Esclarecendo a polêmica de Caetano Veloso

Por - 10/02/06 às 13:30

Felipe Panfili

Nesta semana, a Revista Isto é Gente publicou em suas páginas e deu ainda destaque na capa, para uma matéria referente ao cantor Caetano Veloso. O material dizia: “Um ano após se separar de Paula Lavigne e menos de um mês depois de virar avô, cantor circula por Salvador com uma musa negra, vai de cuecas à praia e beija folclórico Padre Pinto”.

Diante da publicação, Caetano resolveu escrever uma carta à redação da revista a respeito do assunto. OFuxico teve acesso ao conteúdo e o publica, na íntegra:

“Senhores editores,

Vi no último número de Isto É Gente uma reportagem de capa sobre mim. Fiquei chocado com a falsidade das informações. Ali é dito que apareci de mãos dadas com uma nova namorada, no ensaio do Cortejo Afro, em Salvador, que tomei banho de mar de cuecas e que fui levar presente para Iemanjá. Não cheguei de mãos dadas com ninguém àquele local. Não entrei ali com a moça que aparece na foto comigo. A enganosa impressão de que poderíamos estar de mãos dadas, quando pisávamos
degraus diferentes da escada de entrada (eu nem sabia que nesse momento ela estava justo atrás de mim), e um único flagrante de breve diálogo num momento posterior, é tudo o que a revista tem. Para uma publicação que mostra tanta vontade de fazer uma matéria daquela natureza, essa escassez de material é prova de que tudo o que é dito no texto não corresponde à verdade.

Se eu tivesse uma nova namorada e fosse com ela a um lugar público, vocês teriam oportunidade de reunir evidências. Mas não. A moça, conhecida minha de há muitos anos, não é minha namorada e não entrou ali comigo ou ficou a meu lado durante o ensaio. Fui com outras duas amigas e, entre muitas outras pessoas, encontrei-a lá. No dia seguinte, fui a uma praia distante, com um grupo de amigos que não incluía a moça em questão, usando uma sunga de jérsei azul-rei, de marca Blue Man, com etiqueta na parte interna e um bordado da marca no lado esquerdo da parte da frente.

É um sungão, não é uma cueca. Já fui à praia de cuecas centenas de vezes, nos anos 1970. Iria de novo se quisesse. Mas, não o fiz em Salvador agora e detesto ler que fiz o que não fiz. Na verdade, fiquei desagradavelmente surpreso ao ver que os fotógrafos nos tinham seguido até ali. Pois, além de termos parado o carro a mais de um quilômetro do lugar aonde íamos, ficamos num recanto escondido entre árvores.

Tudo bem, eu sei que vocês vivem de entreter seus leitores com histórias sobre pessoas famosas. E eu sou famoso (e estava com alguns amigos célebres naquela praia). Mas, ao menos esperem as histórias acontecerem.

Se eu não fiz nada que significasse a apresentação de uma nova namorada à sociedade, não tomei banho de mar de cuecas, nem levei presente a Iemanjá, por que mentir a seus leitores afirmando que fiz as três coisas?

Tenham respeito por mim. Tenho 63 anos e uma longa vida de trabalho com música popular. Estou na Bahia, levando uma vida o mais quieta possível. Não desci do meu quarto de hotel nem um só segundo, no dia 2 de fevereiro. Só compareci a dois eventos em Salvador todo este verão: a festa da Beleza Negra do Ilê e o ensaio do Cortejo Afro. Ambos a que assisto tradicionalmente e, dada a ligação pessoal que tenho com os dois blocos e os seus dirigentes, a que não podia faltar. Deixei de ir a todos os outros muitos ensaios (de Margareth, do Olodum, do Muzenza, do Male de Balê etc.), assim como a toda a série de shows do Festival de Verão. São coisas que, em outros anos, não perco.

Seria o caso de fazer-se uma reportagem sobre minha atitude reclusa, em comparação. Mas não. Vocês queriam dizer que estou me esbaldando e, com as migalhas de duas saídas discretas, fizeram uma matéria afirmando isso. Eu acho que mereço ser tratado com mais cuidado.

Caetano Veloso”.

 

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