Especial Iron Maiden no Brasil – Ele é o ‘pai’ do Iron Maiden no Brasil

Por - 23/03/11 às 19:38

Reprodução

Paulinho Heavy conta sua maratona para lançar a banda pelas bandas de cá.

Em uma bela tarde de 1981,recebo em minha sala da EMI-Odeon,um exemplar da revista CashBox Billboard e, folheando-a, vejo a cara do Eddie estampada na capa do primeiro LP,em um rodapé de página.
Achei 'ducaralho' a obra da capa e mais ainda, quando leio ao lado dela,as palavras "EMI América".
No ato,,liguei para o Depto. Internacional da Emi-Odeon na matriz no Rio de Janeiro e perguntei à secretária Chica Burnier :
Iron Maiden é nosso? De que se trata?

Resposta : "Xiiiiiiiii…Ishhhto é coisa de pauliiishhhhta!!!Não vende…é pauleira demaishhh…!!!".
Mesmo assim, insisti para que ela me enviasse o material, pois gostaria muito de tomar conhecimento.
Ela não o fez. Mas eu, em princípio e movido pela curiosidade, encomendei um exemplar a um amigo, que sairia de viagem para os EUA. Passadas algumas semanas, recebi minha tão esperada encomenda!
Para minha surpresa, não tratava-se do primeiro LP, mas sim o Maiden Japan,numa clara referência ao Made In Japan do Deep Purple, banda pela qual sou fanático.

Amor e tesão à primeira ouvida.
Pirei,literalmente, com Steve Harris & Companhia!!!
De novo, ligo para o Rio e imploro por mais material, mas, desta vez, falo diretamente com o Jorge Davidson, o então diretor do Depto.Internacional : "Cara,essa banda é demais !!! Você tem que lançar aqui…"

Resposta :"Paulinho,apesar deles estarem lançando mais um álbum(Killers -1981),o nosso foco são os new romantics (Duran Duran,Classic Nouveau,Reflex,Missing Persons,etc) e não há a menor possibilidade de lançarmos algo tão fora de moda,como o rock pauleira destes caras".

Vou mandar este LP de presente prá você, mas esqueça, pois não vou correr o risco de lançar um produto que vai encalhar e endividar o meu departamento junto à diretoria"

Obviamente,  não me dei por vencido e comecei a fazer minha lição de casa em prol da banda.

Como trabalhava na assessoria de imprensa de São Paulo, a cada jornalista amigo que conhecia,comecei a fazer um trabalho de base ao apresentar-lhes o som do Iron Maiden.

Com os vendedores, a mesma coisa.Gravei vários cassetes e distribui aos caras,a fim de que mostrassem aos lojistas e sentissem suas reações. Colhia os depoimentos,formatava em relatórios e mandava, via "malote", aos diretores da minha companhia.

Em  princípio, não colocavam a mínima fé no que eu dizia e achavam que tudo isto era somente fruto do meu gosto pessoal.
Mas, passado algum tempo,o Iron Maiden também colaborou ao lançar o "The Number Of The Beast" e foi justamente aí que o processo inverteu.

Logo de cara, recebi o LP diretamente em minha sala,juntamente com fotos,releases,brindes e um missão do Depto.Internacional : "Paulinho,você encheu tanto o saco que, se conseguir colocar uma crítica bem feita na Revista SomTrês e tocá-lo na rádio Excelsior,dentro do programa Rock Sandwich (Leopoldo Rey/Kid Vinil),nós lançaremos."

Missão dada, mãos  à obra.

Aproveitando que os Rolling Stones estavam em estúdio,gravando o LP Undercover, tratei de reservá-lo como sendo um "coringa",uma vez que seria disputado a tapas pelos críticos daquela revista (leia-se José Emílio Rondeau,Ana Maria Bahiana,Tárik de Souza, entre outros).

Chamei um amigo,  até então desconhecido e que também desejava a ascensão social ao rol dos críticos renomados, e fiz a minha oferta.
"Cara,se você escrever uma boa crítica sobre esta obra do Iron Maidem, terá como brinde exclusivo, e em primeira mão,o Undercover dos Stones para a Revista Som Três"

Após um Olhar 43,misto de espanto com gratidão,aceitou prontamente. A propósito,seu nome é Paulo Ricardo Medeiros e também ficou chapado com o que ouviu.

Com a data do lançamento da revista acertada com a crítica, voei até a Rua da Palmeiras,sede da rádio Excelsior,onde,  através do Maurício Kubrusly (Editor da Som Três e Diretor da rádio), conheci um dos caras mais legais do meio do Rock.

Leopoldo Rey me recebeu muitíssimo bem, achando que teria uma missão muito difícil a seguir, pois não conhecia o som da banda e, no seu jeito acaipirado de falar,foi logo dizendo:
"Se for ruim, ‘nóis’ num toca….os ouvintes mata ‘nóis’!!!".

Ouve aí,cara…eu disse…

Woe to you, oh Earth and Sea, for the Devil sends the beast with wrath, because he knows the time is short… Let him who hath understanding reckon the number of the beast for it is a human number, its number is Six hundred and sixty six…..
"PQP…aí caraio….ave maria…qui porrada….nousssa qui pousta som….!!!Vô é toca já…!!!!!". Estas foram as palavras de Leopoldo.

De volta á gravadora, relatei o fato aos meus superiores e pedi extrema urgência em seu lançamento,uma vez que a rádio,através daquele programa,comprou a idéia e tocaria de forma maciça.

Foi quando descobri,que haviam feito um trato: "Se não vender 2.000 cópias,mandem aquele "cara" embora".

Com os dentes cerrados, a la Eddie,assimilei o golpe e ,mesmo assim,enviei mais um míssil em formato de circular interna, para todos os diretores da companhia
"Favor otimizarem a produção da fábrica,pois devido ao lançamento do Iron Maidem,haverá um excedente de pedidos e faltará o produto em questão."

Dito e feito!

Quando os vendedores foram às ruas e voltaram com os pedidos, o que se viu foi uma empresa multinacional totalmente perdida em uma avalanche de pedidos.
Citando como exemplo a Woodstock, somente o Walcir, proprietário da loja, comprou as duas mil cópias numa tacada só.

Foi muito engraçado perceber o despreparo e o desespero de quem não botava a mínima fé, ter que engolir em seco e reformular todas as suas programações habituais por "um gosxtu di paulisxta"

Fui promovido duas vezes em um único ano. Ganhei um monte de brindes,incluindo uma máscara do Eddie, autógrafos com dedicatórias e agradecimentos diretamente dos caras e todo staff do Maiden.

Em menos de 6 meses,The Number Of The Beast chegou ao disco de ouro pelas cem mil cópias vendidas e cogitou-se trazê-los ao Brasil para ser efetuada a entrega no programa, pasmem, do Chacrinha (ha ha).

Devido ao problema de esclerose múltipla, que fora diagnosticado no baterista Clive Burr, em meio à tournée, a vinda da banda foi cancelada.

Tentou-se de todas as maneiras possíveis,que viessem somente os 4,onde eu seria colocado no palco como sendo o 5 integrante, mas o baixo-astral do "time",naquele momento, foi mais forte e falou mais alto.

De uma hora para a outra,a EMI-Odeon virou a rainha do Metal.

De três em três meses, colocou os LPs anteriores do Iron Maiden no mercado e lançou a coleção Heavy Metal Attack com várias bandas que estavam esquecidas no seu elenco (leia-se Helix,Great White,Wasp, Queensryche,Icon), além de  incrementar as vendas do Whitesnake, motivo pelo qual culminou com os convites para suas participações do primeiro Rock'n Rio e na mudança de atitude em todas as gravadoras, que, alavancadas pelo sucesso de vendas,começaram a lançar por aqui um monte de bandas de rock de seus casts.

O resto,todo mundo já sabe.
Ou pelo menos,imaginam que saibam.

Pioneiro no Brasil em cobertura de entretenimento, famosos, televisão e estilo de vida, em 24 anos de história OFuxico segue princípios editoriais norteados por valores que definem a prática do bom jornalismo. Especializado em assuntos do entretenimento, celebridades, televisão, novelas e séries, música, cinema, teatro e artes cênicas em geral, cultura pop, moda, estilo de vida, entre outros.