Geneton Moraes Neto produz o primeiro documentário da Globo News

Por - 28/01/13 às 10:00

Pedro Paulo Figueiredo/CZN

As aspirações profissionais de Geneton de Moraes Neto sempre se dividiram entre o cinema e o jornalismo. Agora, o pernambucano encontrou um jeito de unir suas duas principais paixões. A Globo News passa a investir também na produção de documentários. O primeiro, Garrafas ao Mar: A Víbora Manda Lembranças, foi idealizado pelo próprio Geneton e homenageia o jornalista Joel Silveira, ex-correspondente de guerra e considerado o maior repórter brasileiro, que morreu em 2007. Com estreia marcada para sábado, 2 de fevereiro, às 20h30, o filme reúne vídeos, fotografias e áudios de conversas dos dois e é feito em primeira pessoa.

"Contamos a história de uma convivência de 20 anos entre um repórter que um dia bateu na porta do Joel atrás de uma entrevista e acabou desenvolvendo com ele uma relação de mestre e aprendiz", adianta Geneton, que chegou a escrever dois livros com o tutor: Hitler / Stalin: O Pacto Maldito, que aborda os efeitos que a esquerda brasileira sofreu com o pacto de não-agressão assinado entre a Alemanha e a União Soviética nos anos 30, e Nitroglicerina Pura, uma reportagem sobre documentos confidenciais produzidos por governos estrangeiros a respeito do Brasil.

Foram 120 horas para editar o material bruto em 80 minutos, tempo que Garrafas ao Mar terá na grade da Globo News. Só de gravações de conversas entre os dois, Geneton calcula que tenha mais de 700 minutos em fitas K-7s. E o jornalista garante que, quando decidia gravar conversas com ele que algumas vezes nem seriam usadas em matérias –, não tinha planejado utilizar isso no futuro.

"Com o passar do tempo, até pensamos em um livro. Já tinha título: Conversas Com O Último Dinossauro, mas não aconteceu. Esse documentário é uma espécie de ajuste de contas comigo", conta Geneton. 

No documentário, os textos de Joel são interpretados por Othon Bastos e Carlos Vereza. Os dois foram escolhidos pelo próprio idealizador do projeto.

"Othon foi uma das estrelas do cinema novo, fez Deus e O Diabo na Terra do Sol. E Vereza ficou muito marcado na minha cabeça quando viveu Graciliano Ramos no cinema, personagem que era amigo do Joel. Tudo se conecta", justifica.

A narração do filme também traz uma surpresa. Como não queria um jornalista nessa função e não se considera um bom leitor de off, Geneton convidou o cantor Raimundo Fagner.

"Queria alguém que fosse mais natural. Nem repórter, nem artístico demais. E o Fagner trouxe um diferencial. Acho que vão ouvir e pensar: 'conheço essa voz de algum lugar'. Adorei o resultado", valoriza.

Geneton ainda não sabe se a Globo News deve lançar em DVD o documentário. Mas, como acredita que o jornalismo brasileiro empobreceu nas últimas décadas, já estuda uma forma de exibir para estudantes da área esse material.

"Estamos combinando um circuito universitário com o Globo Universidade. Espero que as novas gerações possam aprender algo de bom. É importante que se saiba que o Brasil já teve um jornalismo de altíssima qualidade", torce, em tom de crítica.

Para as próximas edições, Geneton – que parece ter ficado responsável pelo segmento de documentários do canal de notícias pago da Globo – ainda não tem certeza sobre o que pretende produzir. Mas tem um palpite de que, provavelmente, escolherá algo que tenha relação direta com o Nordeste brasileiro.

"Sempre evitei porque, no Rio de Janeiro e em São Paulo, cria-se uma ideia de que o Brasil puro, ingênuo, está lá. Mas não posso fingir que não sou nordestino. Passei mais de 20 anos ali", diz.

De qualquer forma, Geneton deseja seguir um caminho similar ao empregado na produção de Garrafas ao Mar: aproveitar seu próprio baú de memórias de trabalho.

"As pessoas não costumam guardar muito material bruto. Mas eu sempre separei o que de mais importante eu tinha. Hoje, posso reutilizar em outro formato, ritmo e também com um olhar diferente sobre esses assuntos", analisa.

  


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