Famosos e guarda compartilhada: como ficam os filhos após a separação

Por - 10/12/20 às 16:00

Fotomontagem Reprodução/Instagram

Quando o casamento acaba, se o ex-casal tem filhos, surge aí uma grande e difícil realidade além da separação: a guarda e os cuidados com os filhos. Muitas pessoas não sabem, mas guarda compartilhada não significa apenas ver o filho a cada 15 dias. É algo bem diferente. E o pai e a mãe da criança precisam ter a cabeça no lugar para uma convivência bacana, onde os filhos não sofram com a distância de um e outro e também para que não haja a temida alienação parental.

OFuxico separou histórias de famosos que se separaram e dividem os dias com seus rebentos, de maneira harmônica, além de uma entrevista com Fernando Farias Valentin, profundo estudioso e conhecedor do assunto, criador e diretor do Observatório da Guarda Compartilhada, que apontou ainda números expressivos, divulgados pelo IBGE, na quarta-feira (9), relatando o crescimento de separações e de guarda compartilhada no Brasil. Confira!

OFuxico – O que é a guarda compartilhada e o que as pessoas acham que isso é?

Fernando Farias Valentim – Apesar do Brasil ter criado duas leis para tratar da guarda compartilhada de filhos me menos de uma década, a sociedade como um todo não sabe bem o que é isso. Em geral o senso comum acredita que guarda compartilhada seja simplesmente tomar decisões conjuntas sobre a vida dos filhos no pós-divórcio. Entretanto, a essência da lei 13.058/2014 é bem mais que isso. Guarda compartilhada é tomar decisões conjuntas, e conviver ampla e irrestritamente com os filhos, e ofertar-lhes o patrimônio moral de pai e mãe e é também ter os filhos em sua companhia com bastante regularidade e frequências. Visitas de 15 em 15 dias não é guarda compartilhada.

OF – Guarda e pagamento de pensão: qual a relação?

FFV – Nenhuma. Pagamento de pensão alimentícia não tem ligação com guarda compartilhada: isso é um tipo de pagamento que serve para alimentação, saúde, educação, vestuário da criança. Não se trata de relação parental. É uma obrigação devida por todo pai e toda mãe a qualquer filho, independente de arranjo de guarda. Cada qual de acordo com suas possibilidades, deve prover o sustento dos filhos.

Grazi Massafera se orgulha ao ver sua filha andando a cavalo 

 OF – Qual a porcentagem de ex-casais que realmente cumprem a guarda compartilhada da maneira como tem que ser?

FFV – Infelizmente não dispomos dessa estatística com maior rigor. Em 2016 o OBGC BRASIL conduziu um estudo exploratório sobre o assunto na cidade de Santo André. Ainda que inconclusivo, o estudo apontou que apenas 3 de cada 10 guardas compartilhadas cumprem os requisitos propostos pelo International Council On Shared Parenting emitidos em 2014 na Alemnaha.

OF – Quando um ex-casal não divide corretamente a guarda de um ou mais filhos: o que isso pode acarretar na vida da criança?

FFV – O maior impacto disso se dá na primeira infância (0 a 6 anos). Via de regra, crianças e adolescentes que não conseguirem formar um apego seguro a seus pais e mães na adolescência ou na fase adulta da vida terão maior propensão para álcool, drogas, gravidez precoce, baixo rendimento escolar, entre outros. Obviamente isso não é uma regra, mas é uma tendência verificada em muitos estudos internacionais. Na adolescência haverá uma nova janela de oportunidades como apontam os estudos do Child Development Center da Universidade de Harvard. Isto é, muitas das eventuais sequelas poderão ser corrigidas, porém, caso não ocorra alienação parental.

OF –  Já na fase adulta, a pessoa que sofreu com a falta de diálogo e acordo dos pais em relação à guarda compartilhada pode guardar sequelas disso?

FFV – A psique de um adulto é uma teia altamente complexa, muitas vezes difusa, com compartimentos de diversos pesos e medidas. Porém, é sabido que a carga de vivências e emoções da infância e da adolescência tem peso muito significativo na vida futura desse adulto. O exemplo mais evidente disso é a repetição de padrões. É muito comum vermos filhos repetindo o comportamento de seus pais e suas mães, no tocante as relações afetivas e comportamentais com seus parceiros. Essa é uma das sequelas mais comum e visíveis. Repetição de relacionamentos tóxicos, relações abusivas, práticas de violências físicas e psicológicas, tendências ao isolacionismo…

Cauã Reymond posta momento fofo com a filha Sofia 

OF – Como se explica a alienação parental (AP) e quais as principais formas que ocorrem?

FFV – Para muitos estudiosos e pesquisadores a alienação parental deveria ser considerada como um crime inafiançável e hediondo. De maneira muito simples, ela consiste em “programar” uma criança para odiar um de seus genitores. Mas ocorre que as formas de constatação e verificação desse problema não são nada simples. Em 2019 a OMS incluiu a Alienação Parental na classificação internacional de doenças ( QE52.0) com a perspectiva de validação para 2022. A lei brasileira da alienação parental completou 10 anos de 2019, sendo uma das mais avançadas do mundo. Nos últimos anos, movimentos feministas tem apregoado que a lei tem sido utilizada como violência contra a mulher e preconizam a revogação da mesma. Um estudo internacional de 2020 de Harman & Lorandos com vasta revisão da literatura sobre o assunto, rechaçou completamente essa ideia.

OF – Em termos práticos, como “funciona” a AP?

FFV – Em termos práticos, a alienação ocorre de forma branda, porém persistente e se materializa em falas do tipo: “seu pai fez isso”, “sua mãe não presta”, “seu pai não gosta de você”, “sua mãe nunca pagou pensão”… A proibição das visitas, dos passeios, a supressão das informações escolares, as restrições reiteradas ao convívio em aniversários, festas. Tudo isso é alienação parental.

OF – E quando a criança decide saber a verdade e questiona os pais, sobre o que ouviu do seu pai/mãe em relação ao ex-parceiro, quem deve intermediar para que seja passado a  verdade?

FFV – Veja, a partir do momento que a criança e/ou adolescente toma ciência e consciência dos fatos, não há outro caminho a não ser ambos os genitores sentarem com os mesmos criança e conversarem. Mas isso raramente acontece. Psicólogos são os melhores profissionais nesses casos. Mas não qualquer psicólogo. É preciso buscar por profissionais que tenham abordagens sistêmicas e não “behavioristas” (é uma teoria psicológica que objetiva estudar a psicologia através da observação do comportamento, com embasamento em metodologia objetiva e científica fundamentada na comprovação experimental, e não através de conceitos subjetivos e teóricos da mente como sensação, percepção, emoção e sentimentos).

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OF – A partir de que idade uma criança pode escolher se quer passar a maior parte do tempo com o pai ou com a mãe?

FFV – Em 2014 juntamente com o Dr. Rogério Noronha, nós publicamos um modelo de aplicação de guardas compartilhadas a partir dos consensos da ICSP. A partir dos 3 anos de idade a criança já pode passar 2/3 do tempo com a mãe, e 1/3 com o pai. A partir dos 4 anos esse tempo já pode ser 50% com pai e 50% com mãe.

OF – E como colocar isso em prática, quem procurar para fazer valer a vontade da criança?

FFV – Em primeiro lugar, devemos destacar que cabe a mãe e pai se adequarem às necessidades da criança e não ao contrário. A criança é a prioridade. Se praticada desde cedo isso se tornará a regra, tal qual é ainda hoje para a malfada guarda unilateral (onde a criança vive com apenas um dos seus genitores).

Famosos que praticam a guarda compartilhada

Cauã Reymond e Grazi Massafera

Grazi Massafera e Cauã Reymond em momentos diferentes com a filha Sofia

Cauã Reymond e Grazi Massafera mantém uma relação amistosa. Os dois são pais de Sofia (8) e, depois da separação em 2013, eles buscaram se organizar da melhor forma para ficar com a filha.

Numa entrevista no programa Conversa com Bial, este ano, Grazi contou que a guarda compartilhada mostrou a ela algo que ela não conseguia fazer.

"Acho que é bom para ela; para o bem dela tudo ser organizou. A guarda compartilhada é uma opção bem bacana. Tem uma coisa que eu não sabia fazer que era ficar sem ela. Não conseguia. Então, agora tenho esse tempo sem ela para dedicar a mim. É bacana, é uma troca interessante e quando ela vem, estou mais nutrida de coisas para recebê-la", disse a atriz.

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Luana Piovani e Pedro Scooby

Luana Piovani conta sobre a Guarda compartilhada dos filhos com Pedro Scooby

Em agosto deste ano, Luana Piovani e Pedro Scooby fizeram um acordo de guarda coletiva dos três filhos, Dom (8) e os gêmeos, Liz e Bem (4). Em um post no Instagram, a atriz explicou que ela e o ex-marido, que também está morando em Portugal com sua atual esposa, a modelo Cinthia Dicker, vão dividir mais os cuidados com os rebentos: as crianças passaram 15 dias na casa do pai e depois 15 dias na casa da mãe!

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Adele

Adele e seu ex: moram na mesma rua para poder dividir a guarda do filho

De acordo com a revista People, a cantora Adele e o ex-marido, Simon Konecki estão vivendo na mesma rua em Los Angeles, nos Estados Unidos, um na frente do outro. Segundo o veículo, o ex-casal tomou a decisão em prol do filho Angelo (7). A proximidade tornaria mais fácil a guarda compartilhada do garoto.

Adele resolve ser vizinha de ex-marido pelo filho

Henri Castelli e Isabeli Fontana

Henri Castelli e Isabeli Fontana: guarda compartilhada nunca foi prpoblema

Henri Castelli e Isabeli Fontana são pais de Lucas (14). O ator contou em uma entrevista, que ele e sua ex dividem, numa boa, a guarda do menino, desde que ele tinha 2 anos de vida.

“Desde que ele tem 2 anos de idade, a guarda é compartilhada com a mãe. O juiz determinou que ele ficaria 30 dias com cada um, mas a gente nunca fez isso: sempre conversamos e prevalece a vontade dele.”

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José Loretto e Débora Nascimento

Debora Nascimento e José Loretto moram no mesmo condomínio para facilitar a guarda da filha

Quando Débora Nascimento e José Loreto se separaram, Bella, filha do casal, tinha alguns meses de vida. Hoje a menininha tem 2 anos. O ex-casal mantém a guarda compartilhada, o que tem funcionado também neste período de quarentena. Eles moram no mesmo condomínio no Rio de Janeiro, justamente para facilitar a dinâmica do dia-a-dia com a pequena.

Débora Nascimento encanta ao tocar violão para a filha 

Al Pacino

Al Pacino coordena agenda de trabalho com cuidados para os filhos

Al Pacino é pai de três filhos e, ao mesmo tempo, nunca foi oficialmente casado. Sua filha mais velha, Julie, nasceu em 1989 e, em 2001, a atriz Beverly D’Angelo deu à luz gêmeos: Olivia e Anton. Alguns anos depois, o casal se separou, mas os pais mantiveram a custódia conjunta dos filhos, que passaram a mesma quantidade de tempo tanto com a mãe quanto com o pai.

Lenny Kravitz

Lenny Kravitz criou a filha de forma independente

O músico Lenny Kravitz, após se divorciar, começou a criar sua filha Zoe de forma independente. O relacionamento com a esposa Lisa Bonet durou apenas três anos. Ao se separarem, os pais adotaram a guarda compartilhada da filha, mas, quando Zoe completou 11 anos, foi morar com o pai. Zoe Kravitz atualmente é atriz e uma modelo famosa. Pai e filha frequentemente chegam juntos aos eventos sociais.

Norman Reedus

Norman Reedus cria o filho sozinho

A estrela da série The Walking Dead, Norman Reedus, há muito tempo cria seu filho, Mingus, sozinho. Ele é fruto do relacionamento do ator com a supermodelo Helena Christensen, que durou por volta de cinco anos. O casal concordou em ter a guarda compartilhada do filho e, mesmo assim, o menino passou a maior parte do tempo com o pai, em Los Angeles. Hoje Mingus tem 21 anos.

Em apenas 5 anos, Guardas Compartilhadas avançam 19,2% no Brasil

Fernado Farias Valentim revelou também dados dados publicados pelo IBGE na última quarta-feira (9).

"O ano de 2020, com a pandemia do COVID-19, colocou parcelas das crianças e adolescentes mais uma vez longe do convívio dos pais. Somente em 2019, mais de 233 mil menores de idade estiveram envolvidos em divórcios. Se compararmos esse número com o total de óbitos brasileiros causados pelo novo coronavírus, fica fácil perceber que muitas outras pandemias estão ocorrendo, mas talvez, os nossos novos negacionismos não nos permitam perceber.

A lei brasileira de 2014 foi fortemente influenciada pelos consensos publicados pela International Conference on Shared Parenting (ICSP) ocorrida em Bonn, na Alemanha, naquele ano. Para os pesquisadores da ICSP somente a parentalidade compartilhada pode minimizar as sequelas do divórcio em crianças e adolescentes, além de garantir o desenvolvimento integral e sadio dos infantes.

O crescimento nas concessões de guardas compartilhadas no Brasil é realmente um fato a ser muito comemorado. Entretanto, entre a concessão da sentença em juízo e a efetiva prática da guarda compartilhada por homens e mulheres há um abismo gigantesco. Apesar de todos os avanços já ocorridos, parte da nossa sociedade ainda trata a guarda como uma questão de gênero ou de sexo, o que só contribuiu para deixar ainda mais incerto o futuro dos milhares de filhos do divórcio. Guarda não é questão de gênero. Ela é um direito da criança", disse Valemtim.

“Infelizmente no Brasil não dispomos até o momento de estudos e pesquisas que apontem como se dá o funcionamento da guarda compartilhada em nosso país. Arranjos de guarda que não garantam ao genitor residir com a criança um tempo de mínimo de convívio entre 30% a 35%, são considerados pela ICSP como guardas unilaterais. Acreditamos que no caso brasileiro, um número bastante expressivo de famílias não pratique a verdadeira guarda compartilhada, com alternância de residências e tempos mínimos garantidos de convívio”, relata Fernando.

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