Fulvio Stefanini: “Trabalhar pra mim é como viver”
Por Redação - 30/06/13 às 17:05
Viver das glórias ou dos grandes personagens do passado seria muito fácil para Fulvio Stefanini. Com uma enorme variedade de garanhões, vilões e tipos cômicos, o ator já fez de tudo um pouco na tevê. Mas, na contramão de qualquer dose de nostalgia, aos 73 anos – 57 dedicados à atuação –, Fulvio parece mesmo estar com seus olhos profundamente azuis focados no hoje.
"Não gosto de ficar parado, pensando na vida e no que fiz. Prefiro encarar novos personagens, buscar e conhecer novos textos. Sempre fui assim", confessa o intérprete do divertido Denizard de Amor à Vida.
Em sua 43ª novela, Fulvio tem orgulho de creditar a longevidade de sua carreira ao modo artesanal e minucioso com que constrói seus papéis.
"Me coloco a serviço do texto. Quero ser como os personagens são. Não sou do tipo de ator que faz todos os papéis parecerem com ele mesmo", entrega.
O primeiro contato de Fulvio com a atuação foi na Escola de Arte Dramática, em São Paulo, sua cidade natal. Antes de se formar, ele estreou nos teleteatros da extinta Tupi. Com passagens por emissoras como Excelsior, Band, SBT e Record, foi na Globo que o ator encarnou personagens clássicos como Tonico Bastos, da primeira versão de Gabriela, de 1975. Testemunha da renovação no conteúdo e na forma de se fazer novela no Brasil, Fulvio é um entusiasta de um "novo" jeito de contar as mesmas histórias.
"As novelas se tornaram mais dinâmicas. Antes, a gente fazia cenas imensas. Hoje, o pblico pede agilidade e muitas reviravoltas", analisa.
O Fuxico: Amor à Vida é sua 43ª novela. Após tantos anos de carreira, o que ainda o instiga a aceitar novos personagens?
Fulvio Stefanini: Trabalhar, para mim, é como viver. O momento de interpretar é único, quase um orgasmo. De modo geral, até hoje, sinto uma alegria enorme quando escuto o diretor dizer: "gravando!" dentro do estúdio, ou quando toca o terceiro sinal no teatro. É claro que, para manter esse prazer pela profissão, é preciso ter bons convites. E, felizmente, os personagens que me são oferecidos são sempre bem interessantes. O Denizard, por exemplo, é um que eu não conseguiria abrir mão.
OF: Por quê?
FS: Me encantei com o retrato paulistano que a novela se propõe a fazer. Por ser mais leve e flertar com a comédia, meu núcleo é carregado de referências italianas, tão evidentes em bairros da cidade, como o Bixiga. Por ser de São Paulo e por ter origens italianas, é muito fácil e gostoso interpretar papéis desse tipo. É uma via de mão dupla: crio em cima de algo que eu conheço, mas não posso me deixar cair no óbvio. Então, é preciso concentração e equilíbrio.
OF: Na última década, você encarou papéis de destaque em três novelas assinadas pelo Walcyr Carrasco: Chocolate com Pimenta, Alma Gêmea e Caras & Bocas. O que o atrai no texto do autor?
FS: Conheço o Walcyr há mais de 30 anos e já trabalhamos juntos no teatro muitas vezes. Se ele me convida para fazer algo, é muito difícil eu dizer "não". Não só pela amizade, mas sim pelo nível dos personagens que ele confia a mim.
OF: – Sob o texto do Walcyr, você sempre flerta ou está diretamente ligado aos núcleos cômicos da trama. A possibilidade de se repetir o incomoda?
FS: Personagens de características semelhantes é algo que acompanha a carreira de qualquer ator. Mas a experiência me faz enxergar e evidenciar as diferenças entre os trabalhos. Denizard não chega a ser um tipo de comédia rasgada como era o Osvaldo de Alma Gêmea, por exemplo. Ele é engraçado naturalmente e não porque faz graça.
OF: Como assim?
FS: Assim como todo o núcleo dele, o personagem não tem uma estrutura cômica. O objetivo é ser o mais naturalista possível. O riso vem a partir das situações que aparecem no texto, como quando ele revelou que teve um caso com a Pilar (Susana Vieira) no passado. Inclusive, esse encontro entre as famílias, uma humilde e outra rica, é um recurso muito utilizado na teledramaturgia. E, dependendo do autor, rende possibilidades maravilhosas aos intérpretes. As cenas são bem divertidas.
OF: Você estreou na tevê em meados dos anos 1950 fazendo teleteatro na extinta Tupi. Ao longo dos anos, manteve-se fiel às novelas, embora estivesse cada vez mais ligado à cena teatral de São Paulo. O que a televisão representa na sua trajetória?
FS: A tevê é minha origem. Mas o teatro me deu estofo e jogo de cintura. Comecei como galã e fiquei nesse posto por um bom tempo. Eu precisava variar, experimentar, amadurecer como ator e encontrei isso nos palcos. A partir de um certo momento, o teatro começou a virar uma referência na minha carreira porque, modéstia à parte, fiz muito sucesso em espetáculos como Meno Male e Caixa 2. Mas nunca larguei os estdios e foquei apenas nos palcos. Sempre tentei conciliar, apesar do trabalho brutal que isso acarreta.
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