Entrevista: Gloria Pires conta que a vida lhe trouxe papéis mais dramáticos
Por Redação - 02/12/12 às 10:23
Gloria Pires está longe de achar que já fez de tudo como atriz, ao longo de mais de quatro décadas de carreira. Mesmo assim, confessa que se surpreendeu com a possibilidade de, aos 49 anos e com uma trajetória televisiva de fazer inveja em muitos colegas, estrear nos folhetins de comédia em Guerra dos Sexos.
"É claro que, como estou saindo da minha zona de conforto, bate um frio na barriga e uma preocupação maior antes de gravar determinadas cenas. Mas isso também aumenta o prazer, dá um gás diferente", empolga-se a intérprete da temperamental Roberta do remakede Silvio de Abreu.
Curiosamente, a convivência com o humor se iniciou ainda muito nova. Gloria é filha do finado humorista Antônio Carlos Pires, que atuou em diversos programas do gênero. Como, por exemplo, Escolinha do Professor Raimundo, onde encarnava o matuto Joselino Barbacena.
"Eu até poderia seguir esse caminho, mas as oportunidades apareceram e me jogaram para o drama. Não foi algo premeditado", lembra.
O Fuxico – Esta é sua estreia em um papel cômico em novelas. Como recebeu a proposta?
Glória Pires – Pois é, nunca fiz isso na tevê. Na verdade, até fiz. Mas em programas humorísticos há muitos anos e, mais recentemente, no seriado As Brasileiras. Serviu como uma espécie de ensaio rápido, para experimentar essa coisa mais leve. Mas Guerra dos Sexos tem um tom muito diferente, que na minha visão é totalmente novo. E isso é o que está me empolgando tanto nesse trabalho. É uma personagem com um ritmo acelerado, ágil. Tem um sabor bem diferente do que normalmente eu faço na televisão. O interessante é que tem torta na cara, mas não sai completamente do drama. A história da Roberta começa com a morte do marido dela. Vai de um extremo ao outro. E mesmo nos momentos dramáticos, é uma outra região, distante da que já conheço.
OF – Você acompanhou a primeira versão da novela?
GP – Não. Eu trabalhava bastante e já tinha a Cleo (Pires, filha da atriz). Ela estava com um aninho nessa época. Claro que a cena da guerra de comida da Fernanda Montenegro e do Paulo Autran é um clássico. Essa referência eu tenho. Mas a novela em si eu não assisti. O que para mim é até bom, porque o Silvio defende que é uma outra história. Os personagens têm os mesmos nomes, mas os rumos podem ser diferentes. Não existe um compromisso de repetir o que foi exibido naquela época.
OF – Por que você não investiu mais no humor na tevê?
GP – As oportunidades vieram e eu fui para o drama. Não foi bem uma escolha. Mas sempre tive mesmo uma ligação muito forte com o drama. Era um sentimento que logo aflorava em mim. Já a comédia é algo que venho trabalhando. Estou descobrindo ainda. E, confesso, adorando. Até porque acho que, para você fazer comédia – e essa é uma impressão pessoal, sinto que está acontecendo comigo –, precisa ter a capacidade de rir de si mesmo. Não dá para se levar a sério. Só assim a comédia rola bem. Esse exercício tem sido regenerador para mim.
OF – De quem partiu a ideia de escalar você para um papel cômico? Foi o Silvio de Abreu ou o Jorge Fernando?
GP – Não sei quem pensou nisso. Mas foi o Jorge quem me convidou. Eu estava a algumas semanas de encerrar Insensato Coração quando ele conversou comigo, na Globo mesmo. Disse que faria Guerra dos Sexos e que queria que eu fizesse a Roberta. Eu não sabia bem o que era, não vi a novela. Então, pedi para ele me explicar. Aí soube que tinha sido a personagem da Glória Menezes e que seria nesse tom. Respondi que estava dentro. Foi um sucesso que marcou a carreira do Silvio de Abreu e, sinceramente, achei maravilhoso poder vivenciar esse reencontro dele com sua obra. E nunca tinha trabalhado com o Jorge Fernando como diretor. Fizemos uma novela juntos, Água Viva, mas ele estava lá como ator. Depois, não nos encontramos mais profissionalmente na televisão. Só no cinema, porque ele fez uma participação hilária no Se Eu Fosse Você, mas também como ator.
OF– Era um desejo seu experimentar a comédia em uma novela?
GP – Não parava para pensar nisso. Tenho trabalhado muito, venho emendando um trabalho em outro. E quase nada do que fiz foi planejado. Mas estou bastante motivada com essa personagem. Quando aceito fazer qualquer trabalho é porque percebo que está me faltando algo e que preciso fazer aquilo para suprir essa falta. Vejo que vai ser bom para mim, para a minha vida, para o meu currículo. Mas acho que, para uma estreia no humor, foi bacana encontrar essa chance, ao lado do Silvio e do Jorginho.
OF– Por quê?
GP – Qualquer atriz espera conquistar oportunidades diferentes na profissão. Isso independe do tempo que você tem de carreira. Fiz um trabalho marcante com o Silvio, em Belíssima, mas era outra praia. Às vezes, aparecem convites muito bons, do tipo irrecusáveis, mas que não são possíveis de conciliar com outras coisas. Dessa vez, não bateu com nenhuma outra novela ou com projetos fora da televisão. Eu até pretendia passar um pouco mais de tempo fora do ar, já que Insensato Coração foi ano passado e a Norma foi um papel muito forte para mim. Mas foi tão incrível a proposta de fazer Guerra dos Sexos que não dava para dizer um não.
OF – O que você busca atualmente na sua carreira?
GP – Não sou o tipo de pessoa que fica buscando o que gostaria de fazer. Presto, sim, muita atenção em tudo que aparece para mim. Mas o que eu sempre procuro é ir para um outro lado, experimentar novas possibilidades mesmo depois de 45 anos de carreira. Não é uma coisa que se explique facilmente. O importante é a gente sempre tentar se reinventar. Cada ator tem a sua forma de tentar isso.
OF – E qual é a sua?
GP – A televisão tem um esquema muito mais definido que o das diversas produtoras de cinema. Então, sem dúvidas, o cinema tem sido para mim um excelente caminho de experimentação. Na tevê, trabalhamos quase sempre em um único formato. Se eu saísse da Globo e assinasse com a Record, certamente teria experiências novas, com as quais nunca lidei. Já os filmes têm produtores diferentes, com experiências e patrocínios distintos.
De pai para filha
Gloria começou a atuar ainda na infância. Herdou, na verdade, a profissão do pai, o ator e comediante Antônio Carlos Pires. Em 1968, a então menina apareceu na abertura e em algumas cenas da novela A Pequena Órfã, da TV Excelsior. Chegou a trabalhar com o pai no humorístico Chico City. Mas sua carreira decolou para valer depois que interpretou a adolescente Marisa de Dancin' Days.
"Foi uma fase incrível, meu primeiro papel de destaque", valoriza.
Tanto que, logo que a novela terminou, já estava escalada para interpretar a protagonista de Cabocla.
De lá para cá, engatou vários trabalhos de sucesso. Conquistou um patamar ainda mais alto na televisão quando conseguiu, na pele da vilã Maria de Fátima, de Vale Tudo, interpretar um dos papéis mais odiados dos folhetins, em 1988. Cinco anos depois, foi escalada para um trabalho que se tornaria um dos principais de sua carreira: encarnar as gêmeas Ruth e Raquel na segunda versão de Mulheres de Areia, reprisada recentemente no Vale a Pena Ver de Novo, da Globo. Esse foi, inclusive, o primeiro remake que protagonizou, marcando presença em mais um depois de quatro anos, novamente no posto principal: Anjo Mau.
"Como são épocas diferentes, nem sempre as tramas tomam os mesmos caminhos. E normalmente são novelas que a gente não viu ou viu há muitos anos. Então, tem um frescor, um sabor de algo 'novo'", analisa.
Em família
Gloria Pires tem motivos de sobra para se sentir envaidecida. Além de, pela primeira vez, explorar o humor em uma novela, também se sente orgulhosa pelo espaço que as duas filhas atrizes estão conquistando. Cleo Pires é um dos principais nomes do elenco feminino de Salve Jorge, novela das 21 horas da Globo, na pele da corajosa Bianca. E Antônia Moraes se prepara para gravar suas primeiras cenas em Guerra dos Sexos, já que foi escalada para interpretar uma personagem que só entra nas próximas semanas. Existe, inclusive, a expectativa de a menina ter algumas sequências ao lado da mãe.
"Fico muito feliz, é um privilégio poder encontrar com elas no meu trabalho. Mas essa proximidade não faz com que eu interfira em nada. Prefiro que exista uma independência. Elas também acham isso", conta.
Trajetória Televisiva
# "A Pequena Órfã" (TV Excelsior, 1968) – Glorinha.
# "Selva de Pedra" (Globo, 1972) – Fatinha.
# "Chico City" (Globo, 1973) – Filha do Dr. Aristóbulo.
# "O Semideus" (Globo, 1973) – Ione.
# "Duas Vidas" (Globo, 1976) – Letícia.
# "Dancin' Days" (Globo, 1978) – Marisa De Souza Mattos.
# "Cabocla" (Globo, 1979) – Zuca.
# "As Três Marias" (Globo, 1980) – Maria José.
# "Água Viva" (Globo, 1980) – Sandra Fragonard.
# "Louco Amor" (Globo, 1983) – Cláudia.
# "Partido Alto" (Globo, 1984) – Celina.
# "O Tempo e O Vento" (Globo, 1985) – Ana Terra.
# "Direito de Amar" (Globo, 1987) – Rosália Alves Medeiros.
# "Vale Tudo" (Globo, 1988) – Maria de Fátima Acioly.
# "Mico Preto" (Globo, 1990) – Sarita.
# "O Dono do Mundo" (Globo, 1991) – Stela Maciel Barreto.
# "Mulheres de Areia" (Globo, 1993) – Ruth/Raquel Arajo.
# "Memorial de Maria Moura" (Globo, 1994) – Maria Moura.
# "O Rei do Gado" (Globo, 1996) – Rafaela Berdinazzi.
# "Anjo Mau" (Globo, 1997) – Nice.
# "Suave Veneno" (Globo, 1999) – Inês/Lavínia.
# "Desejos de Mulher" (Globo, 2002) – Jlia Miranda Moreno.
# "Belíssima" (Globo, 2005) – Júlia Assumpção.
# "Paraíso Tropical" (Globo, 2007) – Lúcia Vilela Cavalcanti.
# "Insensato Coração" (Globo, 2011) – Norma Pimentel.
# "As Brasileiras" (Globo, 2012) – Ângela Cristina, "A Mamãe da Barra".
# "Guerra dos Sexos" (Globo, 2012) – Roberta.
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