Autor de Amor à Vida diz ser vítima de intolerância na web

Por - 01/02/14 às 16:28

Divulgação/TV Globo

Walcyr Carrasco, autor de Amor à Vida, que terminou na noite de sexta-feira (31) com cenas maravilhosas, como a das pazes de Félix (Mateus Solano) com o pai, Cesar (Antonio Fagundes) e entrou para a história com o primeiro beijo gay em novela na TV,  fez um longo relato em sua página na revista Época, neste sábado (1). Ele discorre sobre o bem e o mal que a internet é capaz de produzir.

“Falar de tudo de bom que a internet trouxe para nossas vidas seria redundante. A começar de sua incrível capacidade de redimensionar os relacionamentos, por meio das redes sociais, e de criar novas capacidades de mobilização. Eu sou fã, sim, da internet.

Mas também tenho visibilidade pública, por escrever novelas. Descobri que a internet me tornou alvo de intolerantes ou de pessoas visivelmente mal-intencionadas. Pior, as pessoas acreditam no que leem. Mais que isso: boa parte da imprensa também se garante com informações jogadas na rede. Claro que não se trata de veículos ou mesmo jornalistas respeitáveis. Mas quem lê faz esse discernimento?”, escreveu o novelista.

Walcyr continua seu relato dizendo que o “ nível de intolerância no Twitter é espantoso”. Conta ainda que pessoas que entram para xingá-lo, simplesmente.

“Idiota” ou ‘Tudo o que você escreve é uma porcaria’ são xingamentos comuns. Muitas vezes, quando a colocação era mais amena, eu tentava responder. Em muitas, descobria ser impossível: o usuário não existia mais. Há quem crie perfis falsos, entre, xingue e delete o fake. Noutros casos, uma mesma frase, contra a novela, era repetida de forma incessante, aparentemente por pessoas diferentes.”

Walcyr ainda destaca o uso de redes sociais para lavação de roupa suja e a dimensão que as coisas ganham após essa exposição. Ele cita o caso e uma vez em que se indispôs com uma atriz, a qual ele não dá o nome:

“Certa vez, uma atriz desempregada expôs nossa discussão no Facebook para me acusar de racismo num grande jornal paulista. Óbvio, era negra. Impossível dizer de onde ela tirou a acusação, já que na conversa eu dizia claramente que quero trabalhar com atrizes negras, que preciso delas. Mas que não trabalharia com ela especificamente, por ser chata. Meu Deus, como era chata e rancorosa! O jornal publicou a íntegra da conversa. A manchete me acusava. Só quem leu frase a frase constatou que eu falava a favor de atrizes negras. Detalhe: o jornal não me ligou para saber meu lado da questão. Só deu o dela.”

Ainda em seu texto, Walcyr comenta sobre sua experiência com as redes sociais após escreve uma novela de horário nobre da Globo:

Depois de uma novela das 21 horas, me sinto calejado em relação às redes sociais. Podem me xingar, ameaçar. Bloqueio a pessoa, que certamente ressurgirá com um perfil falso, obcecada em me destruir. Já me arrumaram amores, novas novelas, fofocas de todo tipo. Outro dia alguém declarou que eu havia passado o fim de semana em Angra, acompanhado. Mentira. Estava em São Paulo, quietinho no meu canto, terminando a novela. Recebi vários e-mails, virei comentário no país todo, e alguns jornais reproduziram a bobagem. Pes­soas próximas a mim se disseram magoadas, por não ter sido convidadas. Adianta insistir que não fui?”

Por fim, o autor diz ser a favor da liberdade de expressão, mas gostaria que ferramentas impedissem a ação de perfis falsos nas redes sociais:

“Sou a favor da liberdade de expressão. Mas talvez fosse o caso de impedir a existência de fakes. É atrás das máscaras virtuais que se escondem os intolerantes, acusadores, agressores de todo tipo. (…) Jamais pensaria em proibições de redes sociais e sites específicos, como na China. Mas a internet se tornou um território selvagem, onde os frágeis não têm vez”.

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