Após 25 anos, O Rappa se despede e não tem planos de volta
Por Redação - 02/03/18 às 15:20
O ano era 1993, Nelson Meirelles, Marcelo Lobato, Xandão e Marcelo Yuka montaram uma banda para acompanhar a turnê do cantor de reggae Papa Winnie no Brasil. Os shows terminaram e o grupo decidiu seguir carreira, desta vez, buscando um vocalista.
Marcelo Falcão chegou para completar o time. Assim nasceu a banda amada por muitos, O Rappa, que ganhou esse nome por conta da palavra “rapa” – que todo camelô sofre quando os policiais chegam recolhendo suas mercadorias – que ganhou mais um “p” e a letra “O” no começo pra ficar com mais pegada.
No ano seguinte, o primeiro disco chegava às lojas batizado apenas com o nome da banda.
Nelson Meirelles saiu em 94 e Lauro Farias entrou para o grupo. Em 1996, Rappa Mundi era o álbum que trazia Pescador de Ilusões, Hey Joe, A Feira e outros sons que deram início ao sucesso dos músicos. As rádios explodiam de pedidos de ouvintes enlouquecidos pelo recado que cada canção trazia.
Lado A Lado B coroou esse início, com músicas como Minha Alma – ganhadora de 7 prêmios MTV – e Me Deixa cheias de responsabilidade social e firmava: O Rappa estava dando seu recado. Neste mesmo ano, uma bala feriu Marcelo Yuka durante uma tentativa de assalto, deixando-o paraplégico, o que fez ele ter de parar com sua brilhante bateria, mas que não o afastou da banda: ele seguiu ajudando nas produções por um tempo. Marcelo Lobato assumiu a bateria.
Em 2001 chegou o ao vivo Instinto Coletivo e, 2003 trouxe mais um sucesso de responsa para a banda: O Silêncio que Precede o Esporro, álbum que gerou o primeiro DVD com o mesmo título e tinha as músicas Rodo Cotidiano e Reza Vela. Este foi o primeiro disco sem a participação de Yuka.
Depois disso vieram Acústico MTV Ao Vivo (2005), Warner 30 Anos: O Rappa (2006) com uma coletânea de sucessos, 7 Vezes (2008), Perfil: O Rappa (2009), Ao Vivo (2010), Nunca Tem Fim (2013), Acústico Francisco Brennand (2016) e Marco Zero (2017).
25 anos se passaram e a banda anunciou: vamos parar. Um choque para os fãs, mas uma escolha conjunta do grupo, que vem fazendo seus shows de despedida por várias cidades brasileiras.
Em São Paulo, o último show do O Rappa acontece neste final de semana, dias 3 e 4 de março, na casa escolhida por eles: O Espaço das Américas. Segundo a assessoria do local, o show de sábado está com lotação esgotada e, para o domingo (4) há pouquíssimos ingressos ainda à venda.
OFuxico conseguiu uma entrevista exclusiva com Xandão Menezes, guitarrista e um dos fundadores da banda. Ele contou sobre a decisão do fim, sobre ter fãs de diferentes faixas etárias, a marca que a banda deixa, afirmou que não existe rivalidade entre os integrantes e opinou sobre o que poderia causar a tão esperada mudança no Brasil. Confira!
OFuxico – São 25 anos de banda com um sucesso e uma marca enorme. Por que acabar?
Xandão Menezes: – 25 anos é muito tempo, cria e gera desgastes. Paramos uma vez por 2 anos e voltamos, foi bem salutar. Agora o desgaste chega a um ponto que você começa a pensar, por exemplo, em projetos solos, vontade de trabalhar com outras pessoas e vamos explorar isso também. O Rappa está estabelecido, é uma história bem contada, bem feita e nos dá tranquilidade para assumir outros projetos.
OF – Pararam em 2009 e voltaram. Existe a possibilidade de voltar desta vez; pode acontecer isso de novo?
XM – Tudo isso pode acontecer. Pode ser que sim, que exista um momento, mas não existem planos para isso.
OF – Como um dos fundadores como você está, como está o coração do “pai desse filho” no momento?
XM – Totalmente em paz, feliz da vida. Acho que a gente conseguiu fazer um projeto artístico musical no Brasil, que é bem difícil e conseguiu ter êxito. Não em termos de números ou sucesso, mas sim, de ter uma marca. Pra mim ter uma identidade é difícil e conseguimos isso. Eu tô tranquilo, graças a Deus, acho que como artista nunca vou parar, sou produtor e trabalho com outros artistas há um tempo. O Rappa é importante, foi importante e será sempre importante na vida da gente, mas não é a única coisa que a gente tem como objetivo nas nossas vidas. Temos prioridades como família, por exemplo. Cada um tem, nesse momento, suas prioridades. É um momento bacana e que não existe briga, temos jeitos diferentes de pensar. Talvez eu, o Lauro e o Lobato estejamos mais alinhados, com ideias e pensamos em fazer um projeto juntos. Mas não existe plano de volta do Rappa.
OF – Muita gente fala que há rivalidade entre vocês e que essa seria a principal causa do fim da banda. Então isso não existe?
XN – Nenhuma rivalidade. Existem diferenças. Não fomos com essas diferenças até o final, ou seja, não deixamos que elas atrapalhassem o Rappa e o melhor momento é esse. Se pensamos diferente, vamos cada um para um lado e está tudo certo.
OF – O que cada um vai fazer agora?
XN – Olha, pelo que o Falcão falou ele vai fazer um disco dele. O Laurinho não sei, temos esse projeto de voltarmos a tocar juntos que é uma coisa que pra gente dá prazer. Eu sinceramente agora vou dar uma parada, vou colocar minha vida em ordem, descansar um pouco e tocar meu projeto de tempos que não consigo acabar, que é um disco meu, mas que sempre fui negligente e acabei deixando pra um segundo momento, e agora decidi que vou finaliza-lo. Não tem planos decisivos, existe vontade e prazer de trabalhar e fazer música, que é o que a gente sabe fazer. E deixar as coisas acontecerem pelo acaso.
OF – Como é saber que tem tantos fãs de tantas gerações, mais velhos, os jovens, crianças… Como é ver isso?
XM – É uma sensação de realização, plenitude. Digo isso porque é a segunda geração dos nossos amigos que já levam os filhos. Acho bacana e de certa forma importante dizer que o discurso continua atual. Se fizer uma crônica de 25 anos do cotidiano do brasileiro, isso, nossas letras, felizmente ou infelizmente continuam muito atuais. O que quero dizer com isso é que é importante saber que estão escutando esse discurso e ao mesmo tempo ele continua o mesmo, as coisas não mudaram né?
OF – Qual a musica que mais marcou a carreira da banda, tem como pontuar?
XM – Pra cada um de nós deve ter uma música representativa. Tem momentos. Por exemplo Minha Alma foi uma música muito importante pra gente, nos deu 7 de 8 prêmios da MTV. Posso falar do álbum O Silêncio que Precede o Esporro, que foi um álbum muito importante pra gente com Tom Capone, produtor do disco, diretor da gravadora, foi uma pessoa de extrema importância na musica brasileira, um grande amigo que faleceu, infelizmente. São muitos momentos.
OF – Como faziam as composições?
XN – Era uma mistura de tudo, um tinha a letra, o outro melodia com arranjo pronto. Era um pouco de cada coisa e no final todos colocando a mão pra ter essa identidade, senão, perde-se a identidade.
OF – Ainda ajudam projetos sociais como banda?
XN – Há um tempo a gente diminuiu esse compromisso, porque acompanhar é complicado; a gente ficar junto e saber como as coisas estão andando é complicado. Mas temos o Projeto do Nana, na Baixada Fluminense, Rio de Janeiro que o Lauro vem acompanhando de perto a algum tempo, administrando. Tem pessoas que tocam esse projeto e ele supervisiona. E sempre estivemos dispostos a fazer, independente do Rappa, em contribuir de alguma forma. Já tem sido assim nos últimos anos com o envolvimento de cada um.
OF – Como é esse projeto do Nana?
XM – É uma casa que eles tinham, um projeto musical, a gente teve algumas coisas paralelas, como apoio de uma escola de inglês e a gente conseguiu uma bolsa para uma menina que foi estudar fora do Brasil. A gente tenta ao máximo dar apoio através da música, em primeiro lugar, e aceitando colaborações o tempo todo.
OF – Quem poderia ser o substituto do O Rappa hoje em dia?
XM – Gostaria que todos. A gente carece de que as pessoas cheguem ao cenário com mais facilidade. O Barro, de Recife, é um compositor fabuloso, o disco dele chamado Miocárdio… Aqui de Curitiba tem o Manchete Bomb, banda maravilhosa que gosto muito do trabalho deles. Tem tanta coisa boa que chegar a 25 anos não é objetivo, mas sim, ter identidade, conseguir uma marca que perdure. Quando produzo outros trabalhos tento enfatizar isso. Se consegue chegar a 25 anos, perfeito, uma marca incrível, louvável. Mas há dificuldade de música e arte não só no Brasil, mas no geral. Só das pessoas que chegam não passarem por esse gargalo de início de carreira, que se não fez sucesso o trabalho acaba e a banda se dissolve, já vale. E esse afã também pelo sucesso é meio danoso, perigoso para o trabalho artístico.
OF – Falamos sobre as músicas que ainda são atuais por conta da situação do país. Na sua opinião, o que acha que falta para o Brasil ter um povo menos sofrido e com uma vida mais digna, pra que possa pulsar de maneira com que todos vivam mais dignamente?
XM – Falta a Consciência de que as coisas não vão mudar no Brasil, se acontecer de cima pra baixo, ou seja, votar o melhor candidato, no melhor presidente não vai resolver o problema do país. O que vai resolver o problema do país é a consciência de que a gente precisa de uma educação melhor, uma educação de qualidade pra gente formar uma juventude, uma massa nova de pessoas, que consigam pensar e ter um discernimento melhor do que é melhor pra esse país. Acho muito difícil trocar um presidente e isso acontecer. Acho que essa revolução, essa novidade ou desejo que a população tem vem de uma comunidade como um todo e não de uma pessoa sentada num escritório, no ar condicionado decidindo o que é melhor para o cidadão.
Serviço:
Show: O Rappa – Espaço das Américas
– 03 de março de 2018 (sábado)
21h00 – Abertura da casa
23h30 – Início do show
Classificação: 18 anos
– 04 de março de 2018 (domingo) – show de despedida em São Paulo
17h00 – Abertura da casa
19h00 – Início do show
Classificação: 16 anos
Censura: 18 anos
Local: Espaço das Américas – Rua Tagipuru, 795 – Barra Funda – SP
Capacidade da casa para este evento: 8.000
Compras de ingressos: Nas bilheterias do Espaço das Américas (de segunda a sábado das 10h às 19h – sem taxa de conveniência ) ou Online pelo site Ticket360 https://goo.gl/xgibP
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