Elza Soares critica festa com tema de Brasil Colônia: ‘Escravizar, nem de brincadeira’

Por - 11/02/19 às 19:00

Reprodução/Instagram

No último final de semana, Donata Meirelles gerou polêmica ao promover uma festa com o tema Brasil Colônia.

Em uma das fotos divulgadas nas redes sociais, a diretora da Vogue aparece sentada em uma cadeira ao lado de duas mulheres negras vestidas de baianas.

A imagem recebeu diversas críticas por supostamente fazer referência ao período da escravidão.

Elza Soares não se calou e fez uma reflexão sobre o tema em sua conta no Instagram.

“Gente, sou negra e celebro com orgulho a minha raça desde quando não era elegante ser negro nesse país”, começou ela.

Em seguida, a cantora comentou a imensidão da luta do povo negro.

“Quando preto não usava o elevador dos patrões. Quando pretos motorneiros dos bondes eram substituídos por brancos em festividades com a presença de autoridades de pele branca. Da época em que jogadores de um clube carioca passavam pó de arroz no rosto para entrarem em campo, já que não pegava bem ter a pele escura. Desde que os garçons de um famoso hotel carioca não atendiam pretos no restaurante. Éramos invisíveis”, disse ela.

Em seguida, Elza falou do orgulho que sente em ser negra e de como carregou feridas e cicatrizes em toda a sua vida.

“Celebro minha raça desde o tempo em que gravadoras não davam coquetel de lançamento para os discos dos pretos. Celebro minha origem ancestral desde que música de preto era definição de estilo musical. Grito pelo meu povo desde a época em que se um homem famoso se separasse de sua mulher para ficar com uma negra, essa ganhava o título de vagabunda, mas não acontecia se próxima tivesse a pele clara. Sou bisneta de escrava, neta de escrava forra e minha mãe conhecia na fonte as histórias sobre o flagelo do povo negro. Protesto pelos direitos da minha raça desde que preta não entrava na sala das sinhás. Gente, essas feridas todas eu carreguei na alma e trago as cicatrizes. A maioria do povo negro brasileiro. Feridas que não se curaram e são cutucadas para mantê-las abertas demonstrando que lugar de preto é nessa Senzala moderna, disfarçada, à espreita, como se vigiasse nosso povo. Povo que descende em sua maioria dos negros que colonizaram e construíram o nosso país”, disse.

Para concluir, Elza comentou sobre a festa de Donata Meirelles.

“Hoje li sobre mais uma cutucada na ferida aberta do Brasil Colônia. Não faço juízo de valor sobre quem errou ou se teve intenção de errar. Faço um alerta! Quer ser elegante? Pense no quanto pode machucar o próximo, sua memória, os flagelos do seu povo, ao escolher um tema para enfeitar um momento feliz da vida. Felicidade às custas do constrangimento do próximo, seja ele de qual raça for, não é felicidade, é dor. O limite é tênue. Elegância é ponderar, por mais inocente que sua ação pareça. A carne mais barata do mercado foi a carne negra e agora não é mais. Gritaremos isso para quem não compreendeu ainda. Escravizar, nem de brincadeira”, finalizou ela.

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