Antonio Fagundes: “Gostaria de ter sido lembrado para tipos menos convencionais”

Por - 31/05/13 às 18:08

Luiza Dantas / Carta Z Notícias.

Bem-humorado e sem doses aparentes de vaidade, aos 64 anos, Antonio Fagundes exalta sua independência artística como um dos maiores trunfos de sua trajetória. Muito disso é porque, segundo ele, o trabalho na tevê sempre respeitou sua paixão pelo teatro, adequando-se à sua disponibilidade e desejos artísticos. Entre erros e acertos, Fagundes diz só fazer o que quer. Por isso, fica visível a empolgação do ator com César, seu personagem em Amor à Vida.

"Pela experiência revigorante que foi Gabriela, não tive como recusar o convite do (autor) Walcyr Carrasco e do (diretor) Mauro Mendonça Filho. A força dos personagens dessa nova novela é impressionante. Eu até poderia dizer não, mas topei", justifica, relembrando seu desempenho no remake da história de Jorge Amado, exibido até o final do ano passado.

Envolvido com os bastidores de Amor à Vida desde março, Fagundes, que é natural do Rio de Janeiro, acredita que boa parte do charme do folhetim é devido ao registro apaixonado com que São Paulo, cidade que acolheu sua família quando ele ainda era um garoto, é retratada.

"Sempre mostram a Marginal, o trânsito e acabou. São Paulo é uma cidade muito viva e cheia de possibilidades. Acho que será a primeira novela a mostrar a cidade com paciência", destaca.

A íntima história de Fagundes com a cidade confunde-se com as memórias do início de sua vida como ator e da carreira na tevê, quando nos primeiros anos da década de 1970, na extinta TV Tupi, participou de tramas como Mulheres de Areia e A Revolta dos Anjos. Já com ares de galã, Fagundes estreou na Globo em Saramandaia, de 1976, e, ao longo do anos, tornou-se um dos principais nomes da casa, protagonista de tramas importantes como O Dono do Mundo, Renascer, O Rei do Gado.

"Fiz muitos personagens marcantes na tevê, mas gostaria de ter sido lembrado para tipos menos convencionais. Ainda dá tempo! Tenho muitos papéis para viver", ressalta, aos risos.

Quase sem ar
 

Quando soube que as primeiras gravações de Amor à Vida seriam ambientadas em locais turísticos do Peru, Antonio Fagundes logo pensou que poderia ter economizado um bom dinheiro. Afinal, dois meses antes de viajar com a equipe da novela até o país, fez uma viagem com a família para o mesmo local.

"Foi uma grande coincidência. Revisitar o Peru a trabalho foi importante para integrar a equipe. Por já ter sentido a pressão da altitude, sabia exatamente o que me esperava na hora de gravar", ressalta o ator, referindo-se ao ar rarefeito das cidades peruanas, que estão, em média, a mais de 3.500 metros acima do nível do mar.

Mesmo sabendo das dificuldades, o ator admite que não foi fácil se readaptar ao ambiente nos oito dias que gravou a novela nas paisagens exuberantes de Cusco e Machu Picchu.

"As imagens ficaram lindas! Ao ver o capítulo, a gente até esquece dos problemas. É preciso um certo tempo para se acostumar com a altitude. Em alguns dias, tive de sentar para descansar depois de fazer coisas simples como escovar os dentes", relembra. 

Na ponta da língua
Conhecido por sua disciplina e pontualidade na hora de gravar, Antonio Fagundes desperta a curiosidade e a inveja de alguns de seus parceiros de cena pela facilidade com que decora seus textos. Sem apelar para processos de memorização ou intensos estudos em casa, Fagundes apenas chega no estúdio, dá uma lida nas cenas que vai gravar e está pronto.

"Acredito que isso seja um dom. Se pudesse, eu passava para todo mundo, mas é meu mesmo. Já tentei e não adianta ensinar. Cada um descobre o seu jeito de decorar. Os amigos morrem querendo saber como faço para decorar tão rápido", conta, aos risos.

O Fuxico: Apenas cinco meses separam o final de Gabriela e o início das gravações de Amor à Vida. Você esperava voltar ao ar em tão pouco tempo?

Antonio Fagundes: Definitivamente, não (risos). Eu acho importante dar uma pausa entre um trabalho e outro. Não tenho esse pensamento de que é preciso um tempo para um personagem sair e outro ir chegando. Para mim, um período maior entre as novelas serve mais para descansar e cuidar da minha vida. Mas, dessa vez, nem deu tempo de fazer muita coisa, voltei aos estúdios mais rápido do que eu pensava.

OF: E o que o fez aceitar o convite para a novela?

AF: Gabriela foi um trabalho muito gostoso e que me deu muitas alegrias. Tenho feito bons personagens, mas com o Coronel Ramiro eu pude experimentar uma composição mais elaborada e isso me deixou bem satisfeito. A tevê não me dá a oportunidade de fazer personagens como aquele. Assim como Gabriela, Amor à Vida é uma novela do Walcyr (Carrasco), dirigida pelo Mauro Mendonça Filho. Portanto, topei participar da trama pela oportunidade de voltar a trabalhar com eles e com boa parte da equipe da novela anterior. Achei que era um trabalho que pintava ser muito gostoso e está sendo.

OF: De acordo com a sinopse, seu personagem fica em Amor à Vida até o capítulo 80. Isso também foi estimulante na hora de acertar sua participação?

AF: Não escolho o que vou fazer na tevê pelo número de capítulos que tenho de trabalhar. Meu objetivo é fazer algo que me empolgue artisticamente. Mas é claro que projetos curtos são mais agradáveis. Gravar novela, apesar de prazeroso, é muito cansativo. É interessante essa redução no número de capítulos que algumas tramas estão promovendo. Acho que os folhetins precisam durar o necessário para contar a história e pronto.

OF: Mas assim como em outros trabalhos, você continua gravando apenas de segunda a quarta. Isso é uma exigência sua para fazer novelas?

AF: Não chega a ser uma exigência (risos). Na verdade, quando a Globo me chamou pela primeira vez para trabalhar, há 37 anos, eu estava completamente envolvido com teatro. Sou apaixonado pelos palcos e sempre estou com alguma peça em cartaz, inclusive, agora. Portanto, a única forma de eu conciliar essa minha prioridade com os chamados para a tevê era gravar nos dias de folga do teatro. Antonio Fagundes fala de sua autonomia dentro da Globo

OF: No seu contrato com a Globo existe alguma cláusula que resguarde essa agenda de gravações diferenciada?

AF: Nem precisa. É algo que, simplesmente, "pegou"! Quando sou chamado para uma novela, a equipe de produção já sabe da minha disponibilidade.

OF: Mesmo com essa limitação, seu nome é solicitado por muitas produções. Isso fica evidente ao ver que, desde os anos 1990, você mantém uma média regular de um trabalho por ano. O que o instiga a continuar fazendo televisão?

AF: Me sinto mais vivo do que nunca. E acredito que nunca me sentir plenamente realizado na profissão é o segredo. Sempre quero fazer uma coisinha a mais, buscar outros tipos e possibilidades. E isso é que é bonito. O momento que eu me sentir realizado, acabou. Acho que o gostoso é você estar sempre perseguindo alguma coisa, mesmo que você não saiba exatamente o quê (risos).

OF: Atualmente, personagens importantes de sua carreira estão sendo reprisados no canal por assinatura Viva, o Pedro, da série Carga Pesada, o Caio, de Rainha da Sucata, e o José Inocêncio, de Renascer.  Você costuma acompanhar suas cenas em trabalhos antigos?

AF: Caramba! Só dá eu por lá. Será que o público não enjoa, não? (risos). Infelizmente, consigo ver muito pouco dessas minhas atuações. De vez em quando, em horários mais alternativos, assisto a algumas cenas desses trabalhos. Até gostaria de ver mais, pois essa série é muito importante para mim e essas novelas são muito boas. Rainha da Sucata e Renascer foram dois marcos na minha carreira.

OF: Por quê?

AF: Em Rainha da Sucata, me deram, enfim, a chance de fazer comédia. Eu fiz muitas coisas cômicas no cinema e no teatro e eu vivo pedindo para os autores que escrevem comédia me chamarem, mas parece que eles não gostam. Formei um trio maravilhoso com a Claudia Raia e a Marisa Orth e a repercussão foi muito boa. Já no caso de Renascer, foi o início do meu trabalho em novelas do Benedito Ruy Barbosa, um autor que eu respeito muito e que me deu grandes cenas. São novelas exibidas há mais de 20 anos e é bem estranho me ver.

OF: Como assim?

AF: A sensação que eu tenho é que depois que passa um tempinho não é mais você. É um cara lá. Você já envelheceu, mudou, engordou. Parece que não sou eu.

OF: O César não é o primeiro médico de sua carreira, você já deu vida ao inescrupuloso Felipe Barreto, de O Dono do Mundo. Você buscou ou atualizou referências do universo da medicina para o novo personagem?

AF: César representa o meu olhar atual sobre a profissão de médico. Não sou de ir atrás de referências ou fazer laboratório Aliás, laboratório é coisa para químico. Somos atores. A gente tem, ao longo da carreira e da vida, como deformação profissional a observação. Isso é que faz com que eu esteja sempre pronto para fazer um personagem. Sempre olhei com muita atenção um médico, um advogado, um engenheiro, um arquiteto. Então trago essa experiência de vida para os personagens que faço. 

OF: O jogo de intrigas entre os filhos de César coloca seu personagem em um contexto muito parecido com o que você interpretou na pele de Raul, de Insensato Coração, exibida em 2011, pai do correto Pedro, de Eriberto Leão, e do torpe Léo, de Gabriel Braga Nunes. Essas situações semelhantes o incomodam ou o deixam com receio de se repetir?

AF: A verdade é que todas as novelas se assemelham de alguma forma. O que muda é o jeito de contar e a assinatura dos autores. Acredito que César tenha conflitos mais complexos. Ele tem problemas com o filho e é completamente apaixonado pela filha. Mas além dessa briga de poder, sobre quem vai herdar o hospital, meu personagem tem uma trama só dele. O casamento perfeito com a Pilar (Susana Vieira) vai ter algumas complicações depois do envolvimento dele com a secretária, papel da Vanessa (Giácomo). 

Trajetória Televisiva

# Nenhum Homem É Deus (TV Tupi, 1969) – Netinho.

# Bel Ami (TV Tupi, 1972) – Cadu.

# A Revolta dos Anjos (TV Tupi, 1972) – Vitor.

# Mulheres de Areia (TV Tupi, 1973) – Alaor.

# O Machão – Um Exagero de Homem (TV Tupi, 1974) – Petruchio.

# Saramandaia (Globo, 1976) – Lua Viana.

# Nina (Globo, 1977) – Bruno.

# Dancin' Days (Globo, 1978) – Cacá.

# Carga Pesada (Seriado, Globo, 1979) – Pedro.

# É Proibido Colar (TV Cultura, 1981) – Apresentador.

# Amizade Colorida (Seriado, Globo, 1981) – Edu.

# Avenida Paulista (Minissérie, Globo, 1982) – Alex.

# Louco Amor (Globo, 1983) – Jorge.

# Champagne (Globo, 1983) – João Maria.

# Corpo a Corpo (Globo, 1984) – Osmar.

# Vale Tudo (Globo, 1988) – Ivan.

# Rainha da Sucata (Globo, 1990) – Caio.

# O Dono do Mundo (Globo, 1991) – Felipe.

# Você Decide (Globo, 1992) – Apresentador.

# Renascer (Globo, 1993) – José Inocencio.

# A Viagem (Globo, 1994) – Otávio.

# Engraçadinha… Seus Amores e Seus Pecados (Minissérie, Globo, 1995) – Dr. Bergamini.

# A Próxima Vítima (Globo, 1995) – Astrogildo.

# O Rei do Gado (Globo, 1996) – Antonio / Bruno.

# Por Amor (Globo, 1997) – Atílio.

# Labirinto (Minissérie, Globo, 1998) – Ricardo.

# Terra Nostra (Globo, 1999) – Gumercindo.

# Porto dos Milagres (Globo, 2001) – Felix / Bartolomeu.

# Esperança (Globo, 2002) – Giuliano.

# Mad Maria (Minissérie, Globo, 2005) – J. de Castro.

# Carga Pesada (Seriado, Globo, 2003 – 2007) – Pedro.

# Negócio da China (Globo, 2008) – Ernesto.

# Tempos Modernos (Globo, 2010) – Leal.

# Insensato Coração (Globo, 2011) – Raul.

# Gabriela (Globo, 2012) – Ramiro.

# Amor à Vida (Globo, 2013) – César.

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