Alexandre Nero: “As pessoas acham que transei com meia dúzia para chegar à tevê”
Por Redação - 30/03/13 às 10:16
Com jeito debochado e humor irônico, Alexandre Nero vive, aos 43 anos, uma de suas melhores fases na carreira. O ator já conquistou bastante destaque na tevê ao longo de apenas cinco anos de trabalho na Globo. Mas assume que, na pele do vaidoso Stênio de Salve Jorge, é a primeira vez que, no horário nobre, tem um papel que é um dos principais desde a sinopse.
"Não adianta comparar, novela das oito tem uma repercussão assustadora. E o Stênio sempre foi um curinga ali, porque estava ligado o tempo todo às principais questões da história. Um papel que não aparece sempre", avalia ele, que viveu o bronco Baltazar de Fina Estampa e o romântico Vanderlei de A Favorita, ambas exibidas também às 21 horas, na Globo.
De fato, Stênio poderia ser desenvolvido a partir de quase todos os núcleos da trama. Era ex-marido da delegada Helô, de Giovanna Antonelli, e patrão de Morena, a mocinha vivida por Nanda Costa, e da diarista Lucimar, de Dira Paes. Além disso, era sócio do namorado da vilã Lívia, de Claudia Raia, com quem o advogado estreitou os laços ao longo da história, e quase se casou com Bianca, papel de Cleo Pires. Mesmo assim, Nero sempre soube qual seria sua melhor chance de se manter entre os personagens centrais até o fim.
"Investi bastante na relação com a Helô porque achava que era o mais seguro. Poderia colher bons frutos como ator e ser engraçado, dramático ou bonito, muitas coisas ao mesmo tempo", argumenta.
Nova posição
Entre o término de Fina Estampa e o início de Salve Jorge, Alexandre Nero experimentou outra função na tevê: a de debatedor sexual. Ele foi um dos convidados fixos da ltima temporada do Amor & Sexo, programa comandado por Fernanda Lima na Globo.
"Participei uma vez e acho que foi daí que o Ricardo (Waddington, diretor) pensou nessa possibilidade. Não tenho papas na língua, falava barbaridades ali. Muitas coisas foram cortadas", conta.
Para Nero, a experiência serviu para poder se mostrar mais como pessoa, diferente de quando está na pele de algum personagem. Mesmo assim, garante que não passa pela sua cabeça a possibilidade de se aventurar em novos programas. A não ser que alguém lhe ofereça algo extremamente interessante.
"Tenho zero vontade de ter um programa. Mas como nunca me imaginei na tevê e agora estou fazendo uma novela atrás da outra, acho que não dá para dizer que nunca acontecerá", argumenta.
Bem na fita
Em Salve Jorge, Alexandre Nero experimenta algo que ainda não tinha acontecido em suas aparições em novelas: interpretar um homem rico. Até então, o ator tinha feito apenas motorista, secretário, peão e um verdureiro. E garante: nas ruas, a repercussão entre o público feminino é diferente.
"São cortes mais legais nas roupas, o cabelo e a pele passam por um cuidado maior. A mulherada percebe e comenta", explica ele, que assume ser um homem vaidoso.
"Me sinto mais bonito agora. Mas ainda acho que sou melhor ao vivo. A televisão me enfeia", opina.
O Fuxico: Apesar de Salve Jorge ser sua quinta novela, esta é a primeira vez que você volta a trabalhar com Marcos Schechtman, diretor que o fez estrear na Globo no especial Casos e Acasos. Como recebeu esse convite?
Alexandre Nero: Foi muito legal. Ainda mais que agora eu cheguei como o Alexandre Nero que é da Globo, não como o ator de Curitiba que não fazia tevê. Tem uma grande diferença. E é emblemático porque desde Casos e Acasos a gente fala em trabalhar junto. Ele queria que eu fizesse Caminho das Índias, mas A Favorita rolou antes. Eu até poderia sentir um peso por isso, mas não. Meu trabalho é entreter. Para isso, preciso estar leve. Ainda mais agora, que é a primeira vez que eu chego no horário nobre com um papel grande.
OF: Mas você se destacou bastante em Fina Estampa, como o homofóbico Baltazar. Não esperava aquela repercussão?
AN: Olha, fomos maquiavélicos ali (risos). Desde o início, sabíamos exatamente o que fazer. É engraçado porque, hoje, parece que as coisas aconteceram. Mas eu e Marcelo planejamos tudo o que aconteceu. Juntos, obviamente, com o diretor Wolf Maya e o Aguinaldo Silva (autor), que sacou que existia algo ali e decidiu usar.
OF: De que forma vocês planejaram?
AN: Baltazar e Crô não tinham vínculo, só trabalhavam na mesma casa. Mas, antes de todo mundo comentar, a gente pensou que seria um grande barato se um homofóbico fosse o caso misterioso do personagem gay. Eu e Marcelo começamos a fazer nossas cenas sempre muito próximos, olhando um no olho do outro. Baltazar ficava incomodado com aquele cara e o Crô curtia com a cara do Baltazar. Isso fez o público comprar a ideia. Ver o homofóbico de caso com o gay seria quase uma vingança.
OF: Acha que isso pode ter motivado o autor a não revelar o verdadeiro amante de Crô no final?
AN: Ah, acho que pode, sim, mas não sei exatamente o que aconteceu. E não é a primeira novela em que Aguinaldo omite o final. Isso é característica dele, o que também acho bacana. Mas talvez não tivesse muito a ver porque enfraqueceria a trama tão boa do homofóbico aceitar a homossexualidade do colega e o respeito que surgiu de um pelo outro. Se ele virasse amante, ficaria a ideia de que aceitou a situação por ter virado gay também. É muito mais rica a relação dos dois sem a ligação amorosa e sexual.
OF: Chegaram a noticiar que você questionou se faria um vilão em Salve Jorge por não querer emendar um malvado depois de Escrito nas Estrelas e Fina Estampa. É verdade?
AN: Até parece que eu tenho essa arrogância ou pretensão! Mas, numa boa, se Stênio fosse um vilão, eu realmente ia querer conversar. Sim, porque três vezes seguidas poderia ser bem complicado. Primeiro, por não saber até onde eu mesmo saberia me reciclar e não me repetir. E também porque eu ia precisar de seguranças! As pessoas olham feio para você. Ainda mais para mim, que sou um cara desconhecido. Tony Ramos pode fazer vilão que o público vai continuar olhando ele como o homem bom. Lima Duarte também. Mas Alexandre Nero não é ninguém para as pessoas que assistem.
OF: Você ainda se sente um ator desconhecido?
AN: As pessoas raramente sabem meu nome, sempre me chamam pelos meus personagens. Acabam me vendo como aquele cara porque nunca me viram em outra coisa. Por exemplo, em Fina Estampa, falavam para mim que eu só fazia vilão. Esqueceram absolutamente que estreei como o verdureiro romântico e analfabeto de A Favorita e que interpretei um cara íntegro e honesto como o Terêncio em Paraíso. E isso me incomodava profundamente. Se o Stênio não se envolver em nenhum crime e vier outra novela em que eu faça um homem para cima, é capaz de falarem que eu só faço caras bacanas e esquecerem o Baltazar e o Gilmar, vilão de"Escrito nas Estrelas.
OF: Você estreou há cinco anos e, de lá para cá, já fez cinco novelas e um seriado na Globo. Seu nome já foi, inclusive, disputado por algumas produções. A que atribui essa assiduidade no ar? Faltam atores da sua faixa etária?
AN: Ah, eu sou mais radical quanto a esse papo. Acho que é difícil encontrar bom ator e isso vale para qualquer idade. E não digo isso para me enaltecer porque me acho um ator medíocre. Pelo menos perto das minhas referências, que são Lima Duarte, Tony Ramos, Gérard Depardieu, Ricardo Darín… Mas é verdade que marquei gols em todos os personagens que fiz. Só que isso não foi mérito meu, tive parceiros que me ajudaram demais. Desde a Lília Cabral, em A Favorita, Marcelo Serrado, em Fina Estampa, passando por Nathalia Dill, Eriberto Leão, Vanessa Giácomo, enfim, tive muita sorte. E agora, mais uma vez, tenho a Giovanna (Antonelli), que levanta qualquer cena.
OF: Você se diz um ator medíocre, mas ao mesmo tempo seu discurso é de alguém com muita autoconfiança. Como funciona isso?
AN: É tudo da boca para fora. Interiormente, qualquer artista que se preze precisa ser um bunda mole. No dia em que eu me achar perfeito, precisarei largar essa profissão. Mas se eu chegar a dizer em uma entrevista de tevê ou de revista que sou medíocre, vão olhar e me chamar de falso, dizer que tenho falsa modéstia. Não adianta o lado para onde você vai, as pessoas sempre tendem a criticar. Claro que me acho um bom ator, compositor, cantor, msico, enfim, me acho um cara bom no que me proponho a fazer. Mas não sou um gênio.
OF: Para se dedicar plenamente à tevê, você deixou a música em segundo plano. Chegou a lançar um CD depois que estreou em novelas, mas quase não trabalhou ele. Por quê?
AN: Eu não tenho essa neurose de trabalhar em cima de peça, de cinema, de CD… É o que eu estou fazendo. Agora, estou na novela. Então, vou trabalhar para ela e por ela. Não tenho essa coisa de pensar no lado comercial da música. Não quer dizer que eu não queira ganhar dinheiro com isso. Pelo fato de estarmos na tevê, as pessoas acham que a vida do artista é só "show business". Eu faço parte de uma realidade de uns 5% dos artistas: pessoas que ganham bem, aparecem na tevê e eventualmente ganham prêmios. Essa é uma parcela privilegiada. A maioria avassaladora de artistas brilhantes, que são realmente gênios, não tem dinheiro sequer para o aluguel. As pessoas acham que eu tenho pai rico, que devo conhecer gente influente ou devo ter transado com meia dúzia para chegar à tevê. Ninguém tem a menor ideia da vida de um artista. Acham que você é o cara porque está na novela da Globo, mas passei um duro!
OF: Você diz que premeditou com Marcelo Serrado tudo o que aconteceu com seus personagens em Fina Estampa. Em Salve Jorge, também traçou alguma estratégia?
AN: Fui grudando na Giovanna. No meio de tantas coisas, meu cais é a Helô. Sempre investi bastante ali porque achava que era a coisa mais segura que eu tinha. Era onde poderia colher os melhores frutos como ator. Poderia ser engraçado, dramático, bonito, muitas coisas ao mesmo tempo. A Gloria Perez poderia ter me mandado para outro lugar, mas enquanto eu estivesse perto, era ali que investiria mais.
OF: Chegou a conversar com a Giovanna sobre isso?
AN: Desde o início, quando a gente leu, sacou. É difícil eu rir de cenas minhas. Mas consigo em Salve Jorge. Não ria do Baltazar e Crô, por exemplo. Me criticava mais. Nas cenas de agora, eu dou risada. Olha, a Giovanna tem um tempo de comédia, uma verdade cênica e um carisma impressionantes. Assim como o Baltazar não teria a mesma força sem o Crô, o Stênio não seria nada sem Helô.
Trajetória Televisiva
# Casos e Acasos (Globo, 2007) Marcos.
# A Favorita (Globo, 2008) Vanderlei.
# Paraíso (Globo, 2009) – Terêncio.
# Dó-Ré-Mi-Fábrica (Globo, 2009) – Lamartine.
# Escrito nas Estrelas (Globo, 2010) Gilmar.
# Batendo Ponto (Globo, 2011) – Caíque.
# Fina Estampa (Globo, 2011) Baltazar.
# Amor e Sexo (Globo, 2012) Participante fixo.
# Salve Jorge (Globo, 2012) – Stênio.
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