Chico Buarque fala sobre Clara Nunes, em documentário

Por - 27/06/06 às 10:15

Felipe Panfili

“Morena de Angola que leva o chocalho amarrado na canela / Será que ela mexe o chocalho ou o chocalho é que mexe com ela (…)”.

Este é um dos inesquecíveis refrões da música popular brasileira. Composta em 1980, por Chico Buarque, Morena de Angola acabou ganhando o Brasil e o mundo, na voz de Clara Nunes.

Para resgatar a história desta cantora, que faleceu em 1983, vítima de um choque anafilático, a produtora carioca Modo Operante reuniu Susanna Lira e Rodrigo Alzuguir para produzir o documentário Clara Estrela, que deve chegar às telas do cinema em 2007.

Com depoimentos de Chico Buarque, Marisa Monte, João Nogueira e Nana Caymmi, além do aval do compositor Paulo César Pinheiro, viúvo de Clara Nunes, a documentarista Susanna fala ao OFuxico um pouco sobre este trabalho. 

“Estamos neste projeto há 2 anos. O Rodrigo é especialista em MPB e eu sou documentarista. Resolvemos nos juntar para fazer este filme. É uma forma de homenagear o trabalho desta artista que está sendo esquecida pelos brasileiros. Eu, por exemplo, tenho uma filha que não sabe quem foi Clara Nunes! É preciso resgatar este passado”.

Susanna, que está amando a oportunidade de realizar este filme, conta alguns momentos que não poderão ficar de fora da produção.   

“Vamos retratar sua infância em Paraopeba, Minas Gerais, a importância da Folia de Reis em sua vida. Passando para sua vinda ao Rio de Janeiro, seus primeiros trabalhos, sua fama nacional e internacional, até sua morte. Mas nosso objetivo maior é mostrar a obra rica que ela nos deixou”.

Sucesso na França e Japão na década de 70, a cantora foi exceção em sua época, quando apenas cantores como Caetano Veloso e Roberto Carlos eram conhecidos. “A mulher não tinha espaço neste meio e foi Clara Nunes que conseguiu abrir esta porta. Inclusive, nesta época, quando quase ninguém era reconhecido internacionalmente, ela ganhou um especial na tevê japonesa”.

Uma das dificuldades encontrada pelos diretores do documentário foi encontrar imagens da infância da cantora. Susanna revela o motivo: “Ela era de uma família muito pobre. Para se ter uma idéia, sua primeira foto foi tirada com 14 anos, para colocar na carteira de trabalho. Ela foi trabalhar como tecelã em uma fábrica. Sua história é impressionante. Vai agradar a todos, tenho certeza”.

Depoimentos

 

Em fase de capitalização de recursos, Susanna acaba adiantando alguns trechos dos depoimentos de amigos, fãs e admiradores de Clara Nunes.

“Sempre fui apaixonado pela voz de Clara. O que mais me impressionou foi o dia em que a conheci: voz e aparência, uma união perfeita. Nunca tinha visto nada igual. Ela era uma pessoa maravilhosa, expressiva”, comenta Chico Buarque.

Marisa Monte, que ainda era muito nova na época em que a cantora despontou para o sucesso, ficou com uma imagem gravada para sempre em seu coração. “Suas roupas brancas, semelhante à Iemanjá. Ela transmitia paz”.

Nana Caymmi acrescenta: “Ela sempre foi diferente. Já chegava arrebentando. Chegava, chegando. Clara não tinha com que se preocupar, era sucesso garantido. Tinha luz própria”.

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