Dira Paes sobre engajamento em defesa das vítimas de violência doméstica: ‘Lançar luz sobre essas causas é fundamental’

Por - 14/04/21 às 07:00

Divulgação/Leo Aversa

O amor à arte chegou à vida de Dira Paes por “acaso” após participar do filme “A Floresta das Esmeraldas”. Com mais de 30 anos de carreira, Dira se destaca no cinema e no teatro, e desde os anos 2000 ganhou o grande público com séries e novelas da Globo. Sempre elogiada pelo seu trabalho, Dira empresta sua sensibilidade a mulheres fortes. Atualmente, está em cartaz com Ti Ti Ti na pele da costureira Marta.  No ano passado revisitou Celeste de Fina Estampa, vítima de violência doméstica.

Dira conhece bem a realidade do seu povo, usa sua força para dar voz às causas sociais e ambientais, integra o time do Criança Esperança e ao OFuxico refletiu sobre suas ações: “Lançar luz sobre essas causas é fundamental, fico muito feliz de poder contribuir e de ser uma pessoa que tenta fazer com que a informação chegue a essas mulheres para que elas possam estar livres dessa situação de violência”.

Sua dedicação à sétima arte foi coroada em 2018, quando passou a fazer parte do time de comentaristas do Oscar, ao lado de Artur Xexéo na transmissão comandada por Maria Beltrão na Globo com apresentação garantida para o dia 25 de abril, após o Fantástico. Neste ano faz sua estreia como diretora, produtora e roteirista do filme “Pasárgada” e em junho estreia “Veneza” de Miguel Falabella.

Confira!

OFuxico: A sua paixão pelo cinema é algo claro em sua carreira. Premiada por público e crítica, começou jovem e não parou mais. E desde 2018 você faz parte do time de comentaristas do Oscar! Qual é a sensação? Como se prepara? Fica ansiosa?
Dira Paes:
Comentar o Oscar é uma responsabilidade, mas ao mesmo tempo, é um prazer tão grande, porque a cada ano a leva de filmes é tão diferenciada que você acaba tendo oportunidade não só de absorver a diversidade do que é o cinema como também fazer um mergulho profundo no que é o universo que eu mais amo. É, de certa maneira, a minha paixão, mas dá sempre um frio na barriga. Afinal de contas, a gente tem que entender que é um ao vivo, e você tem que estar muito consciente do que você fala e da maneira que você se expressa.

OFuxico: Tem pé quente? Seus favoritos geralmente ganham a estatueta?
Dira Paes:
Eu não ganho o bolão ultimamente porque eu vou muito pelo coração, pelos filmes que me impactam. E não pelos favoritos. Esse ano vou tentar ir pelos favoritos pra ver se eu ganho o bolão que a gente faz.

OFuxico: Você é formada em Artes Cênicas, mas durante o isolamento fez cursos, aprofundou ainda mais sua paixão pelo cinema, pelas artes? Pretende finalizar o curso de filosofia?


Durante o isolamento eu fiz curso de teatro com Amir Haddad. Fiz curso de ioga. Assisti muito mais filmes. E rodei o meu primeiro filme. O curso de filosofia eu acho que é a vida inteira. Não vou mais fazer de forma acadêmica e vou me dedicar à filosofia de uma forma mais autodidata.

OFuxico: Em Ti Ti Ti você dá vida a uma costureira, uma das profissões mais valorizadas durante a pandemia por tamanha importância. Mas essa também foi e é uma forma de milhares de mulheres poderem trabalhar e criar filhos. Sua mãe também trabalhou como costureira, foi assistente social. Se inspirou nela? Tem alguma história especial sobre essa relação de vocês?
Dira Paes:
Eu acho que na verdade, eu tive como inspiração para compor esse personagem a minha mãe, que é uma ótima costureira. E aquela coisa dos óculos, inclusive viver em cima da máquina, então, é um perfil que vi repetidas vezes das costureiras. O olho cansa de ficar firmando na máquina. Essa foi a minha principal inspiração para a personagem.

Dira Paes conversou com exclusividade com OFuxico

OFuxico: O quanto Marta representa as brasileiras?
Dira Paes
: A Marta tem esse perfil da mulher discreta, mas não menos guerreira. Ela não tem uma personalidade extrovertida, mas ao mesmo tempo ela consegue com firmeza e com trabalho ser dona do próprio nariz, isso é muito admirável.

OFuxico: Se pudesse voltar no passado, o que diria para a Dira que estava começando a carreira?


Eu acho que eu diria: “É isso mesmo, garota! Acredite em você e siga em frente.”! (rs). Acho que para tudo que fazemos na vida o primeiro passo é acreditar na gente, acreditar que somos capazes. E é pra tudo, até para fazer um bolo. Acho que a vida é assim.

OFuxico: Fina Estampa retratou a violência doméstica, foi reprisada há pouco tempo, e tocou num tema tão delicado que, infelizmente, não para de crescer. Na época, como foram as reações? E no ano passado sentiu uma diferença na abordagem do público? (pelas redes sociais) Você também integra uma campanha em defesa das mulheres feita pela Globo, GNT e ONU Mulheres. Como tem sido a repercussão, a importância da campanha nesse momento em que dados sobre violência crescem em meio ao isolamento social?
Dira Paes:
O papel do artista é fundamental nas ações sociais. Eu acho que nós somos comunicadores e representantes do nosso público. Então, lançar luz sobre essas causas é fundamental. Eu senti um impacto tremendo no início da pandemia quando foi reprisada a Fina Estampa porque parecia que a novela estava atualizada, parecia que a gente estava fazendo uma novela nos tempos atuais, falando sobre problemas muito atuais. Com isso, me sinto muito feliz de poder contribuir e de ser uma pessoa que tenta fazer com que a informação chegue a essas mulheres para que elas possam estar livres dessa situação de violência.

OFuxico: Sempre esteve engajada em ações sociais, em especial a favor das mulheres, crianças, índios, negros e pelo meio-ambiente. Como analisa a participação de artistas em prol de direitos humanos? Por que é tão importante trabalhar em ações como o Criança Esperança?


O “Criança Esperança” é uma maneira de se mobilizar e a doação é uma consequência dessa mobilização. Quando você consegue mobilizar alguém, você transforma aquela pessoa em um ator da solidariedade e da esperança.

OFuxico: Dicas de filmes, séries e livros:
Dira Paes:
Filmes: “Iracema, Uma Transa Amazônica” de Jorge Bodansky e “A Lira do Delírio” de Walter Lima Junior. Livro: “Chove Nos Campos de Cachoeira” de Dalcídio Jurandir.

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