no primeiro capítulo, ela está voltando de trem, do Mercadão de Madureira (popular comércio no subúrbio carioca), e um cara se esfrega nela. Na primeira oportunidade ela sai dando com as sacolas nele, uma situação que identifica muita gente. Ela leva uma vida humilde, e nunca se abate. 

 OF: O público pode esperar outro sucesso, ao nível de Senhora do Destino?

AS: Senhora do Destino foi um marco na minha vida profissional, um momento de mudança. Foi quando parei de fazer histórias rurais e iniciei uma carreira de autor contemporâneo. É o que espero de Império. Com esta novela, vou renascer aos 70 anos. Se ninguém gostar vou me sentir muito arrasado, mas sei que isso não vai acontecer porque tenho um elenco incrível, uma equipe ótima.

José Mayer, Viviane Araújo e outras estrelas apresentam Império no Rio