Cazé Peçanha diz que trabalhar na TV não estava em seus planos
Por Redação - 18/08/13 às 14:01
A tranquilidade de Cazé Peçanha chama atenção. Ainda mais quando comparada à performance na frente das câmaras. Na televisão, o apresentador sempre optou por desenvolver uma linguagem mais dinâmica. Pessoalmente, no entanto, essa rapidez se dispersa e dá lugar a uma personalidade mais reflexiva. Talvez, por isso, a tevê nunca tenha sido um objetivo de vida para Cazé. Atualmente no documental A Liga, da Band, ele se recorda com certo orgulho da época em que se dedicava à poesia.
"A minha vida era escrever poemas e recitá-los em pequenos teatros pelo Rio de Janeiro. Mas, como se sustentar com poesia é difícil, decidi me inscrever em um concurso da MTV e passei. E o que no começo era apenas uma busca por sustento, acabou virando uma carreira", admite.
Na tevê desde 1994, quando passou no concurso MTV Pega Para Criar, Cazé já apostou em diferentes programas. Começou com algo mais voltado para a música, com o Teleguiado MTV, se arriscou em programas de auditório, como o Quinta Categoria, e até apresentou um game show com direito a esquetes cômicas, o Casal Neura. A variedade de formatos é justificada pelo apresentador por uma constante busca por se reinventar. Busca essa que o levou, mesmo com pouca experiência em reportagens de rua, a entrar para o time de apresentadores do programa A Liga, em 2012.
"Trabalhar fora do estúdio e em contato direto com uma realidade que a sociedade não costuma mostrar na televisão foi o que mais me atraiu", analisa.
O Fuxico: Essa é a sua segunda temporada como integrante do A Liga. Você consegue ver algum tipo de evolução pessoal na condução de suas reportagens ao longo desses dois anos?
Cazé Peçanha: Eu acho que estou ficando mais aberto para criar uma empatia com mais facilidade com as pessoas. Para A Liga, é muito importante que as pessoas estejam dispostas a falar e que se abram de verdade, compartilhem o que estão vivendo. Isso acaba deixando a matéria maior, melhor e mais profunda. Além de ficar emocionante para o público. Então, acho que consigo criar uma conexão mais profunda com as pessoas. E também diminuí o tempo que levava entre o primeiro contato com o personagem da matéria e a quebra do gelo. Chegar mais rápido aos corações das pessoas é uma coisa importante nesse formato.
OF: Antes de A Liga você teve poucos trabalhos fora de estúdio. Como você encara essa experiência nas ruas?
CP: É muito bom estar em um trabalho onde eu encaro a realidade de frente de maneira constante. Mas, ao mesmo tempo, é um projeto que carrega um certo risco. Já passei por várias situações difíceis enquanto fazia matérias para o programa. No meu primeiro ano no A Liga, por exemplo, acompanhei um catador de lixo por 24 horas no Rio de Janeiro. Com ele, a gente andou em lixões, mexeu com lixo hospitalar e dormiu na rua. O rapaz já havia sido esfaqueado durante uma de suas noites passadas na rua, então eu estava realmente à mercê de alguma fatalidade como essa, o que me deixou muito preocupado. Na verdade, é sempre uma situação meio tensa. Porque, quando você está com uma câmara ligada, as pessoas à sua volta, na rua, ficam receosas. Então, tem de ter muito tato com elas. Além de uma sintonia forte com a sua equipe.
OF: A Band já mostra interesse em você há algum tempo e chegou a convidá-lo para comandar a bancada do CQC. Mas, na época, você preferiu continuar na MTV. O que o levou a aceitar o convite para integrar o A Liga?
CP: Na verdade, quando eu olhava para a programação da tevê aberta, A Liga era um xodó, por ser o único programa que eu realmente tinha vontade de fazer. Essa linguagem um pouco mais pessoal na forma de fazer as reportagens me chamava atenção. Eu queria viver aquelas experiências junto com os personagens e isso me mostrou que realmente valia a pena seguir esse novo caminho. Era algo que valia a aposta. Sem contar que é um formato que não me restringe. A direção sempre enfatiza que é muito importante que eu me abra para mostrar ao telespectador as minhas emoções e impressões do tema que está sendo abordado. Então, eu me sinto livre enquanto gravo.
OF: Essa liberdade de expressão foi um dos fatores que segurou você na MTV por tantos anos?
CP: A liberdade criativa do canal sempre me atraiu. Porque o ambiente de trabalho da MTV, sobretudo na época em que eu trabalhei lá, era extremamente estimulante. Sempre fui encorajado a fazer coisas diferentes, buscar o melhor de mim e me doar para os projetos. Como os recursos eram poucos, as equipes tinham de compensar isso de outras maneiras e, principalmente, com criatividade.
OF: Ao longo desses 19 anos de carreira na televisão, você esteve à frente de inmeros programas de diferentes formatos e linguagens. Destacaria algum de seus projetos como preferido?
CP: Uma das fases mais gostosas da minha vida foi quando apresentei o Teleguiado MTV. Eu passei quatro anos apresentando esse programa diariamente, atendendo às ligações, conversando com o público ao vivo. Marcou muito minha carreira por toda construção profissional que eu tive ao longo desses anos. Sem contar que gosto muito desse contato com o telespectador pelo telefone, porque como as pessoas não estão vendo as câmaras, ficam mais à vontade para falar abertamente sobre qualquer assunto. Nisso, surgem coisas inesperadas, engraçadas ou até xingamentos ao vivo. O que me dava mais uma experiência, pois tinha de lidar com esses improvisos e transformar tudo em matéria-prima para o programa. Então, foi um verdadeiro aprendizado para mim.
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