Ator deixa sua vida em Los Angeles para atuar em Saramandaia

Quando se trata de compor um personagem, Fernando Belo é inquieto. E vai atrás das mais variadas referências para traçar um caminho em sua interpretação. Principalmente, quando tem em mãos um rapaz bom e correto como o prefeito Lua de Saramandaia. Afinal, cair no estereótipo do mocinho chato era algo que o ator queria evitar de qualquer jeito.

"Para mim, essa é a grande dificuldade do papel", decreta.

Por isso, apostou na paixão que Lua tem por suas ideologias, que faz com que o personagem, volta e meia, perca a cabeça defendendo sua posição.

"Essa emoção arranha um pouquinho a perfeição do Lua", acredita.

Foi analisando as características do personagem que Fernando percebeu que poderia se aprofundar ainda mais em sua concepção do Lua. Como, na trama, o prefeito prega o pacifismo e a resolução dos problemas através da não-violência, o ator resolveu ler sobre Mahatma Gandhi. A sua pesquisa – por conta própria –, aliás, acabou influenciando detalhes no cenário da prefeitura da novela. Dois dias antes das gravações por lá, Fernando falou sobre a relação que encontrou entre seu personagem e os ensinamentos de Gandhi para o diretor de arte.

"Aí, então, ele correu, procurou uns quadros e uns livros do Gandhi para colocar no cenário", revela ele, que também estudou sobre os ex-presidentes americanos Lyndon Johnson e John Kennedy.

"Eram presidentes que vinham com esse dado novo da neutralidade, pelo menos no discurso", explica. 

Outro ponto importante para Fernando foram as primeiras gravações em Bananal, no estado de São Paulo. O ator e parte do elenco, além da equipe da novela, ficaram uma semana realizando sequências em fazendas da época dos grandes cafeicultores. Uma oportunidade para conhecer mais sobre parte do passado do Brasil e receber uma "injeção" de ânimo para encarnar o personagem.

"Era um ambiente muito rico em história. Deu uma energia para esse começo", conta ele, que viu pouca coisa da primeira versão de Saramandaia, escrita por Dias Gomes e exibida pela Globo em 1976. O material que conferiu na internet foi só a título de curiosidade e não para servir como fonte de inspiração.

"É uma outra novela, com atores diferentes. Personagens que existiam na primeira versão estão escritos de outra maneira hoje", justifica.  

Diante de um elenco formado por atores consagrados – como Tarcísio Meira, Lilia Cabral, José Mayer, Renata Sorrah, Fernanda Montenegro, Débora Bloch e Aracy Balabanian, entre outros , Fernando se sentiu ainda mais estimulado. Nem de longe se viu inseguro por ter de contracenar com nomes de peso da teledramaturgia.

"Me dá mais tranquilidade estar bem cercado e motivação por saber que tenho de trabalhar para estar à altura. Não podia ser um começo melhor", constata o ator, que interpreta seu primeiro personagem fixo em uma novela – sua estreia na tevê foi com uma participação em Dance, Dance, Dance, exibida pela Band em 2007.

"Entrei no meio da novela e foi uma experiência boa ter esse primeiro contato", recorda.

Para encarnar o prefeito Lua, Fernando viu sua vida dar um giro de 180º. Isso porque ele estava há quatro anos nos Estados Unidos, estudando Artes Cênicas na CalArts – California Institute of the Arts , renomada faculdade de Los Angeles. E pretendia se estabelecer por lá. Até que recebeu uma ligação da produtora de elenco de Saramandaia o convidando para um teste no Brasil.

"Fiquei um pouco reticente porque estava com a vida montada lá, mas teve uma coisa de intuição e fui", ressalta ele, que retornou para L.A. e, depois de algumas semanas, foi chamado para uma nova avaliação, de novo no Brasil.

Até que, em janeiro, quando estava envolvido com o início dos trabalhos de uma peça nos Estados Unidos, soube que havia sido aprovado para o elenco de Saramandaia.

"Não tive muito tempo de pensar e confesso que vim para cá sem ter certeza se era o caminho certo. Mas não demorou muito para eu ver que era isso que tinha de fazer mesmo", assegura.
 

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