Emanuelle Araújo: “Usar a sedução é que nem usar a raiva, a tristeza ou a alegria”

Por - 01/09/12 às 10:07

Pedro Paulo Figueiredo / Carta Z Notícias.

 

Um personagem pode possibilitar ao seu intérprete passar por novas experiências. E isso é o que mais instiga Emanuelle Araújo na profissão de atriz. Para viver a Teodora, uma das moças do Bataclã de Gabriela, ela passou por uma intensa preparação. Fez aulas de danças da época, como maxixe, charleston e tango. Tudo porque as prostitutas da trama são performáticas e fazem apresentações diárias.

"Não é só o fato de elas subirem para o quarto com os clientes. Tem toda uma exposição de dança quando elas se apresentam. Então, para isso a gente teve essa preparação corporal", justifica.

Além disso, Emanuelle contou com o preparador de elenco Sérgio Penna. Por indicação dele, conheceu alguns prostíbulos. Muito mais do que observar o jeito como as garotas de programa lidavam com os clientes, Emanuelle analisou os conflitos internos delas.

"Como a Teodora tem esse mundo interior muito inquieto e doído, fiquei conversando com algumas delas para entender o universo de cada uma. Isso foi bem especial para mim", ressalta.

O Fuxico: A Teodora não existe no livro "Gabriela, Cravo e Canela", no qual é baseada a novela. Mesmo assim, a leitura da obra de Jorge Amado ajuda de alguma forma o seu trabalho?

Emanuelle Araújo: Ajuda muito. A Teodora realmente não existe no livro, é uma personagem escrita por Walcyr Carrasco. Só que, mesmo assim, a Teodora pertence a Jorge Amado por todas as características femininas dela, pela forma como se posiciona. É encantador vivenciar esse universo amadiano que faz tão parte de mim, essa coisa da Bahia. Além disso, fazendo uma prostituta dos anos 20, que tem uma força dentro desse contexto de repressão feminina e dentro do quanto era difícil para essas meninas se posicionarem de alguma forma. Isso dá uma complexidade que é sedutora para qualquer ator.

OF: 2008, interpretou a Manu, em "A Favorita". Aproveitou alguma coisa daquela época para esta personagem?

EA: Nada. Porque a Manu era totalmente diferente. Primeiro que a prostituição para ela era uma coisa totalmente casual, natural. Ela tinha um coisa muito contemporânea, de ser uma prostituta de luxo. Não era uma prostituta que estava confinada em um cabaré. O que acontece com essas meninas do cabaré dos anos 20 é que elas, além de terem a prostituição como profissão, ainda estão absolutamente enclausuradas. Quase não saem às ruas porque, quando saem, são vistas com maus olhos. Nesse universo não existe apenas a venda do corpo. Há toda uma repressão, uma condenação àquela profissão, àquele comportamento e àquele tipo de vida. Fora isso, a Teodora não é nem um pouco leve. A Manu tinha uma certa leveza até no jeito de tocar a vida.

OF: Como você lida com a sensualidade das cenas em "Gabriela"?

EA:  Quando eu entendo que isso é da personagem, vou fundo. Acho que a gente tem de investir nas intenções da personagem. Seja tristeza, dor, sensualidade, sexualidade. Eu me entrego mesmo, gosto disso. Isso é o que mais me seduz em atuar: me entregar ao que aquele papel está pedindo, descobrir coisas que nunca vivi na minha vida e de repente ter de procurar fora porque não tenho esse repertório. Ou às vezes até tenho em mim e nunca usei. Para mim, usar a sedução é que nem usar a raiva, a tristeza ou a alegria.

OF: Você também é cantora e concilia bem com o trabalho de atriz. Acredita que uma carreira contribua para a outra? 

EA:  Acho que ajuda sim. Eu vejo música em tudo, por exemplo. Estudo meus personagens ouvindo msica. E acho que talvez o fato de eu ter essa vivência de atriz, do palco e do teatro ajude na minha presença cênica quando eu canto. Mas mesmo ajudando, eu tenho cada lugar no seu lugar. Quando estou gravando a novela, estou totalmente. Giro um botão e concentro onde eu estou. 

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