Filha de Manoel Carlos impõe regras rígidas para remakes

Por - 23/12/2025 - 08:15

Manoel CarlosManoel Carlos está fora da TV desde 2014 - Foto: Reprodução/ Instagram

Os remakes das novelas de Manoel Carlos passaram a seguir novas diretrizes. Filha do autor, Julia Almeida assumiu papel central nas decisões criativas e estabeleceu regras que impactam diretamente adaptações futuras, movimento que já provoca debates nos bastidores da teledramaturgia.

Em entrevista concedida ao Estadão, a atriz e produtora estabeleceu condições claras para liberar novas versões das novelas assinadas pelo autor.

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À frente da produtora Boa Palavra, criada justamente para cuidar da obra do novelista, ela adotou um tom firme ao falar sobre limites criativos e preservação artística.

De acordo com Júlia, refazer uma novela não significa apenas atualizar figurinos, cenários ou comportamentos. Para ela, o ponto central está no respeito ao texto original e à essência das histórias que marcaram gerações. “Remakes podem existir, desde que haja definição artística clara — uma releitura que acrescente sentido ao original, não apenas atualize cenários”, afirmou em conversa com o Estadão.

Critérios rígidos e poder de veto

Além disso, a produtora Boa Palavra pretende atuar de forma direta em qualquer projeto que envolva adaptações das obras de Manoel Carlos. Júlia reforçou que não se trata apenas de autorizar ou não um remake, mas de participar ativamente das decisões.

“No caso de um remake, a produtora Boa Palavra só o autorizará mediante participação editorial ou consultoria criativa, critérios de casting e roteiro definidos em conjunto, tendo direito a vetos prévios com relação a mudanças que esvaziem o espírito do texto ou da sinopse original”, explicou.

Aos 92 anos, Manoel Carlos enfrenta o Parkinson

Portanto, a autorização não passa apenas por questões contratuais. A ideia, segundo a produtora, envolve um cuidado quase curatorial com personagens, conflitos e temas que fizeram parte do universo criado por Maneco. “A Boa Palavra aprovará projetos que honrem o autor e seu universo”, completou.

Manoel Carlos construiu uma das trajetórias mais sólidas da teledramaturgia brasileira. Entre seus sucessos estão Baila Comigo (1981), Felicidade (1991), História de Amor (1995), Por Amor (1997), Laços de Família (2000), Mulheres Apaixonadas (2003) e Páginas da Vida (2006). Seus últimos trabalhos na Globo foram Viver a Vida (2009) e Em Família (2014).

Direitos autorais e exemplos recentes

Atualmente com 92 anos, Manoel Carlos enfrenta a doença de Parkinson e é representado legalmente pela filha, de 42 anos. Júlia, inclusive, organiza o acervo do pai e, desde 2024, produz documentários sobre a obra do autor, disponíveis no canal da produtora no YouTube.

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Assim, além de preservar o passado, ela também investe em contextualizar o legado para novas gerações.

Embora a Globo detenha, em regra, os direitos autorais das novelas que produziu, a discussão sobre remakes envolve nuances jurídicas. Em tese, herdeiros podem questionar adaptações que descaracterizem obras originais. Esse tipo de embate, entretanto, raramente chega à Justiça.

Mesmo assim, exemplos recentes chamam atenção. O viúvo de Gilberto Braga, Edgar Moura Brasil, fez críticas públicas ao remake de “Vale Tudo”, exibido em 2025 com adaptação de Manuela Dias. Segundo a revista Veja, ele chegou a avaliar uma ação judicial com base no chamado “direito moral”, ao alegar deturpação da obra original.

Nesse contexto, a posição de Júlia Almeida sinaliza um movimento mais atento de herdeiros e representantes em relação a releituras de clássicos, especialmente quando o assunto envolve memória, identidade autoral e responsabilidade artística.

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É jornalista formada pela Universidade Gama Filho e pós-graduada em Jornalismo Cultural e Assessoria de Imprensa pela Estácio de Sá. Ela é nosso braço firme no Rio de Janeiro e integra a equipe de OFuxico desde 2003. @flaviacirino