Autor comenta veto de gravação da novela Páginas da Vida, no Rio

Por - 05/04/06 às 15:33

Felipe Panfili

Autor de Páginas da Vida, que substituirá Belíssima a partir de julho na Globo, Manoel Carlos se encontra no centro de uma polêmica, antes mesmo de a trama estrear: a proibição pela prefeitura carioca da gravação de um arrastão na praia do Leblon.

Como acontece em todas as suas histórias, o bairro escolhido para retratar o cotidiano de seus personagens é o Leblon, zona sul carioca, onde o novelista reside.

“Nem sei se foi o próprio prefeito (César Maia) ou algum órgão competente ligado à Prefeitura que não permitiu a gravação nas areias do Leblon, argumentando que a cena faria mal para o prestígio da imagem da cidade. Mas quando abrimos os jornais, os arrastões, enfim, a insegurança no Rio de Janeiro como um todo, está lá estampada. O Leblon, como qualquer lugar da cidade, é muito mal iluminado e registra, na realidade, muita violência, entre as quais se incluem os arrastões. Mas isso é uma questão a ser resolvida entre a produção da novela e as autoridades”, diz o novelista, deixando nas entrelinhas que não vai abrir mão da cena. 

Outro tema delicado que Páginas da Vida vai abordar será a paixão entre um portador do vírus do HIV por uma freira, interpretada por Letícia Sabatella. Manoel Carlos não acredita que vai comprar uma briga com a Igreja Católica.

“É o rapaz, cujo ator ainda não foi definido, que se apaixonará pela freira e não a religiosa por ele. Aliás, é muito fácil se apaixonar pela Letícia Sabatella”, brinca o autor.

Cronista da polêmica

Manoel Carlos imprime uma característica singular em seus folhetins: é um verdadeiro cronista do cotidiano. Começa contando uma história simples e quando o telespectador menos espera, aquela situação torna-se uma grande polêmica. Dois bons exemplos são as últimas novelas assinadas por Maneco: Laços de Família e Mulheres Apaixonadas.

Em Laços de Família, apresentada de junho de 2000 a fevereiro de 2001, a polêmica surgiu em torno do elenco infanto-juvenil e da gravidez de Camila, personagem de Carolina Dieckmann que já estava grávida quando se casou com Edu (Reynaldo Gianecchini). O site www.teledramaturgia.com.br relata o acontecimento:

“O juiz Siro Darlan, da 1ª Vara de Infância e Juventude do Rio de Janeiro, achou que não poderia haver crianças convivendo no ambiente da novela, que ele julgava apelatória por causa das cenas de violência e sexo. Por isso, proibiu que menores de idade aparecessem nas gravações. O veto durou três semanas, até que os advogados da Globo derrubassem a medida. O conteúdo da novela aborreceu também a Arquidiocese do Rio de Janeiro, que se recusou a ceder uma igreja para a gravação do casamento de Camila e Edu. O pretexto para a proibição foi de que a personagem de Carolina Dieckmann estava grávida, o que contraria princípios da religião católica. O casamento aconteceu numa capela de mentirinha construída nos estúdios do Projac. Por último, a Justiça determinou que a novela não poderia ir ao ar antes das 9 da noite. Tanta confusão, é claro, acabou atraindo ainda mais espectadores”.

Com Mulheres Apaixonadas, outro sucesso de Manoel Carlos que bateu recordes de audiência durante a sua exibição de fevereiro a outubro de 2003, o autor mexeu com a cabeça dos telespectadores e das autoridades. A trama discutiu, entre outros temas, o homossexualismo feminino, a violência doméstica e o preconceito contra os idosos, além da violência urbana, mostrada na cena em que Fernanda (Vanessa Gerbelli) morre com um tiro disparado por um assaltante em uma das mais badaladas ruas do Leblon.

O romance entre as jovens lésbicas Rafaela (Paula Picarelli) e Clara (Alinne Moraes) mereceu, conforme destaca o site www.teledramaturgia.com.br, uma pesquisa encomendada pela Globo na qual se comprovou a simpatia do público pelas personagens, desde de que não houvesse cenas de beijo. E o prefeito César Maia, do Rio de Janeiro, hesitou, mas acabou permitindo que as filmagens das cenas do assalto que culminou na bala que atingiu Fernanda fossem feitas no bairro onde reside o autor e onde Maneco localiza suas histórias.

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