Crítica | Alita: Anjo de Combate é lindo por fora, mas vazio por dentro

Por - 14/02/19 às 20:00

Divulgação
Unir a direção de Robert Rodriguez e a produção de James Cameron só poderia resultar em uma aventura linda e cheia de ação. É exatamente isso que Alita: Anjo de Combate é: uma experiência única.  O projeto já estava na mente e no coração de Cameron há mais de dez anos, desde que o diretor Guillermo Del Toro lhe mostrou dois episódios do anime. Atarefado com o fenômeno Avatar, porém, ficou complicado para o projeto sair do papel. Assim, Cameron entregou seu Battle Angel para Robert Rodriguez (Sin City).
 
Como não poderia ser diferente, o roteiro e produção de Cameron fica evidente em cada frame de Alita. Somos apresentados a um mundo fantástico, extravagante e exagerado, uma das assinaturas do diretor, que não gosta de economizar em nada em nenhum filme que leva seu nome, como é o caso de Avatar, que nos transporta ao mundo alienígena chamado Pandora, grandioso e cheio de cores.
 
Mas Alita é, sem dúvida, um filme assinado por Robert Rodriguez. É sua habilidade como contador de histórias que faz o público embarcar e abraçar uma aventura tão singular. Além da maestria de Sr. James nos bastidores, o olhar de Rodriguez encaixa perfeitamente com o tom que Battle Angel pede. Baseado no mangá Gunnm (1990-1995), de Yukito Kishiro, o diretor fez questão de manter os olhos clássicos dos desenhos japoneses e os traços vistos nas páginas da obra que serviu de base para o filme. Como resultado, o visual da protagonista é um diferencial positivo da aventura. Alita foi criada com a técnica muito bem aplicada de motion capture: ela é interpretada por Rosa Salazar, que teve suas expressões e movimentos capturados e transformados em um ciborgue delicado, mas também feroz e impecável em seus movimentos de luta.
 
Anjo de Combate apresenta um futuro distópico, no ano de  2563, em que a Terra está devastada após enfrentar um guerra 300 anos antes. No meio de lixões e sucata, parte de uma ciborgue é encontrada por Ido (Christoph Waltz), um 'médico' do futuro. Ao ser reconstruída, Alita não se lembra do passado, mas rapidamente descobre suas habilidades nas artes marciais quando sente o perigo se aproximando. 
 
Apesar de todos os predicados, o roteiro de Cameron, Rodriguez e Laeta Kalogridis (O Exterminador do Futuro: Gênesis, Avatar) tem suas falhas. Tem momentos facilmente dispensáveis, como é o caso da competição de motor ball, que nada agrega na narrativa e não empolga. Outro ponto negativo é o excesso de vilões.  Mahershala Ali (Moonlight) interpreta Vector, um gângster que responde a um senhor ainda mais sinistro, mas tem seu talento desperdiçado em poucas cenas. O personagem em vários momentos fica com os olhos azuis (Oi?) e tem seu 'corpo' possuído pelo 'vilão mor' da trama, o misterioso Nova, que é somado a outros antagonistas, como os ciborgues Grewishka  (Jack Earle Haley) e Zapan (Ed Skrein). Além disso, o tom do filme também não fica claro ao longo de pouco mais de duas horas de duração. Ao mesmo tempo em que se tem um romance teen, algo próximo a uma história infanto-juvenil, Alita traz cenas mais adultas, recheadas de violência, como no caso da sequência de luta no subterrâneo da cidade.
 
Outro ponto em que o filme peca, é na vontade de fazer de Alita uma franquia. Na intenção de deixar ganchos e mais ganchos para uma sequência, Battle Angel acaba ficando raso, sem grandes desenvolvimentos de seus personagens e com coisas deixadas pelo caminho, como é o exemplo de Chiren, interpretada por Jennifer Connelly, que entra e sai da história da mesma forma: totalmente despercebida. Apesar da parte técnica encantar visualmente, a trama é pobre no conteúdo, dando a sensação de que o filme é uma espécie de piloto para ver se o público abraça a personagem, para então desenvolver melhor a história em uma futura sequência.
 
A tentativa de adaptar Alita: Anjo de Combate para os cinemas é válida e o entretenimento é garantido graças a parte visual. Porém, molduras boas nem sempre salvam quadros não tão bons. Resta esperar e descobrir se esse Battle Angel vai conquistar ou não.
 
 

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