Faustão: ‘Se não tivesse juízo, a vaidade destruiria minha inteligência’
Por Redação - 16/12/19 às 08:34
Pela 24ª vez, Fausto Silva comandou a premiação Melhores do Ano, em seu programa, e na noite de domingo (15), após agraciar as 15 categorias de 2019, conversou com a imprensa nos bastidores do Domingão, nos Estúdios Globo, na Zona Oeste do Rio de Janeiro.
Muito atencioso e sem papas na língua, o apresentador destacou a proximidade de seus 70 anos de idade e 55 de carreira.
"Se eu não tivesse um pouquinho de juízo, essa coisa de vaidade já teria destruído a minha inteligência."
Confira a entrevista:
Como você se sente com mais esse êxito? Como foi 2019 para você?
"Não adianta você ter saúde, ter uma certa felicidade familiar, no trabalho, se você não vê essa felicidade pra todo mundo. Só um imbecil é que fica achando que a felicidade tem que ser só em torno dele. Ao contrário. A felicidade tem que ser espalhada. Quanto mais você espalhar a tua felicidade, para mais gente, é melhor pra todo mundo, não é questão de ser bonzinho. Do que mais a gente reclama no Brasil é que as pessoas só veem os interesses pessoais e não os coletivos. Você fica aparentemente feliz mas olha pro seu vizinho, olha para as pessoas e vê uma indignidade na saúde pública. Sei que isso já vem de 30, 40 anos e aqui é sempre gol de galinha: 'agora o Brasil vai!' e isso claro que abate todo mundo. Se você tiver um pouco de sensibilidade vai ver que precisa melhorar pra todo mundo. Não adianta melhorar pra você e não melhora pra outros. Deve pensar que amanhã pode acontecer contigo. Tem que pensar no melhor pra todos. Não é questão de ser bonzinho e sim de ser inteligente. Quando você tem uma sociedade com mais gente feliz, é melhor pra todo mundo''.
Como é fazer um programa ao vivo nessa era de rede social em que qualquer um é juiz?
''Com essa nova tecnologia põe a tua imagem e põe na tua boca o que quiser. Por isso a pessoa tem que tomar cuidado e se proteger. No meu caso, que já estou velho, quase parando, não dou bola pra isso. Por isso falo que o jornalista, nesta profissão ou em qualquer outra, você não pode se empolgar. Se te dão nota dez, não pode se achar o poderoso, dono do mundo. Se você toma nota zero, não é pra dar um tiro na cabeça. Divide tudo por dois e está bom demais. A gente aprende com as porradas da vida. Se você passar perto do cemitério, vai ver que está lá dentro cheio de gente famosa, poderosa, gente que há cinco, seis anos todo mundo puxava o saco e hoje ninguém tem nenhuma foto. É tudo cara que foi condenado, cara que o Brasil viu por onde foi. Isso não compensa, a conta vem, o cara seguiu o lugar errado. É como atacar a natureza: faz merda, você vai pagar aqui. Tem um ditado espanhol que diz: tudo o que você faz com maldade, não traz felicidade. Uma hora volta contra você''.
Luciano Huck e Datena vão entrar para a política. E você?
''Jamais! Primeiro porque ia fazer um discurso, quando percebessem meu tamanho, ia cair o palanque. Mas não é por isso. Todo mundo que tem vontade e habilidade pra isso, boas intenções, tem que ir. Eu não tenho porque não é a minha praia. Acho que o que eu tenho que fazer o que sei fazer, que é apresentar programa, abrir espaço para as pessoas falarem da vida de cada um, para que falem de política, de economia. Vocês podem ver, foi um programa uma festa de entrega de troféus de premiação, mas o que a gente ouviu de histórias de exemplos de família, comportamento, controle de vaidade, gente que está na profissão muito consciente, pessoas que hoje fazem sucesso e quando não fazem sucesso ficam correndo atrás da imprensa e ficam correndo atrás de vocês pra dizer que tem mais projeto do que arquiteto em Dubai. Tem tanto a fazer e não realiza porra nenhuma. Quando está sem sucesso, a culpa é sempre da imprensa. Eu já fui repórter e sei bem como é… é difícil, o ser humano é muito incoerente. E hoje, com essa coisa de rede social, se não tiver um pouquinho de juízo, a vida dele pequena, o cara dentro de um condomínio, seja na favela, na casa do rico ou não, é a mesma coisa''.
Como é receber todo o elenco da emissora? Todo mundo quer vir ao seu programa!
''Sem falsa modéstia, a equipe vem há 30 anos e temos muita consciência de que o nosso trabalho se deve ao público. Então a gente tem primeiro que respeitar o povo. Claro que a gente já errou muito, acerta, um olha pro outro e vê que poderia ter feito uma ou outra coisa diferente e os erros são da vida, assim como vocês fazem uma matéria boa ou não. Tem que ter autocritica e o dilema da dúvida. E digo mais, renovação o tempo todo e mais ainda, tratar os diferentes de forma diferente. Não é tratar mal um ou outro. É normal isso, eu tenho a noção disso. As pessoas reclamam que o apresentador corta. Ele corta as vezes o entrevistado para dar ritmo. Hoje a galera falou o que quis, tanto que a gente passou do horário. Todo mundo sob emoção você não consegue controlar, é difícil''.
Você se considera um profissional realizado?
''Claro que sei dos meus valores, tenho experiência. Ano que vem vou fazer 55 anos de profissão e 70 de idade. Se eu não tivesse um pouquinho de juízo, essa coisa de vaidade é a única coisa que destrói a inteligência. Se o cara não tiver um pouquinho de cabeça, seja um cantor sertanejo, de pagode, jogador de futebol, que às vezes não tem estrutura, mas destrói o imperador, o rei, o empresário, não tem jeito. Quando você se acha mais do que os outros, não tem jeito''.
No seu programa, você destaca a literatura, está sempre ressaltando as artes de maneira geral. Isso será mantido?
''Nos últimos oito anos, mostramos todos os monstros sagrados da pintura. E ninguém falava disso… A questão da leitura, são doses homeopáticas, desde o educador Paulo Freire, que assistia ao programa, meu pai sempre me estimulou muito a leitura. Nós sabemos a dificuldade que o brasileiro tem. É um programa de auditório que tem alguns diferenciais e esse é um deles, acho que é fundamental como as novelas, que tem obrigação de mexer nas feridas da sociedade. Hoje, por exemplo, um programa de gala no qual as pessoas focam à vontade para abrir o coração''.
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