Caio Blat se prepara para dirigir seu primeiro filme

Por - 02/11/12 às 10:10

Pedro Paulo Figueiredo / Carta Z Notícias

Crescer na televisão fez bem a Caio Blat. Na frente das câmaras desde os 11 anos de idade – quando participou da série infantil Mundo da Lua, da Cultura –, o ator acredita que começar cedo o deixou mais disciplinado e distante de qualquer sinal de estrelismo.

"Eu me divertia trabalhando! Passei por muitos testes, alguns momentos de altos e baixos, isso foi importante para eu ganhar uma certa 'bagagem' dentro da minha profissão", analisa o intérprete do invejoso Fernando de Lado a Lado, da Globo.

Caio Blat se prepara para dirigir seu primeiro filmeAos 32 anos, o paulistano Caio é um dos principais atores de sua geração. Com uma carreira extensa na tevê e no cinema, ele agora se prepara para filmar seu primeiro longa como diretor. Trata-se de uma adaptação do livro Juliano Pavollini de Cristovão Tezza. 

 

O filme será ambientado na Curitiba dos anos 1950 e vai contar a história de um jovem que sai de casa disposto a ganhar o mundo. Detalhe: ele foge com o dinheiro do enterro do pai. Para protagonizar o longa no papel da mãe desse jobem, Caio convidou Cássia Kiss Magro, que viverá uma cafetina chamada Isabel.

"Acho que estou pronto. Depois de aprender com tanta gente, chega um momento onde você quer fazer algo com a sua cara", explica.

No entanto, só começa a produção do filme quando as gravações da atual novela das seis chegarem ao fim.

"Estou adorando esse trabalho. É o resgate de um Brasil de contradições e que diz muito sobre o país que somos hoje", avalia.

O Fuxico – Você estava envolvido com a produção de um filme quando foi chamado para integrar o elenco de Lado a Lado. O que fez você adiar seus planos e encarar a novela?

Caio Blat – O Fernando é um personagem riquíssimo. Do ponto de vista histórico, ele é filho de um senador, pertence à aristocracia do início do século passado e está envolvido com a questão da chegada do futebol no Brasil. O pano de fundo é muito bacana! Mas ele vai além. O fato do senador não ser um político dos mais honestos e ainda envolver o Fernando em suas falcatruas é incrível. É bacana mostrar em uma trama de época, algo que está no noticiário atual.

OF – Você acha que política é uma tema que deveria ser mais abordado em novelas?

CB – Com certeza! E por Lado a Lado ser o retrato do Brasil no início do século XX, é interessante ver que a corrupção veio do Império e está totalmente integrada aos políticos da República. A novela mostra que desde aquela época as licitações já eram fraudadas, certas empresas já eram favorecidas pelo governo, a existência de Caixa 2, e até de construtoras que superfaturavam as obras. É um folhetim de época, com assuntos muito pertinentes e atuais. Mas a novela não trata apenas desses pontos contras. Tem o futebol também, que é uma das maiores paixões do brasileiro.

OF – Você é torcedor do Corinthians, em São Paulo, e do Fluminense, no Rio de Janeiro. Já conhecia a história do futebol no Brasil ou tudo foi uma surpresa?

CB – Sou fanático por futebol e muito curioso. Já tinha feito algumas pesquisas a respeito (risos). Mas na preparação para a novela estudei o esporte da época de forma mais intensa. O futebol veio para o nosso país por causa dos jovens filhos de aristocratas e dos imigrantes. E aí começaram a surgir os primeiros clubes: São Paulo, Vasco, Fluminense. É um assunto muito interessante, abordado de maneira bem natural na trama.

Caio Blat se prepara para dirigir seu primeiro filmeOF – Seu personagem tem uma relação familiar conflituosa, principalmente com o pai. Ele pode vir a ser o principal vilão de Lado a Lado?

CB– Acho bem possível (risos). Ele tenta entender a razão de ser deixado de lado. Parece que existe um segredo, que nem eu sei ainda, em relação aos pais e ao irmão que justificaria o fato do pai não gostar dele, apenas do Edgar (Thiago Fragoso). Fernando vive sendo humilhado e desprezado. Isso desperta a inveja e ódio dele pelo irmão. Portanto, acaba tornando-se um vilão tipicamente rancoroso. Mais tarde, com a ajuda de uma mulher, essa mágoa construída ao longo do tempo vai ser usada para ele se vingar do descaso do pai.

OF – É quando entra em cena a Catarina, personagem da Alessandra Negrini?

CB – Isso mesmo. Ele vai ser manipulado por ela. Catarina a se aproxima do meu personagem ao saber que o Edgar está casado. E vai usar as fraquezas do Fernando para chegar aos seus objetivos. É a partir deste ponto que ele deve ser tornar um grande vilão. Bem no estilo que me atrai, carregado de uma mágoa profunda e extremamente humanizado. Isso gera cenas maravilhosas!

OF – Alguma sequência em especial?

CB – Teve uma bem recente na qual contraceno com a Bia Seidl. Nela, Fernando fala que passou a vida inteira tentando agradar o pai e sempre foi desprezado. E isso repercutiu na destruição da relação dele com a família e, principalmente, com o Edgar. Porque o Senador Bonifácio (Cássio Gabus Mendes) escolheu amar apenas um filho. Foi uma cena difícil, de muita emoção, e que sintetiza a história do meu personagem.

OF – Seu último trabalho na televisão foi Morde & Assopra, uma novela que flertava com a ficção científica. E agora você está em uma trama de época. Papéis diferentes na tevê são uma busca para você?

CB – Por afinidade e postura, a gente acaba atraindo certos tipos de trabalhos e personagens. Eu valorizo muito a diversidade na minha carreira. Acredito que os diretores da emissora já captaram isso e me chamam para fazer coisas bem diferentes. Acho que é porque eu não tenho frescuras ou limitações, se for para mudar de visual eu mudo, não me importo com papéis menores, em ser vilão ou mocinho, ou com a possibilidade de fazer um personagem fora da realidade. Eu gosto de ousadias e elas são importantes nas minhas escolhas.

OF– Em Lado a Lado você volta a ser dirigido pelo Dennis Carvalho, 11 anos depois de você protagonizar Um Anjo Caiu do Céu. Como está sendo esse reencontro?

Caio Blat se prepara para dirigir seu primeiro filmeCB – Nem lembrava que fazia tanto tempo assim que eu tinha feito Um Anjo Caio do Céu (risos). Lembro que a novela era um sucesso entre as crianças. Foi um trabalho importante para estreitar meus laços com o público de tevê. E boa parte disso, eu devo ao Antônio Calmon e ao Dennis. É muito bom voltar a trabalhar com o ele! Além da novela ser linda e do personagem ser bom, um dos grandes atrativos de Lado a Lado foi o fato de ser uma novela dirigida pelo Dennis. Tanto que eu aceitei na hora (risos).

OF – Você já dirigiu espetáculos teatrais e agora se prepara para comandar seu primeiro longa-metragem. O que o levou a investir na carreira de diretor também?

CB – Acho que é a evolução de uma trajetória. Como ator, trabalhei com tantos diretores diferentes, aprendi tanta coisa, que chegou a hora que me deu vontade de estar por trás das câmaras. Assim como fizeram alguns amigos da minha geração, como Selton Mello e o Mateus Nachtergaele. No momento, além da novela, eu só penso no meu filme. Comprei os direitos do romance Juliano Pavollini, do escritor Cristovão Tezza e me sinto empolgado com a história. Ainda estou preparando o roteiro, mas já tenho a Cássia Kiss como protagonista.

OF –  A grande maioria dos filmes nacionais depende do apoio da Globo Filmes para chegar aos Cinemas. Como você lidou com a divulgação de um vídeo seu no You Tube, filmado em uma palestra na cidade de Suzano, interior de São Paulo, onde você faz críticas ao modo com que a Globo Filmes se associa aos produtores dos longas?

CB – Foi uma situação infeliz. Como funcionário da Rede Globo e pelos anos de parceira com a Globo Filmes, eu deveria mesmo pedir desculpas e foi o que fiz. Procurei as pessoas certas e acho que ficou tudo resolvido. É um assunto superado. Tenho uma história muito forte com a Globo Filmes, e vários projetos futuros. Agora no fim do ano, já estou envolvido com o lançamento de "A Noiva ou a Mula", uma comédia rural, baseada na obra de Guimarães Rosa, e dirigida pelo Luiz Henrique Rios, que também é diretor da Globo.

Lado a Lado – Globo – de segunda a sábado, às 18:20 h.    

Segunda chance

A carreira de Caio Blat consegue transitar bem entre os personagens comerciais que o ator defende na tevê, e o virtuosismo artísticos dos tipos que interpretra no cinema.

"Eu não consigo escolher entre fazer filmes ou novelas. Apenas faço questão de bons trabalhos", garante.

Para a satisfação de Caio, um de seus ltimos trabalhos no Cinema, o longa Xingu, de Cao Hamburger, será adaptado para o formato de microssérie pela Globo, para ser exibido como especial de fim de ano.

"É a oportunidade do povo brasileiro assistir a um filme importantíssimo para sua história", valoriza.

Filmado em 2010, o longa chegou este ano aos cinemas brasileiros e conquistou pouco mais de 370 mil espectadores. Algo que frustrou as expectativas do ator, que interpreta Leonardo Villas-Boas, um dos protagonistas do filme. Baseado na história dos irmãos Leonardo, Orlando e Cláudio – de Felipe Camargo e João Miguel, respectivamente –, o drama conta a saga do trio pelas florestas da região Centro-Oeste do país, na luta pela preservação da cultura indígena.

"É uma obra incrível e que deveria ter sido mais valorizada. Falta informação e educação para que o Brasil tenha um público de cinema mais crítico", analisa.

Tipo popular

Caio Blat se prepara para dirigir seu primeiro filmeUm dos personagens mais populares da carreira de Caio Blat foi o delicado Abelardo Sardinha, de Da Cor do Pecado, novela de 2004 que está sendo exibida no Vale a Pena Ver de Novo. Sempre que pode, o ator assiste aos capítulos da reprise e se diverte com as cenas de seu personagem.

"Foi um trabalho muito bonito. Ele destoava dos irmãos lutadores e tinha cenas bem absurdas. Gosto quando meus personagens saem do senso comum", filosofa.

Trajetória Televisiva

# "Anos Dourados" (Globo, 1986) – Marcos.

# "Mundo da Lua" (TV Cultura, 1991) – Big Bad Boy.

# "O Professor" (TV Cultura, 1992) Apresentador.

# "Éramos Seis" (SBT, 1994) – Carlos.

# "As Pupilas do Senhor Reitor" (SBT, 1995) Henrique.

# "Fascinação" (SBT, 1998) – Gustavo.

# "Chiquinha Gonzaga" (Globo, 1999) – João Batista.

# "Andando Nas Nuvens" (Globo, 1999) – Thiago San Marino.

# "Esplendor" (Globo, 2000) Bruno.

# "Um Anjo Caiu do Céu" (Globo, 2001) – Rafael.

# "Coração de Estudante" (Globo, 2002) – Mateus.

# "Da Cor do Pecado" (Globo, 2004) Abelardo.

# "Carandiru, Outras Histórias" (Globo, 2005) – Deusdete.

# "Sinhá Moça" (Globo, 2006) – Mário.

# "Amazônia: De Galvez a Chico Mendes" (Globo, 2007) – Xavier.

# "Ciranda de Pedra" (Globo, 2008) Afonso.

# "Caminho das Índias" (Globo, 2009) – Ravi.

# "O Bem amado" (Globo, 2010) Neco.

# "Morde & Assopra" (Globo, 2011) Leandro.

# "Lado a Lado" (Globo, 2012) Fernando.

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