Coringa é intenso, avassalador e incrível
Por Redação - 07/10/19 às 01:52
Coringa é um soco no estômago. Psicologicamente violento, intenso e avassalador, Todd Phillips serve ao público uma experiência ímpar e um mergulho por dentro da mente e da vida de um dos personagens mais conhecidos dos quadrinhos.
Menos interessado na pirotecnia e mais focado em explorar o que faz o personagem ser o que ele é, o diretor e co-roteirista trabalha uma trama ousada, que dá uma origem ao Coringa e foge de tudo que já assistimos antes. Ambientado nos anos 80, no filme, conhecemos Arthur Fleck (Joaquin Phoenix), um rapaz que trabalha como palhaço, sonha em ser um humorista de stand-up e que luta para tentar fazer parte de uma Gotham aos pedaços, caótica e suja, mas percebe que é no caos que ele, de fato, brilha.
Com um roteiro que exige (e muito) de seu protagonista, Phillips insistiu durante meses para que Joaquin aceitasse o papel e acertou em cheio ao não abrir mão de seu protagonista, afinal, o ator é o grande responsável por toda maestria de Coringa. Magro, esquálido, intenso, inquietante e entregue ao personagem, Phoenix mostra, como o fez em Johnny & June e Ela, o que faz dele um dos melhores atores de sua geração. Em uma atuação onde a tristeza é figura constante na atmosfera do filme, somos tragados para uma vibe que beira o masoquismo, já que as cenas incomodam, machucam, nos deixam desconfortáveis, mas incapazes de tirar os olhos da tela.
Em uma trama ambiciosa, Phillips capricha na crítica social e questiona o caminho que estamos seguindo quanto sociedade. Além disso, uma linha tênue se estabelece entre Fleck ser apenas um louco, anarquista e homicida ou uma vítima de uma sociedade que maltrata, marginaliza, exclui e faz vista grossa diante dos menos favorecidos. Ao longo das duas horas de duração, assistimos a um protagonista se despir do que ele era, para enxergar que ele se encontra fora do molde, da caixa e das 'normas sociais'. Certo ou errado, o que vale aqui é a reflexão de que muitas vezes precisamos abandonar o que os outros querem que sejamos, para nos tornarmos aquilos que queremos ser (Obviamente, sem chegar a este extremo).
Além de Phoenix, é preciso ressaltar a firmeza na direção e no roteiro de Phillips e Scott Silver. Quando foi anunciado um filme solo do Coringa, muitos torceram o nariz, afinal, o currículo de Todd é recheado de comédias e ele é conhecido no mercado por ser 'o diretor de Se Beber, Não Case'. Porém, para se ter uma atuação como a que Joaquin entrega em Joker, é necessário um olhar apurado da direção, uma certeza de como usar e abusar do talento de seu protagonista. Metáforas à parte, de nada adianta ter um diamante bruto nas mãos, se não souber lapidar e moldar até que se torne uma joia valiosa.
Coringa é ambicioso, é o talento de Joaquin Phoenix preenchendo a tela nos 120 minutos de filme, é a visão firme de Phillips e a prova de que vale à pena fugir do óbvio.
Redação
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