Elizabeth Savalla avisa: ‘Ator egocêntrico tem que fazer terapia’

Por - 08/01/21 às 07:00 - Última Atualização: 6 abril 2021

Divulgação/TV Globo

Paulistana com um amor profundo pelas artes. Assim é a vida de Elizabeth Savalla, conhecida pelo grande público por conta das mocinhas e vilãs da TV, em especial nos anos 70, 80 e 2000. O segredo para o sucesso é ter talento e vocação, além é claro de muito estudo.

Ao OFuxico, a veterana relembrou momentos importantes de sua carreira, prestes a celebrar 46 anos em fevereiro, e afirmou que a humildade é uma característica importante na profissão: “Ator egocêntrico tem que fazer terapia”. Savalla ainda destacou a importância do coleguismo entre os artistas: “Não é todo momento que você faz gol, às vezes, você tem que fazer escada [dar apoio para outro colega de cena] sim”. 

Sua carreira é marcada por clássicos que estão na memória afetiva de muitos brasileiros com destaque para Gabriela, O Astro, Pai Herói, Quatro Por Quatro, A Padroeira, Chocolate com Pimenta, Alma Gêmea, Amor à Vida com Walcyr Carrasco e mais recentemente O Sétimo Guardião escrita por Aguinaldo Silva na faixa das 21h. No teatro tem presença marcante, e, em 2021, integra o elenco da próxima novela das 19h, Quanto Mais Vida Melhor, e segue em destaque no Viva com o especial Os Casais que Amamos, por conta dos trabalhos que fez com Tony Ramos como O Astro e Pai Herói. 

Confira!

OFuxico: São mais de 45 anos de carreira com mocinhas e vilãs. Se recorda da primeira vez que pisou num estúdio?
Elizabeth Savalla:
Me recordo de duas lembranças. A primeira foi na TV Cultura, em SP, minha primeira protagonista. Era um texto do Cassiano Gabus Mendes, Chá das 16h, e a direção do Antônio Abujamra. Ele me colocou pra falar diretamente para a câmera de forma cruzada, foi uma loucura, não tinha a menor segurança, e na hora eu me lembrei do olho azul da outra atriz.   

Já a 2ª vez foi na Globo, em Gabriela, com a personagem Malvina, uma revolucionária. Ela levou um tapa na cara da mãe, após um enfrentamento, eu chorava, mas eu não tinha a menor noção de câmera, eu tinha que ir até ela, não ela até mim. A direção era do Walter Avancini, um dos maiores diretores de TV. Levei muitos “tapas” para aprender. Até que o câmera, Cassiano, ficou com pena de mim e me ensinou. Cassiano maravilhoso virou diretor de TV, e Ana Ariel, que teve um carinho muito grande comigo. 

Assim que acabou a cena, Sonia Braga e o Marco Nanini vieram rapidinho falar comigo, sem o Avancini ver, e disseram: ‘Você é maravilhosa, linda, linda, linda!’. Eu agradeci, mas fiquei arrasada. Porque eu não queria ser “linda”, queria ser “boa atriz”. Risos. Boba. Eles foram muito lindos. Porque o “linda” era por dois sentidos, a atriz fazendo [direito ao trabalho] e a pessoa que era bonita. Lindos, Soninha, Nanini, Ana Ariel, Avancini e Cassiano! 

Elizabeth Savalla como Malvina na novela Gabriela

OFuxico: O que mais te encanta ao dar vida a tantos personagens?
Elizabeth Savalla:
O que me encanta é dar vida a uma pessoa. A tantos eu não sei, porque ao fazer um você não se lembra do outro.  Geralmente são diferentes, se é parecido é pior ainda. O autor é como um Deus que criou aquele personagem, e você com seu jeito, físico e alma, empresta isso ao seu personagem. Isso realmente me encanta na atuação.  

OFuxico: A arte tem o poder de fazer o público refletir sobre uma causa social. Assim foi em O Astro com a Lili, uma mulher à frente do seu tempo…
Elizabeth Savalla:
A Lili era uma mulher muito forte com um senso de humor grande, bem paulistano, despachada. Eu ia fazer outro personagem, a Josi, mais romântica, mas meu ex-marido numa conversa com o diretor Daniel Filho contou pra ele que eu gostei da personagem, mas eu queria mesmo era fazer a Lili. Ele perguntou se eu tinha senso de humor. E ele disse que eu era uma palhaça! Fiquei muito feliz, tinha acabado de parir meu segundo filho, Diogo Savalla, que também é ator.  

Lili era bem moderna, dirigia táxi, fazia barba em homem, era noiva de açougueiro, e ele não queria que ela fizesse esse tipo de trabalho, ela então sai de casa. A mãe, uma camelô, de família bem simples, queria que ela fosse bailarina. Ela era uma heroína bem rebelde. Ela conhece o Marcio, de família rica, personagem do Tony Ramos, eles se tornaram o casal da novela, o reencontro deles, depois de muito sofrimento, rendeu 98 pontos no ibope. E isso não foi o último capítulo. 

A história era linda, coisas de Janete Clair, que abordava temas que só ela tocava mesmo, ela era excepcional. É importante sim mostrar que as mulheres podem sim irem à luta!  Ela dizia que tinha responsabilidades com os sonhos, ela queria que o público sonhasse com aqueles personagens.

Elizabeth Savalla destacou a importância do coleguismo entre os artistas em entrevista

OFuxico: Nos anos 2000 você conquistou um novo público, crianças, por conta de A Padroeira, Chocolate com Pimenta e Alma Gêmea. As três primeiras com muito humor. Qual é a receita para tantos sucessos?
Elizabeth Savalla:
Tenho um pé no humor, na comédia, eu gosto de brincar, através do riso você alcança mais as pessoas. As crianças adoram! A Jezabel tinha um figurino maravilhoso. Ele era muito má! Aquela megera que só se dá mal, igual desenho animado! Já Alma Gêmea era dramática. Em A Padroeira a personagem judiava da filha, batia nos escravos, dizia que fazia penitências, mas tudo mentira, comia tudo escondido.  Fiz também o Sítio do Pica Pau Amarelo. Quem escreveu esses personagens foi o Walcyr Carrasco, um gênio. Ele escreve como ninguém. Em cada história ele vê coisas diferentes. Em cada história ele consegue resgatar os personagens.

OFuxico: Você é saudosista? Qual personagem gostaria de revisitar? E dar continuidade à história dela… Como estaria a Lili hoje?
Elizabeth Savalla:
Meu Deus! Quando você termina, você termina. Mas eu daria continuidade a Eta Mundo Bom. Era uma maravilha. Um elenco maravilhoso! Agora, a Lili como estaria hoje? Alguns fãs publicam vídeos nas redes sociais. Acho que ela estaria com o Marcio, o filho estaria enorme, um homem. Eles ajudando as pessoas, porque eles acreditam que para serem felizes eles tinham que ajudar o próximo, eram devotos de São Francisco de Assis.

OFuxico: No Viva, o público tem a oportunidade de ver num especial o quanto você e o Tony Ramos são parceiros e amados pelo público. Qual é a receita para que um casal ganhe a simpatia do público?
Elizabeth Savalla:
A minha ligação com o Tony é um casamento de almas, de atores, no melhor sentido que pode existir. Nunca tivemos nenhum problema. Temos uma humildade muito grande, nos demos muito bem, acreditamos muito na família, nos filhos, o trabalho tem que ser uma coisa alegre. Um confiava no outro. Ficamos amigos para o resto da vida. A gente não acredita nesse ego, depois que morremos todos vamos para o mesmo lugar. Não é todo momento que você faz gol, às vezes você tem que fazer escada [dar apoio para outro colega de cena] sim. Quem quer resolver problemas de ego tem que fazer terapia. Essa egolatria é um horror. Ator é aquele que faz junto, um mata no peito e o outro joga na rede.

OFuxico: São décadas de trabalho, amigos, lugares, situações. Os bastidores de uma trama também marcam. Qual mais te marcou? No caso histórias que reforçam a amizade, companheirismo?
Elizabeth Savalla:
Todos os trabalhos. O que marca um trabalho são as relações, os trabalhos em si passam. Eu posso te falar de Amor à Vida, com Mateus Solano e a Tatá Werneck.  Eu amei esse último! A Mirtes, de O Sétimo Guardião, do Aguinaldo Silva, uma carola, uma pessoa horrorosa, que maltratava a nora, tive um bom relacionamento com a Vanessa Giácomo,  maravilhosa, o Paulo Rocha. Todo o núcleo da igreja. Aonde eu vou procuro ter um bom relacionamento com a direção, com os colegas, com o figurino, a maquiagem. Já fiz uns dois trabalhos que eu tive problemas e é um carma!

OFuxico: O que passa na sua TV?
Elizabeth Savalla:
Durante a pandemia eu tive que aprender a fazer muita coisa, mas à noite eu e meu marido vemos o noticiário, o Globo News em Pauta, que eu gosto muito. Gosto de Downton Abbey, House Of cards.

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