Emilio Orciollo Netto diz que domina o tempo quando está no palco
Por Redação - 07/07/13 às 13:32
Emilio Orciollo Netto define a profissão de ator como um exercício de observação. É a partir desse olhar minucioso sobre o cotidiano que ele capta boa parte das inspirações para seus personagens. E essa visão de "mundo ao redor" foi essencial na hora de construir as características de Murilo, o playboy decadente que interpreta em Amor à Vida.
"Meu personagem é um retrato do universo dos 'mauricinhos' de São Paulo. Sobretudo, dos que foram à falência. Sou paulistano e sempre convivi sem preconceitos com todo tipo de gente. O Murilo nasceu a partir disso. Ele carrega todo o gestual e as complexidades de quem sempre teve tudo na mão", enfatiza o ator de 39 anos.
Em Amor à Vida, Emilio volta a trabalhar sob o texto de Walcyr Carrasco, autor por trás de seu maior sucesso popular, o Crispim de Alma Gêmea, de 2005.
"A novela era um sucesso de audiência e o Crispim cresceu muito na trama. Até hoje tem gente que me vê e grita: 'Miiiiiiirrrrrrna'", conta, aos risos, relembrando o bordão do inocente personagem.
Mesmo sem se importar muito com o horário dos folhetins para os quais é escalado, Emilio sabe da importância da novela das nove para a emissora e comemora sua volta à faixa, onde teve sua primeira experiência na tevê, em O Rei do Gado, de 1996, e uma década depois do fim de Esperança.
"Qualquer trabalho é trabalho. Mas a visibilidade do horário é muito maior. O bom é variar. Afinal, cada faixa tem suas características específicas", analisa.
O Fuxico: Nas novelas assinadas por Walcyr Carrasco, você já encarnou tipos extremamente cômicos, como o Crispim, de Alma Gêmea, até personagens trágicos, como o Príncipe Sandra, de Gabriela. O que o atraiu para fazer o Murilo?
Emilio Orciollo Netto: Muito além do personagem, tenho uma relação muito boa com o Walcyr. Acho que ele é o tipo de autor que escreve para todo mundo. Uma hora, meu personagem pode estar andando em círculos na novela, mas sei que terá seus momentos de destaque e cenas bacanas. Walcyr sempre me chama para as novelas dele e, se estou disponível, digo "sim". Outra coisa que os personagens dele agregam à minha carreira é versatilidade. Ainda não tinha feito nada parecido com o Murilo e isso é muito estimulante.
OF: O que seu personagem atual tem de tão diferente?
EON: Acho que é a proximidade com o real. Murilo é um típico playboy falido de São Paulo (risos). Ele não faz nada, vive debaixo da saia da mãe e nem a filha consegue fazer com que ele tome um rumo na vida. A partir dessa perspectiva, o Walcyr faz muita graça. E torna a vida dessa família, que mora em um bairro nobre, mas em uma casa caindo aos pedaços, em uma grande sátira. É uma situação totalmente verossímil.
OF: Você nasceu em São Paulo, mas mora no Rio de Janeiro há mais de 20 anos. Precisou voltar à sua cidade natal para reativar a memória de como age um típico playboy de lá?
EON: Fiz questão de revisitar São Paulo. Meu foco foram festas e badaladas elegantes. Lá, existem muitas pessoas com o perfil do Murilo. É claro que as memórias da minha infância e juventude também estão presentes no personagem. A partir das novas impressões e do que eu já tinha, fiz um mosaico. Juntei referências de várias pessoas que adoram ostentar e não têm nada, apenas a atitude. Então, meu personagem usa sempre a gola de suas camisas pólo ou sociais levantadas, sapatos extravagantes e orna essa indumentária com as poucas joias de família que restaram (risos). Mas também busquei referências artísticas.
OF: Quais?
EON: Por orientação do (diretor de núcleo) Wolf Maya e do (diretor-geral) Mauro Mendonça Filho, o ponto de partida para as principais cenas do meu núcleo é o documentário Grey Gardens, história de uma mãe e sua filha, que, anos depois da falência da família, passam a vida reclusas em uma casa totalmente decadente em East Hamptons, um balneário de luxo. O filme é sensacional! Se o rico é excêntrico, o ex-rico é muito mais (risos).
OF: Para se dedicar a Amor à Vida, você teve de parar as apresentações do monólogo Também Queria Te Dizer, uma produção sua. Por conta do espetáculo, você chegou a pensar em recusar o convite para a novela?
EON: Tenho um contrato com a Globo. Com isso, a novela acaba tornando-se minha prioridade. Como não quero dar trabalho para a produção, decidi dar um tempo com a peça. O teatro é a casa do artista. É onde ele pode realmente contar suas histórias sem sofrer cortes e edições. Eu domino o tempo quando estou no palco. Para isso acontecer da melhor forma, é preciso dedicação. E fazer novela é correria, preciso conviver com muitos imprevistos. Então, decidi parar com as apresentações e retomar o espetáculo quando Amor à Vida chegar ao fim.
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