‘Enquanto houver desigualdade social, toda paz é uma mentira’, diz Criolo
Por Redação - 13/11/18 às 12:00
A edição de novembro da Revista 29 Horas, publicação distribuída gratuitamente nas salas de embarque e desembarque do Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, traz uma entrevista exclusiva com Criolo.
O cantor expressa sua indignação e preocupação com a desigualdade social no Brasil, assunto que ronda a sua vivência.
“Costumo dizer que o dia que eu tenho show é o dia que eu não trabalho, é o dia de uma celebração maior da luta de uma existência”, afirmou ele.
Boca de Lobo, sua mais recente, é um manifesto contra a atual situação do Brasil. As cenas, fortes e agressivas, fazem referência a escândalos que são consequência do abuso de poder no país.
Exemplos disso são o incêndio no Museu Nacional do Rio de Janeiro, o desastre ambiental causado pela Samarco em Mariana, a máfia da merenda e a Farra dos Guardanapos, também no Rio.
“Eu sinto que a canção não pode ser tratada como um jardim onde eu vou lá podar, moldar e deixar do jeito que tem que ser porque alguém vai ver. A arte é uma força que arranca todas as paredes”, disse Criolo.
O cantor é de origem humilde e sempre enfrentou dificuldades e preconceitos.
“Eu cresci em um ambiente em que falavam que a gente ia morrer de morte matada ou de fome, não ia passar dos sete anos por subnutrição, dos treze por violência humana… O medo é a ferramenta eficaz de manipulação. Junte isso ao sucateamento brutal das escolas públicas, das questões da humanidade, e a gente tem uma situação muito sofrida”, contou ele.
Criolo é categórico ao afirmar que a desigualdade social é o grande problema da humanidade.
“Enquanto houver desigualdade social, toda paz é uma mentira. A desigualdade social vem oferecer tudo aquilo que a alma não precisa, tudo que uma criança não precisa. Por que as pessoas têm que comer comida no lixo se a gente exporta comida? Se somos iguais, então por que somos tratados como diferentes? Explica para mim! Por que tudo se resume a dinheiro? ”, questionou ele.
Para o músico, sua família é o que ele considera seu maior bem e ele não poupa palavras para enaltecer sua mãe, Maria Vilani e também seu pai.
“Minha mãe é o meu espelho maior, meu céu, meu chão. Ela é tudo. Quando relembro a história da minha mãe, eu tenho esperança no ser humano”, contou.
Apesar de vivenciar tanta injustiça e tristeza, Criolo ainda tem esperança no futuro dos jovens brasileiros
“Tenho visto em cada canto do país tanta energia positiva que isso tem me alimentado a alma. São jovens se reunindo e apresentando soluções magníficas de transformação social. E tudo dentro de uma disciplina muito grande. Eu não vou perder nunca a esperança na nossa juventude. Nunca, nunca, nunca”, disse.
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