Carolina Kasting: “Quebrei o paradigma de que a mulher pobre é sempre feia”

Por - 16/06/13 às 15:33

Pedro Paulo Figueiredo/ Carta Z Notícias.

O jeito doce e a fala baixa de Carolina Kasting logo tomam um ar de seriedade quando ela relembra seu período de preparação para Amor à Vida. Já disposta a cortar o cabelo e assumir a rígida postura da enfermeira Joana, a atriz soube que iria trocar de personagem com Bel Kutner e dar vida à humilde Gina.

"Perdi o chão. Já estava focada para a personagem e com a composição encaminhada", protesta.

No entanto, ao voltar ao texto e ver as características de seu novo papel, Carolina constatou que, por linhas tortas, Gina era o tipo de personagem que estava esperando há muito tempo.

"Desde o final de Amor Eterno Amor (2012), pensava em fazer um papel mais simples. Ser chamada para interpretá-la é uma quebra de paradigma. A mulher pobre é sempre feia ou'periguete'", valoriza. Carolina Kasting:

De origem teatral, a atriz, natural de Florianópolis, teve seu primeiro papel na tevê em Anjo de Mim, em 1996.

"Foi o Ricardo Waddington que me avisou que tinha passado no teste. Provavelmente, ele nem lembra disso", ressalta, entre risos. Após uma malsucedida passagem pela Manchete, em Brida, novela de 1998, a atriz retornou à Globo, onde já está há 16 anos.

"É a minha história. Não me vejo sem esse trabalho, essa é minha vida", declara.

O Fuxico:– Com a troca de personagens, você teve menos tempo para se preparar para interpretar a Gina. Como se organizou nesse novo processo de construção?

Carolina Casting: Eu me inspirei muito na história da Gata Borralheira, que não tem muita noção da própria beleza e também é muito romântica. Ela é exatamente como a fábula. Não é revolucionária, aceita aquela condição imposta de ter de cuidar da casa, do bar e da família. Fiz um trabalho de vivência em um restaurante que é cuidado por uma família, exatamente como na novela. Passei a ouvir muito Roberto Carlos, e bem alto, porque acho que ela gosta muito dele. Só tive um cuidado especial com o sotaque, já que ela é uma típica paulistana do subrbio.

OF: Por quê?

CC: Funciona para equilibrar o núcleo. O Fúlvio (Stefanini), que interpreta o Denizard, já carrega muito no sotaque. Estudei muito a forma de falar, as gírias, mas optei por fazer uma coisa mais amena. Não quis exagerar para a personagem não ganhar uma conotação cômica, pois esse, definitivamente, não é o caminho para Gina.

OF: Amor à Vida é sua volta à faixa das nove, 10 anos depois de Mulheres Apaixonadas. Qual o balanço que você faz dessa década longe do horário nobre de teledramaturgia? 

CC: Na verdade, eu mergulho tão de cabeça nos trabalhos que não me tocava qual era o horário da novela. Quando me disseram que eu estava há dez anos longe do horário nobre, parei para pensar nisso. Agora vejo que cheguei em um ponto de maturidade. Um ponto em que estou satisfeita comigo mesma. Consegui reunir uma obra bacana, uma carreira legal e personagens interessantes, como em Terra Nostra e Cabocla. É muito bom voltar a essa faixa sabendo que, agora, eu tenho uma trajetória sólida. 

OF: Aos 14 anos, você saiu de casa para estudar teatro em Curitiba. Como enxerga essa decisão na trajetória da sua carreira?

CC: Na época, eu tive total apoio dos meus pais. Mas jamais deixaria minha filha adolescente sair de casa para estudar teatro. O mundo é muito complexo e, nessa idade, todos precisam ter um adulto responsável ao lado. Olhando para trás, eu não me arrependo disso. Foi uma estrada dura, mas tenho orgulho do que passei e vivi. O estudo que eu tive, as peças que fiz e o meu esforço de ter de me virar sozinha tão cedo me ajudaram a estar onde estou hoje. 

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