Edson Celulari: “Amo fazer tevê”
Por Redação - 16/12/12 às 10:00
Dono de um olhar expressivo e jeitão de galã, Edson Celulari foi uma ideia óbvia para o posto de mocinho em inmeras novelas como Deus Nos Acuda, de 1992, e Fera Ferida, de 1994. Aos poucos, mesmo sem se afastar da posição de protagonista, Celulari acredita que passou a escolher melhor seus papéis e, inclusive, a sair de sua zona de conforto.
Dentro dessa linha de tipos mais diferentes, ele aponta o atrapalhado Felipe, do remake de Guerra dos Sexos, como um dos mais complexos de sua carreira.
"Fazer comédia exige muita concentração e técnica. É preciso decorar o texto com suas marcações e tempos. Quando o ensaio termina, você já está suado. Não sei como até hoje os críticos só reconhecem, na maioria das vezes, o trabalho de quem faz drama", questiona.
O trabalho na atual novela das sete funciona como uma volta no tempo para o ator carioca, de 53 anos. Afinal, Celulari participou da primeira versão da trama, igualmente assinada por Silvio de Abreu e dirigida por Jorge Fernando.
"Vinte e nove anos separam as duas versões. É sempre bom voltar a trabalhar com quem você tem afinidade", analisa o intérprete, ao relembrar um de seus primeiros trabalhos na Globo.
Apesar de ter tido sua primeira experiência televisiva na TV Tupi, em 1978, e, ao longo dos anos seguintes, breves passagens por emissoras como Band e SBT, foi na Globo que Celulari se tornou nacionalmente conhecido. Muito por suas participações em famosas novelas cômicas oitentistas, como Cambalacho e Sassaricando. E, em especial, ao protagonizar a mítica Que Rei Sou Eu?, de 1989 reexibida, atualmente, pelo canal pago Viva.
"Tenho muito orgulho da minha trajetória. Começar com papéis menores foi essencial para eu não me deslumbrar com a vida artística e saber aproveitar as boas oportunidades", assume.
O Fuxico: Você participou da primeira versão de Guerra dos Sexos, de 1983. O que destacaria como a principal mudança no método de trabalho da tevê dos anos 80 para os dias de hoje?
Edson Celulari: É tudo bem diferente. Mas o que mais me chama atenção é o tempo de comédia. O tom do humor é totalmente outro. Hoje as pessoas esperam tramas cada vez mais realistas. Isso esvazia a chance de ter um humor mais pastelão. Estamos no limite, pois é o que o texto pede. Fora isso, acho que hoje as gravações exigem muito mais dos atores e de toda a equipe técnica.
OF: Como assim?
EC: A carga horária aumentou. Os inúmeros recursos que a televisão de hoje possui, obrigam que o trabalho coletivo dos atores, direção e equipe técnica seja mais intenso. A gente fica cada vez mais ocupado, pois as gravações e as esperas tendem a durar mais (risos).
OF: Apesar desses contratempos, você está sempre envolvido com alguma trama. O que o faz aceitar novos trabalhos?
EC: Preciso me sentir estimulado em fazer um personagem. Novela é uma jornada que dura meses, empolgação é fundamental. Quando surgiu o convite do Jorge e do Silvio, aceitei na hora. Pois é uma dupla que eu já conheço de outros trabalhos. A primeira vez que encontrei com esses dois na tevê foi justamente na primeira versão de Guerra dos Sexos. Então, é meio que uma honra voltar à essa trama, agora na pele de um dos protagonistas. Resumindo, o que me faz querer fazer uma novela é: personagem legal, boa equipe e a possibilidade de desenvolver um bom trabalho. Isso faz diferença.
OF: Você acumula personagens principais desde o Jean Pierre, de Que Rei Sou Eu? (1989). Protagonizar uma trama mudou sua relação com a importância de seus papéis?
EC: Não tenho essa vaidade. Comecei fazendo cinema, teatro e televisão ao mesmo tempo. Minha primeira experiência com a tevê foi na Tupi, de São Paulo, fazendo pequenos papéis, com poucas falas. Estreei na Globo em 1980, por causa do Herval Rossano, fazendo um papel pequeno também. Tive a felicidade e a sorte de ir crescendo gradativamente. Assumindo maiores compromissos e responsabilidades com o tempo. Acho que isso foi bacana e me livrou de possíveis armadilhas da fama repentina.
OF: Qual papel você acha que mudou seu patamar dentro da Globo?
EC: Acho que minha carreira cresceu mesmo depois do Jean Pierre. A partir daí, veio Deus Nos Acuda, o Flamel, de Fera Ferida meu primeiro protagonista de novela das oito. Em seguida, teve o Vadinho na minissérie Dona Flor e Seus Dois Maridos, dando um salto maior, o tio de América.
OF: Todos esses personagens citados por você são galãs. Esse estigma de viver sempre o herói da trama o incomoda?
EC: Mesmo fazendo tipos semelhantes, acabei ficando mais criterioso e, na medida do possível, tento diversificar. Esse é o grande barato da carreira de ator. Acredito que nem o público aguenta ver o cara fazendo a mesma coisa sempre (risos). É essencial saber selecionar e escolher cada papel. É claro que ter uma longa estrada artística me ajuda a ter esse poder de seleção. Quando eu estava começando, fazia o que ia aparecendo. Agora, tenho mais autonomia sobre isso. Por exemplo, meu personagem atual apareceu na hora em que eu queria fazer comédia.
OF: Você acredita que o tom de comédia afasta o Felipe do grupo de galãs que já viveu na tevê?
EC: Exatamente. Quando eu li o primeiro capítulo dessa nova novela, vi que a última cena era o Felipe tomando uma torta na cara. Pensei: "é esse o personagem!". Pois levar uma tortada é divertido e me tira dessa coisa do supergalã, desmitifica.
OF: O remake de Guerra dos Sexos é a quinta novela de Silvio de Abreu, dirigida pelo Jorge Fernando, da qual você participa. Você tem algum receio de se repetir ao trabalhar com uma equipe tão recorrente?
EC: Nem tanto. Pois todos amadurecemos muito ao longo desses anos. É uma parceria antiga e a isso soma experiência e entrosamento. Eles sabem o que pedir e como a gente pode entregar a cena para eles. Já trabalhei com eles dois juntos muitas vezes. Assim como também com cada um em separado. Quando pego o texto do Silvio, já sei mais ou menos como ele imaginou a cena. E no estúdio, a marcação e a criatividade do Jorginho só ajudam no processo. Como diretor, ele está mais maduro, ciente do que quer e muito generoso. É legal ver essa lapidação do trabalho deles ao longo dos anos. Olho para os dois e passa um filme na minha cabeça.
OF: Voltar ao texto de Guerra dos Sexos o deixou saudosista?
EC: Um pouco. Ando meio contemplativo nos bastidores. A Maristela Velloso, nossa produtora geral, por exemplo, trabalhei com ela em muitas novelas e nós dois fomos crescendo juntos na casa. Assim como vejo a galera que era assistente de direção nos anos 80, e que hoje assume as cenas. Observar essa evolução é emocionante.
OF: Outros trabalhos seus foram ou estão sendo reprisados no canal pago Viva, como Dona Flor e Seus Dois Maridos, e Que Rei Sou Eu?. Costuma os assistir?
EC: Particularmente, não gosto de rever meus trabalhos antigos (risos).
OF: Mesmo depois de tantos personagens você ainda é muito autocrítico?
EC: Não é por isso. Vejo uma cena ou outra, mas não chego a acompanhar. Gosto do que vejo, tenho boas lembranças. Por exemplo, Que Rei Sou Eu? é um trabalho lindo, que envelheceu muito bem. Na época teve todo um ineditismo de ser uma comédia satírica sobre aquele momento do país. Pegou a situação política do Brasil e transformou em arte e entretenimento. Foi um momento especial. No entanto, já foi. E o que já foi feito, está no passado.
Em outros mundos
Nem só de heróis destemidos e românticos da tevê vive a carreira de Edson Celulari. Ao longo de sua trajetória, o ator fez questão de escapar da figura de galã no teatro e no cinema.
"Amo fazer tevê. Mas acho fundamental ter um tempo para reciclar a minha atuação. Só assim posso voltar aos estúdios com vontade e me divertindo", ressalta.
Nos últimos anos, entre uma novela e outra, Celulari se envolveu com peças de caráter mais experimental como Dom Quixote de Lugar Nenhum, de 2007, e o musical Hairspray, de 2009 no qual deu vida a Edna, uma americana obesa e ingênua.
Assim que acabar seu compromisso em Guerra dos Sexos, o ator já começa a ensaiar um novo musical, no qual vai ser novamente dirigido por Miguel Falabella. E ainda coloca em prática o antigo projeto de adaptar Dom Quixote de Lugar Nenhum para o cinema, sob a direção de Ruy Guerra.
"Produzir cultura no Brasil é uma coisa difícil e incerta. Mas são projetos que me empolgam", garante.
Por elas
No contexto atual, onde o Brasil é governado por uma mulher, a disputa de gêneros proposta pelo remake de Guerra dos Sexos soa por vezes fora do tempo. No entanto, para Edson Celulari, o machismo ainda é um problema sério a ser discutido.
"Adotar posturas machistas nunca foi uma decisão inteligente. Mas é inegável que ainda existam homens que achem que lugar de mulher é na cozinha", analisa.
Para Celulari, ao mesmo tempo em que critica a postura de alguns homens, a trama de Silvio de Abreu serve para enaltecer uma característica totalmente relacionada ao sexo feminino.
"Admiro muito a facilidade das mulheres em fazer 10 coisas ao mesmo tempo. É uma loucura, né?", valoriza.
Trajetória Televisiva
# "Salário Mínimo", (Tupi, 1978) – Orlando.
# "Gaivotas", (Tupi, 1979) – Mário.
# "Marina", (Globo, 1980) – Ivan.
# "Plumas & Paetês", (Globo, 1980) – Kurlan.
# "Ciranda de Pedra", (Globo, 1981) – Sérgio.
# "O Homem Proibido", (Globo, 1982) – Carlos.
# "Louco Amor", (Globo, 1983) – Marcelo.
# "Guerra dos Sexos", (Globo, 1983) – Zenon.
# "Amor Com Amor Se Paga", (Globo, 1984) – Tomás.
# "Um Sonho a Mais", (Globo, 1985) – Joaquim.
# "Cambalacho", (Globo, 1986) – Thiago.
# "Sassaricando", (Globo, 1987) – Jorge.
# "Chapadão do Bugre", (Band, 1988) – José.
# "Que Rei Sou Eu?", (Globo, 1989) – Jean-Pierre.
# "Brasileiras e Brasileiros", (SBT, 1990) – Totó.
# "Deus nos Acuda", (Globo, 1992) – Ricardo.
# "Fera Ferida", (Globo, 1993) – Flamel.
# "Decadência", (Globo, 1995) – Mariel.
# "Explode Coração", (Globo, 1995) – Júlio.
# "Dona Flor e Seus Dois Maridos", (Globo, 1998) – Vadinho.
# "Torre de Babel", (Globo, 1998) – Henrique.
# "Vila Madalena", (Globo, 1999) – Solano.
# "Aquarela do Brasil", (Globo, 2000) – Hélio.
# "As Filhas da Mãe", (Globo, 2001) – Edmilson.
# "Sabor da Paixão", (Globo, 2002) – Jean.
# "América", (Globo, 2005) – Glauco.
# "Páginas da Vida", (Globo, 2006) – Sílvio.
# "Beleza Pura", (Globo, 2008) – Guilherme.
# "Araguaia", (Globo, 2010) – Fernando.
# "Guerra dos Sexos", (Globo, 2012) – Felipe.
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