Christiane Torloni sobre críticas à Fina Estampa: ‘Na ficção você pode e deve ser livre’

Por - 21/08/20 às 17:45

Globo/Zé Paulo Cardeal

Desde que Marco Pigossi desferiu críticas à reprise de Fina Estampa, alegando que, no momento em que vivemos, a trama não é adequada pelas abordagens principalmente ao homossexualismo, opiniões ficaram divididas, embora a maioria saísse em defesa da trama de Aguinaldo Silva. Christiane Torloni foi uma delas.

Christiane Torloni sobre Tereza Cristina: 'Politicamente incorreta'

Exibida na Globo há nove anos, quando o mundo era completamente diferente do que está hoje, inclusive sem o avanço das redes sociais, questões como a homofobia, machismo e assédio moral, destacados em cena, hoje soam muito mal e geram inflamados debates na internet. A intérprete da vilã Teresa Cristina faz sua avaliação.

“Acho que o Aguinaldo foi muito corajoso de escrever a novela na época, correndo todos os riscos de ser politicamente incorreto e botando na boca dos personagens coisas que hoje o politicamente correto condenaria completamente. E é para isso que existe a ficção. Você já viu governo mais politicamente incorreto que esse?”, enfatizou a atriz em entrevista ao jornal O Globo.

A atriz elogiou a atuação de Pigossi na trama e destacou que ele tem todo o direito de opinar.

“Eu luto para as pessoas terem o direito de falar o que elas quiserem. Ele tem o direito de manifestar a opinião dele. Posso concordar ou não. Como você já viu, não concordo. Eu gosto da novela e adoro minha personagem. As pessoas têm o direito de se arrepender de ter feito tal personagem. Eu não me arrependo de jeito algum. Se tivesse que fazer, faria de novo e me divertiria tanto quanto ou mais, porque acho que agora devo estar melhor como atriz do que há nove anos. Então, provavelmente, seria mais abusada ainda. Eu acho que ele fez muito bem o papel dele. Era difícil para caramba. É um bom ator.”

Torloni chamou à atenção para a diferença que deve haver entre realidade e ficção.

“A gente está falando de ficção, na ficção você pode e deve ser livre. Difícil é a liberdade que determina morte e vida das pessoas. A arte não tem esse compromisso e não deve ter. É libertadora por isso. Quando fiz uma cleptomaníaca, por exemplo (a Haydée de América). É terrível, é verdade, existem pessoas que têm essa doença. Aí você faz o quê? Tranca num quarto e finge que não existe?”.

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Outros problemas mais relevantes

A artista fez duras críticas ao governo e destacou que a arte leva a reflexão.

“O ser humano precisa do espelho da arte. Isso o liberta. Ele chora, ri, reflete. Por isso, tentam desmontar todas as entidades de cultura neste país nos últimos dois anos praticamente. A arte é perigosa, ela pode e deve ser politicamente incorreta. O que não pode ser politicamente incorreto é o governo, que faz com que as pessoas estejam passando fome, morrendo sem respirador.

Muito engajada em questões ambientais, Christiane destacou que há problemas maiores e serem questionados, como a queimada na Amazônia.

“Que tem corrupção e está queimando a Amazônia inteira, entregando ouro para bandido. Queimar a Amazônia é imperdoável. Não é fazer Fina Estampa que é imperdoável.”

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