Caracterização de A Dona do Pedaço traz sintonia entre os núcleos

Por - 20/05/19 às 08:30

Divulgação/A Dona do Pedaço/TV Globo/João Miguel Júnior

A indumentária de A Dona do Pedaço acompanha a estética desenvolvida para os espaços cênicos, de acordo com as respectivas fases, sob comando de Claudia Kopke e Sabrina Moreira. Uma atmosfera que mistura referências dos Irmãos Coen, Quentin Tarantino e Wes Anderson habita a novela em suas diferentes etapas. E o vermelho da família Ramirez, que se deve à ascendência de Dulce (Fernanda Montenegro), e o azul dos Matheus transcendem todas elas.

“A Dulce é descendente de ciganos espanhóis, que vieram de Granada, então, no prólogo, ela usa uns acessórios meio grandes, está com um colo mais aparente… A Maria da Paz (Juliana Paes), que, na primeira fase, usa quase nada de acessório, vai fazer uma conexão de olhar o brinco da avó e ter um encantamento. Então tem essa coisa meio cigana, meio passional dentro dela. A paleta de cor é toda nesses tons dos laranjas, avermelhados, vinhos”, comenta Claudia.  

A forte sintonia entre as duas também é percebida quando Dulce assume um luto por conta da morte de um primeiro noivo da neta, antes de Amadeu (Marcos Palmeira).

“Dona Fernanda, mesmo de preto, tem um figurino com diferentes texturas, tons, bordados. Sempre tem essa coisa mais passional, menos dura. E isso vem até no próprio cenário da casa dela. Os Ramirez têm uma janela com uma rendinha branca, na outra família tem poucos elementos na parede. Isso acaba ficando no subliminar, quase no inconsciente do público”, ressalta a figurinista.   

A equipe também trabalhou a evolução do figurino com a passagem do tempo. A partir do momento em que toma as rédeas da própria vida em São Paulo, a referência para Maria da Paz tem muito das musas latinas, como Eva Mendes e Penélope Cruz, até chegar nas divas italianas Sofia Loren e Mônica Belucci.

“A inspiração é nos anos 1950, pós-guerra. A mulher que fica sozinha por anos, com o marido na guerra. É uma mulher que quer parecer bonita e sensual e, ao mesmo tempo, tem o seu quê maternal, cuida da família, deixa os filhos prontos para receber o marido que está voltando. E ela tem muito essa relação com a filha Josiane (Agatha Moreira), com a casa. Faz bolo, dá comida, alimenta as pessoas. É um pouco esse imaginário”, define a figurinista Sabrina Moreira.   

Quando chega a 2019, entra no figurino da protagonista o pink, que também é quente.

“Quando ela ganha dinheiro e passa a ter acesso às coisas, ela bota para fora toda essa latinidade. Primeiro, porque enriqueceu, segundo, porque está em São Paulo, uma cidade grande, não deve mais nada a ninguém e está fora do núcleo de justiceiros”, compara Claudia.  

No contraponto dessa “quentura”, está o figurino dos Matheus. Por ser, dentro da história, a família que mata mais, sem propósito, seus integrantes vão se vestir com tons mais frios, lisos e com pouca estampa. E Amadeu começa a trama com uma leve pegada sertaneja, que é deixada para trás ao longo da novela.

“O Amadeu tem uma pegada meio Marlboro Man, galãzão, por quem a Maria da Paz deve suspirar. Régis (Reynaldo Gianecchini) é meio um oposto, nesse sentido. Ele é um mauricinho-gato, com uma referência mais italiana, o cara que levaria ela para comer bem, conhecer o melhor da noite paulistana. E o outro mexe com os instintos dela. São dois pontos que a balançam”, pontua Sabrina. 

Para a segunda fase de Amadeu, o figurino dele se atualiza sem perder a virilidade, com uma jaqueta jeans, camisa social. Ao mesmo tempo, a filha Josiane (Agatha Moreira) tem vergonha dele.

Outro look que merece atenção é o da it girl Vivi Guedes (Paolla Oliveira). Com um visual que tem o poder de influenciar toda uma geração, o figurino da personagem também faz jus à beleza de sua intérprete.

“Vamos manter um perfil da mulher mais voluptuosa. Tem um quê de Kardashian, por ela assumir as curvas e o próprio corpo. Mas não estamos usando essa inspiração para as roupas dela. Vivi usa pouco acessório. É monocromática, apresenta uma silhueta mais seca, mas tem muito brilho, strass e roupas de látex. Aquela coisa justa, seca, limpa, mostrando as curvas”, explica Sabrina.   

Ainda no núcleo das influenciadoras, Josiane (Agatha Moreira), antes de engrenar como influencer, não tem um estilo próprio. Só depois de contratar Kim (Monica Iozzi) é que vai ter seu visual completamente repaginado. Já a personagem de Monica Iozzi, por ser uma assessora de imagem/empresária de blogueiras, deixa suas clientes brilharem, mas está sempre pronta.

“O que a gente fez na Kim foi pegada mais alfaiataria, mas básica. Ela não tem muito rococó, nem enfeite, estampa, muito nada. Pense numa pessoa que está pronta para tomar um café na Oscar Freire de manhã, e com a mesma roupa pode ir num lançamento num shopping chique. Elegante de manhã, de tarde, de noite. Sempre pronta, meio atemporal. Ela não é o último grito, sabe tudo de moda, mas tem o estilo dela, descolado”, define Sabrina.  

 Já o núcleo dos moradores de rua da trama apresenta um conceito visual carregado de irreverência. O Eusébio (Marco Nanini) veste calças e camisas de pijamas no dia a dia. A Cornélia (Betty Faria) é mais assanhada, tem um pouco de crochê, estampa, tricô, legging, umas bijuterias de plástico, bem popular. E Chico (Tonico Pereira) vai ser o homem do nylon.

Todo o conceito da caracterização foi pensado e assinado por Sumaia Assis, Martín Macías Trujillo (prólogo e primeira fase) e Marcos Padilha (segunda fase). 

“O desafio é que vários dos nossos personagens estão no prólogo e nas duas fases seguintes. As mudanças foram pensadas para que, ao chegar em 2019, esses personagens tivessem uma aparência coerente”, explicou Martín, caracterizador mexicano com longa experiência em cinema.  

A equipe  optou por utilizar uma moderna técnica de rejuvenescimento para os atores que atuam no prólogo e na primeira fase.

“É o lifting, que consiste em esticar a pele, exatamente nos pontos onde o cirurgião plástico mexe. São adesivos que você cola na pele da pessoa e puxa. Segura na nuca, no meio do cabelo. Para o personagem que está nas três etapas, faço um trabalho de rejuvenescimento geral para o prólogo, depois, para a primeira fase, é só lateral, para já aparecer um pouquinho de peso de idade. E na segunda etapa, supostamente, vai ter uma mudança de acordo com a história desse personagem, alguns melhoram de vida”, revela Martín. 

 Além disso, nas duas primeiras etapas, a pele do elenco vai parecer um pouco mais morena.

“São peles castigadas e com manchas nos homens, porque normalmente eles ficam muito expostos ao sol. E as crianças vão ter as pernas empoeiradas. Outros atores vão fazer intervenções minimalistas”, diz ele.   

Em alguns casos foram feitas mudanças de cabelo, de comprimento, corte e apliques nas fases iniciais. Dulce (Fernanda Montenegro), por exemplo, começa a novela com um aplique mais grisalho, e depois o cabelo aparece branco e com aplique.

Uma grande transformação no visual foi pensada para a Maria da Paz. Juliana Paes começa a novela com um aplique e tom de cabelo mais escuro, que muda quando ela enriquece.

“O tom louro marca uma virada financeira na vida dela. Na primeira fase, é mulher batalhadora. Em 2019, já é uma Maria da Paz com dinheiro, mas sem um gosto refinado. Ela tem joias, usa o que acha que é top, com a maquiagem que ela acha que é boa, mistura tudo, muita cor, muito brilho, muito ouro”, explica Sumaia Assis.  

 Quem já chega na novela causando é Kim. A mudança no tom do cabelo da atriz fez toda a diferença para traduzir o espírito moderno que ela imprime quando aparece em cena.

“O cabelo da Monica era virgem, acho que ficou incrível e totalmente diferente do que era. Começamos com um louro branco, mas depois puxamos para o louro platinado. Kim é uma mulher moderna, que dita para as outras as influencers, o que está no top de bonito, não tem medo de arriscar”, conceitua Sumaia.  

Na contramão dessa paleta capilar dourada vem Vivi Guedes. Paolla Oliveira abandonou os fios louros e precisou pintar o cabelo de castanho, além de receber um aplique para alongar os fios.

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