Autor João Camargo avalia o humor em sua carreira na TV

Por - 19/10/12 às 13:32

Jorge Rodrigues Jorge/ Carta Z Noticias

Em poucos minutos de conversa, João Camargo entrelaça diversos assuntos e demonstra uma inquieta sagacidade. Veloz ao tentar conduzir suas ideias e com um humor irretocável, João já se habituou em ser chamado para atuar em papéis engraçados na tevê. Atualmente ele está na pele do solitário sonoplasta Duílio, em Balacobaco, na Record, que faz dupla jornada na trama de Gisele Joras – seu personagem também trabalha cuidando do idoso Aragão, vivido por Umberto Magnani.

"Tento fazê-lo de forma politicamente incorreta. Ele conta umas mentirinhas para o velho, inventa umas coisas para escapar do trabalho", diverte-se.

Mas esta multiface de seu personagem se distancia um pouco da personalidade do ator carioca, que ficou conhecido na tevê justamente na hora do intervalo. Era quando aparecia ao lado de Drica Moraes em comerciais do extinto Unibanco. João, que na época ficou famoso como o Casal Unibanco, jamais voltou a fazer comerciais.

"Fiquei marcado. Antes fazia comercial da Chevrolet, Casas Pernambucanas, um monte de coisas. Depois do Casal Unibanco, nunca mais. Até hoje o público se lembra", constata, aos risos.

OF – O Duílio é seu segundo personagem na Record, no qual você novamente atua na comédia em uma trama da Gisele Joras. Você não teve receio de se repetir?

João Camargo – Até gostaria dar uma variada em algo fora da comédia, mas estou no começo da novela e muito entusiasmado. Esse personagem me chamou atenção por ser um solitário. Ele transita por vários núcleos, tem dois trabalhos. Em um deles é cuidador de idoso, no caso o Aragão, do Umberto Magnani, onde o Duílio frequenta o grand monde, a burguesia. Esse ncleo me lembra muito as peças do (dramaturgo francês) Molière, que sempre tem a criada com a função de armar sua vida por trás, independentemente dos patrões. No outro núcleo, ele é sonoplasta da Rádio Ampola. Lá é o lugar que ele mais se diverte. Tem a parte lúdica. Ele também transita pela pastelaria, que é o núcleo Catete. Vejo que a história da vida dele se passou ali. Costumo criar pelo menos o esboço de um passado para cada personagem que me sirva de composição. Inventei coisas sobre ele para me dar suporte.

OF – Que coisas?

JC – Que ele pode ter tido um grande amor na vida. A mulher fugiu e deixou algum trauma no passado dele, que justifica esse desespero todo em ocupar o tempo. Ele é classe média, trabalha em dois empregos, ganha o suficiente para viver, mas é tão desesperado que faz teste para garçom, teste de elenco. A mensagem que eu quero passar através dele é “aproveite o momento, tudo passa muito rápido”. O personagem que fiz em "Bela, A Feia", o Haroldo, era totalmente diferente. Ele administrava a vida dele, era meio paizão, provedor, quem mandava, era a "queen" por ser "gay". O Duílio não. Ele pula. Acho que ele é um pouco o coelho da Alice (personagem da obra "Alice no País das Maravilhas") (Risos).

OF– Que dados você buscou para a composição do Duílio como radialista, já que a rádio da trama parece de décadas atrás, com alguns tons acima?

JC – Já tive a oportunidade de dar aula de Teatro em uma faculdade de rádio e televisão. Convivi com esse mundo da rádio, já dei muita entrevista, a gente sabe como rola. É legal trabalhar em algo que tem de ser um "reloginho suíço". Tem uma mesa de som, um vidro e você tem de ouvir o colega através do vidro. O público vai interagir muito com a rádio pedindo músicas e meu personagem e o radialista Plínio (vivido pelo Rodrigo Phavanello) tiram onda do que o ouvinte está falando. É misterioso como o teatro. O público para falar de dores, perrengues. O radialista apimenta, joga uma msica para brincar com a situação.

OF– Você é naturalmente engraçado, mesmo distante dos seus personagens. A comédia é o gênero no qual você se sente mais à vontade?

JC – Tenho feito muita comédia e acho que ela é muito difícil. Acho que a comédia é superestimada porque tem um drama profundo nela e essa filigrana deixa sempre a possibilidade de você cair no exagero, na palhaçada pela palhaçada. Se você vê uma pessoa tropeçando, a sua tendência é rir, mas aquilo é trágico. Isso move muito o público. O Duílio é um malandro atrapalhado. O atrapalhado não deixa de ser uma falha trágica e isso resulta na comédia. Ele é desesperado para fazer 500 mil coisas porque é solitário e vai com muita sede ao pote. O riso pelo riso não adianta. Se você não sentir aquilo de verdade, o público não vai sentir em casa. Televisão é igual ao teatro. A mesma coisa. Mas a comédia sempre foi mais marcante no meu trabalho na televisão.

OF – Desde a sua estreia na tevê, em Vale Tudo, do Gilberto Braga, você alternou papéis em novelas com programas da linha de shows. Depois, durante anos, só atuou em programas de humor na Globo até ir para a Record. Como você avalia esse trajetória?

JC – Em um momento da minha carreira, o (diretor Maurício) Sherman me chamou e eu fui ficando ali, fazendo o Zorra Total. Fiz participações no Cilada, no Multishow, fiz Retrato Falado com a Denise Fraga. Não é que a gente opte pela linha de shows. Gosto um pouco de me deixar ser levado. Vou fazendo os trabalhos de acordo com os convites. Quem me chama, eu faço. Fiz muita comédia na televisão, mas no teatro fiz todos os gêneros, até peças surrealistas. Estou com contrato com a Record até 2013. É meu primeiro contrato longo com uma emissora. Isso é muito importante. Chega uma hora que é bom tirar umas férias, produzir teatro com mais calma. Estou com 52 anos e ralando há 30 anos.

 

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