Ex-BBB Gyselle Soares é alvo de protestos de movimento negro. Entenda!
Por Flavia Cirino - 13/10/21 às 08:13
A atriz piauiense Gyselle Soares está no centro de uma polêmica por conta do tom de sua pele. Ela, que foi vice-campeã do “Big Brother Brasil 8”, está em cartaz no teatro como a protagonista da peça “Uma Escrava Chamada Esperança”, que conta a história de Esperança Garcia, escrava piauiense que denunciou seus algozes ao governador e se tornou a primeira advogada do estado.
A escolha da ex-BBB causou reação do movimento negro do Piauí. Na estreia do espetáculo, na noite de terça-feira, 12 de outubro, no Teatro 4 de Setembro, em Teresina, aqueceu os protestos nas redes sociais e entre os integrantes do movimento.
Halda Regina, presidente do Instituto Ayabás, chamou à atenção para o “embranquecimento” de Esperança Garcia: “Temos poucas referências de luta pela questão negra no Piauí. É grandioso demais ter Esperança Garcia, uma mulher escravizada que se tornou advogada através da coragem que teve de reclamar de todos os maus-tratos, sendo interpretada por uma atriz de pele clara, para não dizer branca”, frisou ela ao Cidade Verde.
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Para ela, o fato de Gyselle Soares interpretar Esperança Garcia é um retrocesso ao que aconteceu na década de 30, quando surgiu o Teatro Experimental do Negro. Na época, personagens negros eram interpretados por brancos que pintavam o rosto.
“Não vamos dizer que vamos barrar a peça. Queremos chamar a atenção (do público) para que eles assistam a peça com um cunho crítico. A Esperança Garcia Representa as mulheres negras!”, completou Halda Regina.
PRODUÇÃO DA PEÇA SE DEFENDE
Valdsom Braga, diretor e escritor da peça, lamentou a repercussão negativa por conta da escolha de Gyselle Soares para interpretar a primeira advogada piauiense e rebateu as acusações.
“Toda arte que uso dá voz aos excluídos. Quando chega no fator discussão as pessoas estão muito ligadas ao olhar, julgam o livro pela capa. Acho uma maldade o que estão fazendo: agredindo o outro”, disse ele ao Cidade Verde.
Valdsom Braga afirmou ainda que após a repercussão negativa do caso procurou os movimentos através de mensagem nas redes sociais e que quis inseri-los no espetáculo, mas não teve resposta.
“As pessoas que se denomina negras quando se manifestam a favor são torturadas com palavras agressivas. A peça só fomentou a possibilidade de falarmos de inclusão e direitos humanos, o que não representa um grupo seleto. E quem quer saber de fato o que está de fato acontecendo, o espaço está aberto “, completou Valdsom Braga.
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PARA GYSELLE, É UMA HONRA
De acordo com Gyselle Soares, a oportunidade de interpretar Esperança Garcia é um marco em sua carreira, por se tratar de um dos personagens mais emblemáticos da historiografia: “Estou super feliz de estar vivendo esse momento maravilhoso, de viver essa guerreira Esperança Garcia nos palcos do teatro, porque foi uma mulher destemida que lutou por seus ideais. Ao ler sua história lembro dos tantos desafios que também tive de enfrentar na vida. Sei muito bem o valor de uma vitória”, argumento a atriz.
“Esta peça vai brotar esperança em tempos difíceis. Valdsom Braga, com sua mente brilhante, elaborou um texto profundo. Eu, investida em um personagem voltando ao passado, ao ano de 1770, trazendo de volta a história de Esperança Garcia. Quero dividir esse momento único daminha carreira com vocês. Iremos percorrer o Brasil, lançando sementes de Esperança”, disse Gyselle Soares.
QUEM FOI ESPERANÇA GARCIA
Esperança Garcia, mulher negra e escravizada, escreveu ao governador do estado do Piauí em 1770, denunciando os maus-tratos que tanto ela quanto suas companheiras e seus filhos sofriam. Também reclamava do fato de ter sido separada de seu marido e do impedimento de batizar as crianças.
Devido a essa carta, Esperança recebeu o título simbólico pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) do Piauí de primeira advogada do estado.
A carta de Esperança foi encontrada em 1979, no Arquivo Público do Piauí, pelo historiador Luiz Mott. A descoberta de sua reivindicação fez dela símbolo da luta por direitos e da resistência negra.
Em sua homenagem, o dia 6 de setembro, data da carta, foi instituído como Dia Estadual da Consciência Negra no Piauí.
A carta é uma petição, como explicou Maria Sueli Rodrigues de Sousa, professora da Universidade Federal do Piauí (UFPI) e advogada que presidiu a comissão durante a elaboração do dossiê.
Cronologicamente, isso faria de Esperança a primeira advogada do Brasil. Oficialmente, no entanto, como não foi reconhecida pelo Conselho Federal da OAB, o posto é de Myrthes Gomes, que ingressou na advocacia em 1899.
Mas há reivindicações de juristas e advogadas negras para que também a OAB Nacional reconheça Esperança Garcia como advogada.
Da vida de Esperança, no entanto, sabe-se pouco e também não há certeza do que ocorreu com ela após o envio da carta. A teoria mais aceita é de que ela retornou à fazenda de Algodões, onde vivia. Isso porque um documento de 1878 —oito anos após o envio da carta— com a relação de escravizados desta fazenda, menciona o casal Esperança e Ignacio, ela com 27 anos e ele com 57. Ela teria, portanto, 19 anos quando escreveu a carta ao governador.
Entre as conclusões do dossiê, está que, ao escrever a carta reivindicando por direitos, Esperança se reconhece e atua como membro da daquela comunidade política, pedindo nada além do que aquilo que era legalizado, segundo as leis e costumes da época.
“Esperança Garcia conhecia seu mundo e também os limites que a escravidão e as possibilidades que o direito português poderiam lhe oferecer em casos de conflitos”, consta no dossiê.
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É jornalista formada pela Universidade Gama Filho e pós-graduada em Jornalismo Cultural e Assessoria de Imprensa pela Estácio de Sá. Ela é nosso braço firme no Rio de Janeiro e integra a equipe de OFuxico desde 2003. @flaviacirino