Autor da Record diz que público é viciado em novelas globais
Por Redação - 15/09/05 às 12:50
Foram quase 20 anos que Marcílio Moraes, autor de Essas Mulheres, da Record, trabalhou na Globo. Por isso, ele pode analisar, desde a seriedade do investimento que a emissora paulista está fazendo ao retomar seu departamento de teledramaturgia, até as maiores dificuldades encontradas pela concorrência.
“A Record não está de brincadeira. Tem a pretensão de superar a Globo na área de teledramaturgia. É claro que existem algumas diferenças na produção de uma novela fora da Rede Globo, mas nada significativo, que comprometa o produto. A maior diferença é mudar o hábito das pessoas, que estão viciadas na Globo, a conferir uma novela feita por outro canal. É um hábito antigo, de décadas, que a Globo soube criar”.
Escritor e dramaturgo, que terá seu romance Crime na Gávea e sua peça A Demanda transformados em filmes, ainda sem data de começarem a rodar, Marcílio diz que está feliz com o sucesso de sua primeira investida na Record. A trama repete a boa audiência de sua antecessora, A Escrava Isaura, apesar de competir com a comédia rasgada A Lua Me Disse, da Globo.
Escrita por Marcílio de Moraes e Rosane Lima e contando com os colaboradores Bosco Brasil e Christiani Friedman, Essas Mulheres faz uma adaptação dos clássicos literários Senhora, Diva e Lucíola, de José de Alencar.
“Em televisão existe o que se chama de coordenação de área. A da dramaturgia da Globo entra em ação às 17h30 com Malhação, segue com a novela das seis, das sete, a novela depois do Jornal Nacional e, às vezes, uma minissérie. Quando a minha novela é exibida, a Globo já está com três no ar. Por isso, insisto que a maior dificuldade é romper essa inércia do telespectador”.
Marcílio Moraes classifica de estimulante o desafio de enfrentar a toda poderosa Rede Globo, com as mesmas armas.
“Estar fora da Globo é um desafio muito significativo, interessante, estimulante. Mas é uma batalha. Na Globo, a partida está três a zero, faltando cinco minutos para o fim. Na Record, o time está perdendo de três a zero e tem que virar o jogo. O resultado de Essas Mulheres tem sido bom. Minha novela tem tido uma boa aceitação, tanto de audiência quanto de prestígio. Na Globo não tinha mais graça. Depois de 19 anos, enche o saco. A oportunidade de mudar de canal veio em boa hora”, conta o autor, que tem contrato de dois anos com a Record.
Atual presidente da Associação Brasileira de Roteiristas, Marcílio Moraes defende a proposta da diversificação de produtos na área de teledramaturgia.
“Defendo que não devia ter tantas novelas. Sou favorável a que se tenha uma restrição legal a isso, como acontece na França e nos Estados Unidos, onde há leis protegendo a diversificação. Deveria se produzir seriados e outros tipos de dramaturgia que empregariam um número maior de pessoas, porque a novela tem uma duração grande e uma variação mínima da quantidade de mão-de-obra”, conclui.
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