Emílio Dantas não se vê como galã

Por - 30/07/17 às 17:38

Divulgação/Globo/Estevam Avellar

No ar como o Rubinho de A Força do Querer, novela de Glória Perez que está sendo exibida pela Globo, na faixa das 21h, Emílio Dantas vive uma excelente fase. Obcecado pela mulher, o personagem não só foi perdoado por Bibi (Juliana Paes), ao revelar uma “outra parte” de sua vida, como a arrastou para o crime, enquanto estava na cadeia. Agora foragido, ele dá início a uma nova virada: tornar-se o Barão do Pó do Morro do Beco. O ator afirmou, em entrevista ao jornal Extra, que não há nada defensável na trajetória torta do traficante.

"Rubinho é um cara órfão, que passou por muito perrengue quando moleque. O que o move agora é a ganância sem medidas. O que cegou Rubinho foi esse amor e essa insegurança de ter que dar tudo e mais um pouco para Bibi. Aos meus olhos, ele passou do ponto. Não conseguia suprir a casa, mas pirou querendo sempre mais. O cara contratou o Wesley Safadão para cantar no aniversário da mulher! Como defender?".

Cria da Zona Norte do Rio de Janeiro, o artista de 34 anos diz que experimentar o dia-a-dia nesta região da cidade o aproxima, ainda mais, da realidade de seu papel na trama de Glória Perez.

"Rubinho é tijucano, e eu passei boa parte da minha vida entre Tijuca, Vila Isabel e Grajaú. Tive amigos dali que acabaram enveredando para o mundo do tráfico. Gente da época da infância, que estudou comigo e foi para o caminho errado. Ouvia falar que fulano foi preso porque estava montando um desmanche de carros em Vila Isabel, que beltrano foi pego assaltando apartamento na Barra, com a namorada e os comparsas… Quem mora na Tijuca sabe como é, muito crime rondando. Com 15 anos, fui espancado por 15 pivetes do Morro do Salgueiro, por defender meu irmão de uma briga covarde. E, vira e mexe, eu via um corpo jogado na rua", relembrou Emílio, durante a entrevista.

Atualmente, o ator mora no Grajaú, na Zona Norte. Para ele, a violência na Cidade Maravilhosa virou questão cultural.

"Já fui assaltado do lado de casa. Colocaram quatro armas na minha cabeça para levar o meu carro. Perdi um saxofone, que estava no porta-malas, e uma prancha. Depois, curiosamente, não me revoltei. Pensei: 'É o Rio de Janeiro, que triste…'. E ainda me culpei: 'Pô, dei mole, como é que fui sair de casa com tudo isso, àquela hora da noite?'. Infelizmente, (a violência) virou uma questão cultural".

Enquanto na ficção seu personagem aposta todas as fichas no comércio pesado de drogas, ao montar uma refinaria no Morro, Emílio não acredita que a legalização seja uma solução para melhorar a triste realidade de cada dia.

"O Brasil não está pronto para isso. Há muitas questões políticas e ideológicas envolvidas. Vivemos uma vigília do politicamente correto, do certo ou errado. O maconheiro é bandido? O pobre é bandido? Está tudo muito deturpado…Vemos gente levando surra até a morte, porque teve sua foto divulgada no Facebook equivocadamente. Com uma mentalidade dessas, como legalizar? Neste momento, não existe nada mais viável do que uma conscientização geral, em relação a como se leva a política do País".

Fora de cena, o ator busca na natureza e nas artes os seus pontos de equilíbrio. Ao final das  gravações de cada dia, ele contou que se enfia debaixo do chuveiro, deixando a água levar toda a energia ruim. E, ao menos uma vez por mês, reserva um tempinho para um mergulho no mar e um banho de cachoeira, com o objetivo de limpar e renovar corpo e alma.

"Em casa, eu me esqueço da vida fazendo os meus rabiscos e as minhas pinturas. Desenho desde criança, mas com tinta eu comecei a brincar faz uns dois anos. Em meio aos muitos momentos de espera para gravar Além do Tempo (novela em que deu vida ao vilão Pedro), comecei a rabiscar papel com caneta de novo. Aí deixei para colorir e fui tentando avançar, foi acontecendo. Ainda estou achando a minha identidade. Tenho curtido uma pegada mais abstrata, mas já tracei pessoas, bonecos malucos, ETs…".

O artista ainda contou ao Extra que pensa em montar uma exposição com suas obras.

"Mas ainda tenho que produzir mais. Devo ter umas cinco ou seis telas e uns cem desenhos. É que vai uma galera lá em casa, vê, curte, pede para levar e eu deixo, não sou apegado. Meus amigos se auto presenteiam. A última foi Andreia Horta".

Dono de um Fusca 65, ele garante que não precisa de muito para ser feliz, e sua lista de "quereres" é composta pelo carro, seu grande xodó, e uma "casinha", além de trabalho e saúde.

"Eu sequer tenho um guarda-roupa! Meu armário são duas cadeiras de bar penduradas, onde eu coloco roupa de cama e banho, e um cabideiro".

Além da pouca ambição, Emílio revela ter quase nada de vaidade e faz pouco caso do rótulo de galã, cobiçado por muitos. Hoje com 80 quilos, Emílio já exibiu uma silhueta rechonchuda, de 105.

"Vocês são malucos de ficarem falando essas coisas… Nunca deixei de dormir por isso, não é importante para ninguém. Eu até me acho um cara bonito, mas sou descuidado. Nunca gostei de malhar, minha curtição sempre foi leitura, desenho, cinema. Acho que todo mundo tem vaidade. A minha, talvez, seja querer fazer o meu trabalho muito bem feito", ressaltou ele, durante o papo com o veículo.

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