Armando Babaioff: “Quebramos uma barreira maior que o beijo gay na TV”
Por Redação - 14/09/13 às 10:08
Interpretar personagens de caráter inquestionável sempre parece uma tarefa complicada para os atores. Primeiro, pela trajetória retilínea que normalmente eles tomam, sem o charme do politicamente incorreto carregado pelos vilões. Mas também pelos inevitáveis clichês nos conflitos românticos, principalmente em tramas mais leves como as das 19 horas. Mesmo assim, Armando Babaioff transborda orgulho ao falar sobre o sensível Érico, papel que interpreta em Sangue Bom.
Aos 32 anos, o pernambucano acredita que tem nas mãos um dos papéis mais ricos de sua carreira na tevê.
"É um personagem bem escrito, estruturado e cheio de nuances. Uma grande porta de sentimentos e emoções onde precisei mergulhar para entender e conseguir dar vida a ele", avalia o ator, que estreou na tevê como o encrenqueiro Felipe de Páginas da Vida, em 2006.
Na trama, Érico é um publicitário que, no início da novela, só pensava em progredir no emprego e casar com a noiva Renata, vivida por Regiane Alves. Mas tudo mudou a partir do capítulo 33, quando flagrou a amada nos braços do bad boy Tito, papel de Rômulo Neto. E isso depois de ser demitido pelo recalcado Natan, de Bruno Garcia.
"Normalmente, vemos histórias de encontros nos folhetins. O que mais me instigou ali é que, na minha visão, mostramos a despedida de um casal que namorou durante 15 anos e, um dia, se perdeu", analisa Armando, que não descarta uma possibilidade de volta nesse romance até o final da trama, mesmo com o envolvimento de Érico com a experiente Verônica, de Letícia Sabatella.
"Nas novelas, precisamos estar preparados para tudo. Nas ruas, existe uma torcida grande por esse reencontro", diz ele, que caiu no gosto de Vincent Villari depois que o autor assistiu às suas cenas como o batalhador Benoliel de Duas Caras, em 2007.
Com o rompimento do noivado com Renata, Érico foi cada vez mais inserido no núcleo do Cantaí, casa de shows que ambienta boa parte da trama de Maria Adelaide Amaral e Vincent. E isso o aproximou de algo que, no teatro, já experimentou: atuar em números musicais. Sua estreia nesse segmento na tevê, aliás, também se deu pelas mãos de Vincent e Maria Adelaide. Na adaptação de Ti-Ti-Ti, exibida em 2010, Thales, seu personagem, se casava em uma espécie de acordo de vantagens com Jaqueline, papel de Claudia Raia. Mas, depois de se assumir gay, declarava amor ao cabeleireiro Julinho, de André Arteche, com quem tinha um final feliz. E a cena de despedida entre ele e a esposa, antes da partida para a nova vida em Saquarema, na Região dos Lagos do Rio, teve o casal cantando.
"Já tive aulas de canto particulares, no curso técnico que fiz de interpretação e também na faculdade, na Unirio. Nunca tive pretensões de me tornar cantor, mas acho bacana poder misturar atuação e música, inclusive na televisão", conta.
Agora, Babaioff experimenta uma nova fase de seu personagem em Sangue Bom. Depois de sofrer um grave acidente e passar por uma cirurgia na cabeça, Érico enfrenta um transtorno de comportamento pós-trauma. O distúrbio emocional faz com que o personagem se torne mais agressivo e passe a ter reações que, antes da operação, não teria. Como, por exemplo, ser intensamente ríspido com Verônica e surpreendentemente amoroso com Renata.
"Estudei um pouco disso e vi casos impressionantes. Tanto de gente que era introspectivo e se soltou quanto de pessoas mais expansivas que, com o trauma, se tornaram mais quietas", explica.
Com o fim da novela, previsto para 1 de novembro, o ator ainda não tem novos planos para a tevê. Lamenta, inclusive, não ter participado da segunda temporada de Do Amor, série que protagonizou com Maria Flor para o Multishow. Por enquanto, sua agenda só tem compromissos certos com o teatro.
"Quero voltar logo à tevê, mas não fico esperando as oportunidades. Viajo com uma peça no fim do ano e, no início do ano que vem, já começo a ensaiar outra", avisa.
Na boca do povo
Uma coisa que deixou Babaioff surpreso foi a receptividade do público em relação à traição de Renata. Durante vários dias, ele foi "avisado" pelos telespectadores de que não deveria confiar plenamente na moça. E, garante, a solidariedade dos homens com o personagem "chifrado" foi tamanha que chamou sua atenção.
"Eu sabia que o humor criava uma identificação forte, mas não imaginava que o público se sensibilizasse com um cara traído. As pessoas se sentem suas amigas, consolam você, é um barato", fala, às gargalhadas.
O contato mais próximo com os telespectadores, na verdade, se intensificou desde que interpretou o surfista Thales de Ti-Ti-Ti. Na pele de um homossexual que sai do armário ao se apaixonar por outro homem, o ator conta que recebeu inmeras cartas e mensagens pela internet de pessoas que passaram pela mesma situação ou parentes de gays que sofreram para se assumir.
"Discutem o beijo gay na tevê, mas ali quebramos uma barreira muito mais importante: a de dois homens dizendo 'eu te amo'. Acho que isso tem uma força maior que dois lábios se tocando e trouxe uma repercussão impressionante. E bastante positiva", reflete.
Instantâneas
# Armando Babaioff começou a fazer teatro aos 12 anos, na Escola Municipal Pio X, em Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio de Janeiro.
# O ator chegou a concluir o curso técnico de Edificações na Escola Técnica Estadual Ferreira Viana, no Maracanã, na Zona Norte do Rio, entre 1997 e 1999.
# Babaioff nasceu no Recife, onde viveu por seis anos. Depois, morou dois anos em Fortaleza, mudando-se para o Rio em seguida.
# Ele se tornou conhecido como ator depois de vencer uma seleção com mais de 300 candidatos para protagonizar, ao lado de Vera Fischer, o espetáculo "A Primeira Noite de um Homem", em 2004, com direção de Miguel Falabella.
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